A carta de Marcos e os homens que insistem em culpar as mulheres
O BBB acabou há pouco mais de uma semana, mas o caso de agressão e relacionamento abusivo que ocorreu dentro da casa ainda precisa ser discutido. Especialmente depois que hoje, Marcos Harter, participante que foi expulso do programa por agredir Emilly, com quem se relacionava dentro da casa, divulgou uma carta sobre assunto. Já falamos várias vezes aqui o quão problemática é uma situação de agressão e que precisamos entender que ela não é só física, que pode também verbal e psicológica – como as que ele cometia.
Em suma, a carta de Marcos enumera diversas situações em que se abre margem para culpar Emilly pelas agressões que sofreu e em momento algum ele assume que a agrediu. Eu assistia o BBB17 (inclusive, tinha ppv, como fazia em todas as outras edições) e Emilly não era lá minha participante favorita e tinha inúmeros defeitos mas, como mulher, me senti acuada quando Marcos a pressionou na parede, apontando o dedo e gritando em sua cara.
A carta de Marcos ilustra algo que a gente vê todos os dias: homens que agridem mulheres e, ao invés de assumirem seus erros, jogam em suas vítimas a culpa – especialmente quando elas denunciam os casos. A cada linha, ele está buscando nas atitudes de Emilly uma maneira de justifica a agressão, e isso não é legal. Quantas Emillys não passam por isso?
Em relacionamentos abusivos, vemos o gaslighting, uma forma de abuso psicológico em que o abusador usa de informações da vítima, omitindo as próprias, para fazer com que ela se sinta culpada por tê-lo denunciado e/ou terminado o relacionamento que havia entre os dois. É uma maneira de praticar violência emocional por parte da manipulação, fazendo com que todas as pessoas se esqueçam da agressão cometida e foquem no comportamento da vítima, levando a crer que ela mereceu ser agredida porque agia de maneira x ou y. Parece familiar?
Muitas vezes, as mulheres não percebem que estão sendo agredidas, não reconhecem que ser diminuída e acuada dentro de uma relacionamento vai muito além de algo físico (como já explicamos aqui). Quando ele te chama de louca, tenta de culpar o tempo todo pelas atitudes dele com frases como “olha o que você me fez fazer”, entre outras, ele está te agredindo. Assim como quando diz o que você tem que fazer ou não, quando te força a prestar atenção no que está falando, quando tenta jogar as pessoas contra você e outras inúmeras situações que são recorrentes em relacionamentos abusivos.
Além disso, ele pode usar, de uma forma muito egocêntrica e narcisista, o que considera como qualidade em si mesmo pra te diminuir. Quer exemplos? Quando é muito mais velho que você, usar a idade como artifício para dizer que está certo. Se é estudado e você não, usar seus diplomas para fazê-la se sentir burra e desinformada. Caso tenha viajado muito, dizer que conhece mais coisas que você para acabar com seu argumentos… São muitas as situações em que o agressor insiste em culpar a vítima usando de manipulação para fazer com que as pessoas acreditem nisso também.
O caso de Emilly e Marcos pode parecer distante por ter se passado em um programa de TV, mas olhe para o lado e veja que, com certeza, tem uma mulher próxima a você sendo ou se sentindo culpada por uma violência que, de forma alguma, é responsabilidade dela. Afinal, como já disse Robyn Fenty, “nunca duvide da capacidade de um homem fazer você se sentir culpada pelos erros dele” – mesmo que existam inúmeras gravações e que todos eles tenham passado em rede nacional no horário nobre da televisão.
O número da Central de Atendimento à Mulher é 180 e funciona em todo o Brasil, eles auxiliam mulheres em situação de violência 24 horas por dia. O próximo passo é procurar uma Delegacia da Mulher ou Delegacia de Defesa da Mulher na sua cidade.