6 coisas que a segunda temporada de 13 Reasons Why precisa fazer certo

Confesso que não tinha planos de falar sobre a segunda temporada de 13 Reasons Why até ver uma chamada no Bustle falando sobre o que eles esperavam para os próximos episódios. Honestamente, a série me causou um impacto tão grande que virou uma relação de amor e ódio e eu não tenho certeza se quero mais de uma trama que me deixou tão abalada emocionalmente.
Ainda assim, eu sou muito otimista e espero, de coração, que a segunda temporada de 13 Reasons Why corrija algumas coisas que, na minha concepção (e do Bustle), ela errou na primeira. Falar sobre ‘certo’ e ‘errado’ a respeito de um produto de mídia que fala tão abertamente de um assunto importante é complicado – a gente precisa, mesmo, acabar com o tabu em torno do suicídio e da violência sexual – e a série tem o seu ponto válido de fazer as pessoas pensarem sobre como tratam umas às outras.
Porém, essa criação da Netflix dividiu opiniões e deixou muitos profissionais da saúde mental e da educação preocupados com como os jovens interpretariam as ações da Hannah. A segunda temporada de 13 Reasons Why estreia apenas em 2018 com mais 13 episódios, e a gente só pode torcer para que algumas coisas mudem, por exemplo:
1.Mais recursos para quem vê e precisa de ajuda
A Netflix colocou mais avisos de gatilho na série depois que os espectadores pediram por isso – antes existam alguns avisos mais genéricos antes dos episódios mais pesados. Mas o que uma série tão pesada como essa precisa mesmo é de avisos antes de TODOS os episódios. Cenas gráficas não são as únicas que precisam de um alerta. Além disso, colocar telefones de centrais de ajuda, como o CVV (disque 141), em todos os episódios é imprescindível para quem precisa de ajuda – é muita ingenuidade esperar que todo mundo veja um episódio especial DEPOIS da série para buscar a ajuda que precisa. O comprometimento em ajudar adolescentes (e adultos também) com pensamentos suicidas não deve existir só quando as câmeras param de rodar.
2.Adultos que se esforcem para ajudar
Uma das coisas mais frustrantes, e que a gente espera mesmo que mude na segunda temporada de 13 Reasons Why, foi a falta de pró-atividade dos adultos. Sim, a mãe do Clay tentou ao máximo ser ‘dura’ e pedir uma resposta e o conselheiro se dispôs a conversar com a Hannah, mas o quanto esses adultos DE FATO se envolveram na vida desses jovens? Não podemos apenas ter adultos que mostrem preocupação quando as coisas estão escalonando de mal a pior ou exemplos de descaso total o tempo inteiro (como os pais da Hannah). É preciso mostrar que os adultos não são os vilões da história, aqueles que ‘nunca entendem’ o que acontece com os jovens. Isso cria distância e alienação e diz para os mais novos que eles não podem contar com essa ajuda. Isso não é verdade.
3.Jovens se ajudando
Um dos pontos que mais pegou para mim é como esses jovens não se ajudavam de jeito nenhum. Eles estavam sempre competindo, sempre brigando, sempre tentando ver quem conseguia tirar o seu da reta. O ensino médio (e a escola como um todo) pode ser um saco mesmo, mas existem sempre amizades que nos ajudam a continuar em frente. Foi com a ajuda delas que eu consegui superar alguns dos momentos mais difíceis da minha vida escolar e ver um grupo de pessoas sem um mínimo de empatia me deixou sem chão. A vida não é assim.
4.Outras perspectivas da história
A Netflix já confirmou que a segunda temporada de 13 Reasons Why não vai ser sob a perspectiva da Hannah, o narrador será outro, apesar de a jovem continuar fazendo parte da história e o foco ser a sua vida e morte. Por mais que seja incrível que ela seja dona da própria narrativa, será muito interessante ver a forma como as outras pessoas enxergavam a protagonista. Além disso, tira um pouco essa ideia de que a Hannah era a dona da verdade e de que todas as outras pessoas do mundo estavam contra ela.
5.Que a justiça esteja onde deve estar
É complicado um adolescente de 17 anos querer fazer justiça pela amiga que se matou. Na ficção isso pode funcionar bem. Na vida real, o número de pessoas que não pede ajuda por não confiar nos órgãos públicos e vive com feridas que nunca cicatrizam é enorme e elas não tem essa mesma disposição. Eu entendo que refletir a realidade e mostrar casos de impunidade em situações de abuso sexual é comum na realidade, mas fazer uma trama em que Bryce recebe a punição que merece pelos crimes que cometeu porque as mulheres que sofreram tiveram coragem de falar a respeito seria uma forma de encorajar esse mesmo comportamento fora das telas. Infelizmente, a única forma que podemos pedir por mudanças é falando sobre o que está errado e lutar, com paciência, para que um sistema tão defeituoso melhore.
6.Por fim, um pouco de esperança
Muitos aspectos dessa série mexeram comigo o suficiente para eu perder o sono por algumas noites, mas nada foi tão pesado quanto terminar a série sem um pingo de esperança de que as cosias podem melhorar. Eu entendo a vontade dos produtores, roteiristas e diretores de fazerem uma série impactante e que mostre a realidade das coisas – pela visão da Hannah, não havia muita esperança mesmo. Mas me partiu o coração a série chegar ao fim sem nenhum sinal de que as coisas podem melhorar para qualquer pessoa dentro da história. Para todos ali, o destino é viver com a culpa de ter induzido alguém a se matar, mesmo aqueles que não fizeram nada. Não impota de onde venha essa esperança ou como ela se apresenta, mas mostrar que de alguma forma as coisas melhoram depois da escola, que a vida tem a sua beleza e que vale a pena viver é importante para pessoas que se sentem e pensam como a Hannah sentiu e pensou um dia. A história não precisa ter um final feliz digno de Hollywood, mas ela podia, no mínimo, mostrar que existem outros caminhos que não o suicídio (ou a automutilação) para lidar com o sofrimento e a depressão.
Enfim, só posso esperar que a segunda temporada de 13 Reasons Why siga incentivando discussões importantes sobre a saúde mental dos jovens e a epidemia do suicídio no mundo, mas que, acima de tudo, ela use de um pouco mais de carinho para lidar com uma temática que, por si só, já é destruidora.
Imagem: Reprodução / Netflix