‘Estou de saco cheio de fazer dieta’: 3 desabafos de quem se libertou disso!
Eu tenho contato diário com mulheres que ficaram de saco cheio de fazer dieta e estão se libertando dessa cultura, da armadilha da compulsão alimentar e desenvolvendo uma relação saudável com a comida e com o corpo.
(Meninas, esse texto é pra vocês!)
Elas descobrem um mundo novo, leve e livre, onde a comida é só comida, fonte de energia, saúde e prazer, e não mais o centro das preocupações. Tudo lindo… até ter que conciliar as maravilhosas descobertas da alimentação consciente e intuitiva com o mundo gordofóbico, obcecado por comida, dietas e aparência que elas dividem com amigos, família, colegas, conhecidos, profissionais e até mesmo pessoas desconhecidas extremamente preocupadas com a saúde (aham…) delas.
Eu entendo a dor e o desespero das pessoas que ainda estão presas na mentalidade de dietas. Eu sei que a preocupação não é a farinha branca e o açúcar, mas o pânico de engordar e o medo da rejeição. E eu sei que pais e amigas só querem o bem e por isso ficam cuidando do corpo e da alimentação das outras pessoas, mas, por favor, parem com isso, vocês não estão ajudando. Parem de falar em dieta, cardápio, alimentos proibidos e permitidos com quem não quer mais saber disso. Parem de impor seus medos a quem está lidando com os próprios medos. Eu sei que sua intenção é boa, mas PARE.
Aqui estão as maiores reclamações de quem está de saco cheio de fazer dieta. Essas pessoas que estão se libertando e precisam conviver com pessoas que insistem em falar de peso e alimentação – e algumas sugestões minhas pra lidar com isso.
Ah, os itens são uma reunião do que eu ouço atualmente e da minha própria experiência. Apesar de usar a primeira pessoa pra falar de cada situação, não é mais a Lígia Fabreti falando aqui. Nas próximas linhas, a voz é de toda mulher que já se sentiu profundamente constrangida por causa do corpo ou alimentação.
Se você está de saco cheio de fazer dieta leia isso:
1. Eu tenho transtorno alimentar!
Eu achava que estar o tempo todo preocupada com o que eu como fosse normal, mas eu descobri que tenho um transtorno alimentar e é muito difícil lidar com isso. Eu não tenho escolha, eu preciso comer e a cada refeição (ou seja, pelo menos 3x por dia todos os dias), eu sofro muito. Às vezes eu queria que comida não existisse pra eu não precisar decidir o que comer, sentir culpa pelo que comi e lidar com os desejos que eu não queria ter.
Não tem nada a ver com “força de vontade e fechar a boca”, eu já fiz isso milhares de vezes, só conseguia pensar em comida e no que não podia comer e o único resultado foi episódios horríveis de compulsão alimentar que fizeram eu me odiar e me sentir a pessoa mais fracassada do mundo.
Se você ainda não sabe, restrição alimentar causa compulsão e compulsão é uma forma muito, muito, muito agressiva de machucar o corpo que eu não quero mais pra mim e por isso eu estou trabalhando com uma profissional (ou sozinha) para normalizar minha relação com meu corpo e alimentação.
Transtorno alimentar não se resume a bulimia e anorexia e não dá pra saber se uma pessoa tem só de olhar para o corpo e o peso dela.
Você sabia que um dos maiores gatilhos da compulsão, além da restrição, é a mentalidade de dietas? A mentalidade de dietas são os pensamentos e hábitos com o intuito de controlar a ingestão alimentar e o tamanho do corpo. Então, quando você faz comentários sobre meu corpo que me deixam envergonhada e ansiosa, quando me diz que devo perder peso ou que não devo comer alguma coisa, você está ativamente piorando meu transtorno alimentar.
Para curar um transtorno alimentar é preciso reaprender a honrar os sinais de fome e saciedade, parar de categorizar os alimentos em proibidos e permitidos, e desenvolver habilidades para lidar com as emoções sem usar a comida.
Por favor, pare de julgar minhas escolhas alimentares e minha aparência. Nós podemos conversar sobre cinema, viagens, política, espiritualidade, desenvolvimento pessoal, futebol, educação ou qualquer outra coisa que você quiser. Que tal?
2. Sua preocupação com a minha saúde me machuca
Pode parecer novidade pra você isso, mas você não sabe como está minha saúde só de olhar pra mim. Não é legal supor ou tentar insinuar que eu não sou saudável por causa do meu peso. Você sabia que muita gente que se encaixa na definição cultural de “peso saudável” mas que fazem coisas nada saudáveis pra conseguir se manter assim?
Quando você faz suposições sobre a minha saúde com base no tamanho do meu corpo, você não está preocupada comigo ou cuidando de mim, você está projetando seus próprios medos e preconceitos em mim. E isso me machuca. Eu adoraria que você se preocupasse com a minha saúde de uma forma integral: física, mental e emocionalmente, mas mais do que isso, eu queria que você me amasse do jeito que eu sou. Dentro desse corpo que te incomoda, tem uma mulher que quer ser vista, amada e reconhecida, que é mais do que quilos em um corpo.
Pode ser que meu peso seja maior do que eu gostaria, mas essa não é minha maior preocupação no momento. Eu estou buscando um relacionamento saudável com a comida, ser fisicamente ativa e cuidar bem de mim porque hoje eu acredito que assim eu vou me amar e talvez meu peso mude como resultado desses novos comportamentos.
Se eu escolher falar sobre a minha saúde com você, nós podemos falar de práticas sustentáveis, com propósito de nos conectar mais e fortalecer nosso relacionamento. Nós podemos sair pra caminhar juntas, por exemplo. Ou você pode ler alguns materiais atualizados que falam da relação entre peso e saúde física e emocional.
Se você não concordar com nada disso, eu te entendo. Já fico aliviada de você ter lido até aqui e agora saber como me sinto. Independente do meu peso e saúde, eu espero respeito e isso inclui o direito de fazer minhas próprias decisões em relação ao meu corpo.
3. Eu não quero que as maiores preocupações da minha vida sejam corpo e comida
Talvez você esteja pensando nas fotos de antes e depois, nas pessoas “que chegam lá”, que tem “força de vontade, foco, fé, força”, que “estão dispostas a pagar o preço”, que tem “mente magra”, que “se reeducaram”. Ou por você pensar e falar tanto de dieta, talvez pense que finalmente encontrou A resposta.
Mas a menos que seja sua primeira dieta, você já sabe como funciona. Eu já passei por isso milhares de vezes.
É tão, tão, tão bom quando o peso diminui, a gente se sente tão forte, segura, confiante, otimista, recebe vários elogios, tem a sensação de que tudo está sob controle e agora a vida vai mudar de verdade. Eu confesso que sinto inveja quando vejo outras mulheres perdendo peso porque na nossa cultura essa sensação é maravilhosa mesmo. Mas você sabe como é forte a sensação de vergonha quando o peso começa a voltar e ninguém diz nada?
Eu sei. Depois de tantas tentativas, eu decidi me valorizar independente do tamanho do meu corpo.
Quero usar roupas estilosas, quero recuperar meu interesse em música, quero me exercitar e dançar sem me preocupar com meu peso, quero ler mais, viajar mais, quero entender um pouco mais sobre arte, quero fazer minha parte em tornar o mundo um lugar melhor. Quero me conectar de verdade com pessoas boas sem me preocupar com a balança.
E, não adianta, quando eu faço dieta, meu foco, meu tempo e minha sanidade são seriamente comprometidos pelos pensamentos com comida, com o que eu posso, não posso, devo e quero comer.
Essa vida não dá mais pra mim. Quero VIDA, não dieta.
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Agora é a Lígia Fabreti aqui falando de novo. Eu sei que esse texto foi meio pesado. Até me emocionei escrevendo. Eu percorri uma longa jornada pra me libertar da mentalidade de dieta e fazer as pazes com meu corpo e alimentação. Mas como resultado dessa jornada, eu vivo minha vida como jamais imaginei, com muito mais plenitude, riqueza, amor e felicidade. Muito mais do que o resultado de qualquer dieta que eu fiz. Meus sonhos não estão mais esperando eu pesar um número X pra sair do papel, eu estou vivendo e buscando cada um deles.
Eu amo dizer alta e claramente que transtorno alimentar tem cura sim e eu espero que você também encontre sua paz! E se você está realmente de saco cheio de fazer dieta, marque uma conversa comigo!