Childfree: a polêmica dos estabelecimentos com restrições a crianças

“O verdadeiro caráter de uma sociedade é revelado pela forma como ela trata suas crianças.”
É com a frase de Nelson Mandela, um dos grandes pensadores de nossa época, que o médico Daniel Becker abre seu TEDx, de nome “Crianças, já para fora!”. A palestra, de junho de 2015, vai de encontro com um um tema bastante atual: a polêmica dos estabelecimentos childfree ou “livre de crianças” em sua tradução literal.
A jornalista Carol Patrocínio já falou sobre o termo em seu texto: Na internet virou cool odiar crianças. O que deu errado na nossa sociedade? (você ler na íntegra aqui).
“Começou como um movimento que pretendia questionar a obrigação social de ter filhos que é imposta a todas as pessoas. No Brasil (não sei como é no resto do mundo), o movimento foi se modificando e hoje fala sobre não gostar de crianças, como se isso fosse uma coisa normal e aceitável — imagina falar que não gosta de pessoas negras ou com deficiência? A descrição da página Somos Childfree, desde 2015 no Facebook e que hoje une mais de 91 mil pessoas, é: “Página CHILDFREE pra quem NÃO quer ter filhos E/OU não curte bebês e nem crianças. Sejam bem-vindos!”. “Não curte bebês e nem crianças”. Não curte um grupo específico de PESSOAS.”
Quando um restaurante ou hotel se diz childfree significa que o local rejeita a entrada de crianças, muitas vezes em respeito à tranquilidade dos demais clientes. O debate voltou a ganhar força depois que a internauta Debora Oliveira publicou uma foto da placa do restaurante Underdog, em São Paulo.
Se fizermos um recorte para analisar as crianças mais pobres do país, seguindo a teoria de Mandela nós temos um péssimo caráter. Muitas delas sequer têm direitos básicos como saúde, educação, moradia e na maioria dos casos, são expostas à violência desde pequenas. Por outro lado, segundo Daniel, até as crianças mais privilegiadas são maltratadas pela sociedade.
Na palestra, ele fala sobre “os sete pecados capitais contra a infância” e como os pais podem fazer para melhorar a convivência dos filhos em sociedade. Apesar de os problemas passarem por diferentes questões como parto, amamentação e até passeios ao shopping, em síntese, o médico reforça que as crianças de hoje em dia precisam de mais presença e precisam desesperadamente ser compreendidas e isso vale tanto para os pais quanto para os estabelecimentos.
Opiniões das mães sobre o Childfree
A Carina e a Camila tiveram que voltar a trabalhar antes de terminar a licença maternidade. Apesar de eu só ter conversado com duas mães, essa é a realidade da maioria das mulheres no Brasil. As duas tiveram muito apoio das avós, mas também é sabido que nem todo mundo tem esse suporte.
A Manoela, filha da Carina, hoje com 20 anos, era uma criança esperta, mas bem levada. Em casa, seu esporte preferido era escalar as estantes e ela era o terror das lojas de decoração. A solução que Carina encontrou para inserir a Manu em sociedade foi seguir os conselhos do pediatra e respeitar os limites da criança. “A criança sente o frio do ar-condicionado, ouve muito o barulho. E na verdade, se a criança tá chorando tanto assim é que ela queria estar em outro lugar”, afirma.
Já a Ana Clara nunca deu muito trabalho para a Camila. Mesmo assim, ela tentava adaptar os programas de acordo com as necessidades da Ana. Quando foram para a Disney, ela fez o roteiro fora da agência e decidiu ir aos parques dia sim, dia não. Outra família que estava no mesmo hotel, se programou para ir aos parques todos os dias da viagem. A criança? Reclamou de cansaço.
As mães concordam que o bom senso deve ser um grande medidor na hora de decidir os locais adequados para os filhos. “A grande questão é que as pessoas sempre julgam: se você está em uma festa com som alto com o bebê, te acham relaxada. Se você não vai à festa por causa do bebê, te acham superprotetora e fresca. Então, o negócio é fazer o que você acha certo e ponto final”, disse Camila. Já sobre os lugares em que há mesmo a restrição de childfree, a Carina acha que tem que respeitar as regras do lugar.
Segundo o doutor Daniel, é importante dar limites, mas os pais devem fugir da superproteção: “A gente sabe que a importância dos limites e do ‘não’ são formas fundamentais de amor, que a gente precisa dar pros nossos filhos e a gente está perdendo essa oportunidade. Ao invés disso, a gente faz o que os americanos chama de “helicopter parenting“. A gente se interpõe entre a experiência dos filhos e o mundo, fazendo com que eles justamente não tenham experiência da vida e não tenham mecanismos de lidar com a frustração, dor, dificuldades e certamente a vida vai entregar para eles mais tarde”.
Você pode ver a palestra na íntegra logo abaixo:
Imagem: Instagram
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