500 Dias com Ela: você é a Summer de alguém?
Pensamentos de gratidão pelo parceiro? quando a relação unilateral já te sufoca, chegou a hora de terminar .
Após passar muito tempo solteira, logo depois de terminar uma relação intensa, embora complicada, você decide sair com alguém, pois afinal de contas você merece, certo?
Você começa a sair com um rapaz que parece ser perfeito, te trata bem e, muito mais do que isso, eleva a sua autoestima, te apresenta à família dele, parece ter muita admiração por você e todo mundo te diz que ele é muito fofo e admiram essa relação.
No filme 500 Dias com Ela/500 Days of Summer, lançado em novembro de 2009, nós conhecemos a história de Tom (Joseph Gordon-Levitt) e Summer (Zooey Deschanel), sob o ponto de vista dele. Logo no início, já ficamos sabendo que o namoro terminou e que não se trata de uma comédia romântica. O Tom não está aceitando o fim da relação já que segundo ele, foi pego de surpresa.
O filme apresenta de forma não linear, a dinâmica do relacionamento dos dois desde o primeiro contato até o momento do luto pós-término. Na perspectiva inicial, já sabemos que os dois possuem maneiras diferentes de pensar, ele acredita no amor, pois sua vida até então o levou a pensar dessa forma, já ela não acredita, uma vez que os seus pais se separaram e provavelmente já teve relações que terminaram mal, a experiência de vida dos dois os levaram a uma inevitável distância emocional.
No decorrer do longa, somos colocados a olhar sobre a perspectiva do Tom, ter empatia sobre a sua situação, comprar o seu sofrimento, de tal forma que somos levados a pensar em como a Summer foi cretina com ele. No entanto, ao rever esse filme, podemos perceber que a personagem sempre mandou sinais de que não tinha o mesmo objetivo que ele, foi ele, apenas ele que fantasiou tudo sobre ela.
O Tom se vê como alguém que foi usado e descartado sem o menor aviso, entretanto, nós nem sabemos de fato como era a personagem feminina desse filme, pois tudo que é apresentado sobre ela é uma projeção do que ele quer em uma mulher.
Assim que a Summer termina com ele, dá para sentir que a relação não era recíproca, tudo era uma entrega dele, uma projeção dele. Grande parte das pessoas que assistem a esse filme conhecem apenas a perspectiva do Tom, e se questionam o motivo de alguém chegar a terminar com uma pessoa assim? que se entrega à relação, que faz tudo por ela, planeja um futuro para os dois e a coloca sempre em “primeiro lugar” na vida dele?
Há três anos comecei um namoro, aceitei o pedido porque já o “conhecia” do trabalho e o achava gente boa, bonito e esperto, então de alguma maneira eu achei que iria corresponder aos sentimentos dele uma hora ou outra. Não bebia, não fumava e gostava das mesmas coisas que eu naquele momento, hábitos esses que eu queria evitar, perfeito, certo?
Pois bem, conforme íamos nos conhecendo, as nossas visões de mundo convergiam mais e mais, ele era “a” e eu era “b”. Assim, levamos durante anos, em meio a muitas e muitas declarações e “eu te amo” que eu nunca consegui retribuir porque de fato não o amava. Sentia um carinho, uma intimidade e gostava dele de certa forma, mas não o amava e por isso me recusava a falar uma coisa tão forte de forma tão leviana, mas na minha cabeça chegaria o momento que o sentimento iria mudar e eu iria poder retribuir.
Em diversas situações ele me ajudava e eu o ajudava também, como quando ele passou um grande período desempregado ou quando um dos dois ficava doente. A essa altura, eu já pensava em terminar, porque já estava me sentindo muito mal em estar na relação pela metade, uma vez que já tinha se passado dois anos e o meu sentimento só diminuía.
“Por que não conseguia amá-lo da mesma forma, se ele era tão bom para mim?”
Então passei a procurar pessoas em situação semelhante à minha na internet e por incrível que pareça existiam inúmeros relatos de mulheres que se sentiam presas em uma eterna gratidão, de forma que não conseguiam sair da relação. Esse é um comportamento tão comum, mas tão sutil que termina por ser menos comentado socialmente.
Ele te ama demais
Uma característica comum é que geralmente essas pessoas são vistas como vítimas, como é o caso dos personagens Tom Hansem e Ted Mosby (How I Met Your Mother). Através das atitudes desses personagens podemos perceber mais de perto, a forma que eles idealizam as mulheres que entram em suas vidas, projetando qualidades que eles querem que elas tenham e ignorando completamente as suas particularidades.
Era nesse tipo de relação que eu estava presa, mas quando eu deveria ter notado? No momento que ele rapidamente me pediu em namoro (me deixando acuada ao recusar), quando ele disse que já me observava desde o nosso antigo trabalho e descrevia isso sempre que estávamos sem assunto? Quando ele me disse eu te amo em menos de dois meses de namoro? Quando ele nunca me dizia o que realmente estava sentindo? Ou quando ele me fez deixar de discutir assuntos que eu gostava de comentar porque, segundo ele, causava brigas e atritos? Talvez tenha sido nos momentos em que ele falava que eu era tudo para ele, mesmo mediante a não reciprocidade das palavras (especialmente quando o espectro do término estava rodando).
Mantive o relacionamento durante pouco mais de três anos, já que às vezes nós éramos felizes e, em certo ponto ele era a coisa mais parecida com um melhor amigo que eu tinha (ele se fazia presente, sempre buscava me ajudar com coisas simples). No entanto, eu pensava nisso durante boa parte do tempo, me imaginava livre de novo, me imaginava conhecendo outras pessoas e sempre que as nossas mães ou mesmo ele falava sobre casamento e construção de uma família eu já me sentia perdida em um futuro que estava sendo traçado, sobretudo, pela minha omissão e comodismo.
Nesse período, eu já estava mal comigo mesma, não me reconhecia, não me sentia orgulhosa das coisas que eu conseguia, tinha a sensação de estar enganado-o de certa forma, mas por que não conseguia sair daquilo?
“Ele ficaria muito mal com o término, e eu teria que começar tudo do zero”.
No entanto, cheguei ao ponto de adoecer, ficar apática e letárgica em qualquer atividade que eu fazia, precisava pensar em mim, não podia mais adiar a decisão. Terminei, ele pareceu entender e estar bem na medida do possível, tirei um peso das costas e uma lição: nunca entrar em nada pela metade.
Essa experiência me fez entender as Summer’s, já que não podemos definitivamente escolher por quem vamos nos apaixonar, então mesmo que isso doa em alguém e que nos coloquem como babacas e cretinas por terminar com uma “pessoa tão boa”, é um decisão que precisamos fazer, a vida continuará girando e em algum momento nós iremos nos apaixonar de novo ou talvez não, quem sabe?
No final do longa, o Tom descobre que a Summer se casará em breve e para ele é difícil entender o motivo de não ser ele quem ela ama afinal, eles se divertiam, se davam bem, gostavam das mesmas coisas e passaram um tempo considerável juntos, então porque não ele?
Nessa passagem, está um dos diálogos mais atemporais do filme e que se encaixam em inúmeros relacionamentos:
Tom: Eu nunca vou entender. Como que alguém não queria nem ser namorada, agora é esposa de alguém.
Summer: Eu só acordei um dia e soube.
Tom: Soube o que?
Summer: O que eu nunca tive certeza com você.
Acredito que todos estamos suscetíveis a ser um Tom, colocando muitas expectativas em cima de alguém e de certa forma projetando um idealização de pessoa perfeita, assim como também poderíamos ser a Summer, alguém que não quer compromisso no momento, pois se decepcionou com o amor e deixa isso claro desde o início, eventualmente, como o filme retratou, encontrou a sua pessoa.
Imagem: Reprodução / 500 Dias Com Ela