Intensidade é o sobrenome dela
Ela, uma amiga que também ama escrever, fez um desabafo, com palavras tão verdadeiras, profundas e fortes, sobre como somos partes: “Tantas histórias… Ninguém é por inteiro… São meias verdades, meios amores, meia culpa, meia hipocrisia…”. Como mulher e escritora (amadora), não tinha como ler aquelas palavras, jóias, sem sentir alguma inspiração. Porque quem escreve é assim mesmo. Vê prosa, resenha e poesia em tudo: no dia a dia, em si mesmo, na literatura alheia, nas histórias conhecidas e anônimas, nos desejos livres e reprimidos, até na falta de inspiração encontramos sobre o que escrever (leia mais aqui).
Escrever é terapia, pra quem escreve e pra quem lê. E ela, dizendo aquelas palavras, me despertou essas frações de sentimentos, misturados com inspiração. Essa coisa terapêutica, metafórica, genérica, que gera essa identificação imediata: metades, frações, partes de um todo inatingível. Identificação imediata! Logo eu, que detesto meias. Em mim, nos outros, nos pés, no coração, no copo, na vida.
Dormir de meias é quase uma contravenção! Nem preciso falar sobre quem transar de meias, né? Mas nessa de meias ou metades, ela já não sabe mais se é meio ou inteiro, parte disso, com pedaços daquilo. Não sabe se perdeu partes suas, remendando com as de outros; se falta ou se sobra. Porque ela é um misto do ácido com doce. Ácida nas palavras, doce nos gestos. Racionalmente ácida, mas emocionalmente doce.
Às vezes, vai deitar com aquele amargor na boca, das palavras duras que teve que engolir, quase sufocada. Ou então, acorda com aquele gosto salgado, pelas lágrimas que dividiu com seu travesseiro durante a noite. Frequentemente, é esse seu maior confidente, onde ela recosta sua consciência, nem sempre tranquila. Acontece! Ela é humana.
Ela é Humana! Tem sangue quente, é calorosa! Sai de short nos dias mais frios. Mas precisa tanto de abraços apertados e beijos ferventes, pra aquecer seu coração, que tem se sentido gelado, sem emoções e sentimentos verdadeiros, inteiros. Ela tem aquele perfume só dela, floral, com fundo fresco. E exala também, em cada centímetro, o aroma de pele, de hormônio, do suor que escorre, depois do treino pesado, da dança, da corrida. Porque ela é intensa, que sai pelos poros!
Ela é independente, é dos negócios, da arte, dona de casa e DONA DA CASA! É forte, leva o mundo nas costas. Mas não sabe trocar resistência do chuveiro, que queimou de novo – tomou banho frio -, nem consegue abrir aquele vidro de palmito, feito com trava anti mulher! Ela é tagarela, mas hoje está meio calada, falando pouco. Prefere dialogar internamente, sua forma de ter toda a razão! Às vezes, fala sozinha, praguejando sem nem saber o porquê.
Ela é sorriso aberto, largo, de boca inteira, mesmo quando tá meia boca. Nesses dias, esquece a dieta rigorosa e mergulha no brigadeiro. Ela é luz nos dias mais escuros. Sua presença clareia até as mais obscuras idéias. Mas se fecha nas sombras de sua própria alma, misteriosa, fascinante.
Ela quer sexo ardente, com pegada, sem compromisso, sujo e sem pudores. Daquele tipo, sem frescura, que enlouquece, liberta. Mas isso é meio imoral! E também adora abraçar, acarinhar e dormir junto. Mas isso é muito romântico, meloso!
Ela usa saia curta e salto 15, fino e deslumbrante, pra ter do que reclamar, quando os pés doerem. Aí, vai querer estar descalça, de moletom velho, sentada no chão, sem qualquer finesse ou elegância.
Ama elogios, mesmo sem admitir. Gosta que a olhem com admiração. Por isso, está sempre maquiada, cuida do corpo. Mas quer mesmo que arranquem essa máscara e a amem por sua essência, a admirem pela inteligência, se apaixonem por sua cara lavada ao acordar.
Sorri diante dos problemas, fala palavrões e chora assistindo filmes de cachorro. Adora estar conectada, mas o Facebook anda chato, o Instagram tá sempre igual e o Whatsapp não pra! Vontade de se desligar (leia mais aqui).
Quer mudar o mundo, plantar uma árvore, escrever um livro, viajar, ganhar um prêmio, conhecer o amor da vida e constituir sua família. Mas hoje ta muito cansada e vai ficar só na maratona de séries mesmo.
Misturas, metades, partes opostas. Tantos fragmentos distintos, peças que se encaixam PERFEITAMENTE e formam uma imagem singular. Se a quebrar, nunca mais a remonta igual.
Não sabe bem o que quer, mas já descobriu o que não quer mais! São certezas cheias de dúvidas e dúvidas tão certas.
Ela é inteira quente ou toda frieza. Morno não serve!
E é essa dualidade tão feminina, essa inconstância, essa quase bipolaridade, que fazem dela única. Esse quebra cabeça quase indecifrável.
Porque ela é dessas, é daquelas e de outras também; de tudo, de todos e de ninguém.
É ela, só ela e só dela!
E você? É qual?
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