A delícia de aceitar nossa própria essência
Muitas de nós crescemos tendo que abafar quem verdadeiramente somos pra podermos nos inserir na sociedade. O que não nos dizem é que, por mais que seja um doloroso, é bem melhor sermos nós mesmas e, se acontecer de não nos encaixarmos nos padrões da sociedade que vivemos, não tem problema. O mais legal é nos encaixarmos em nós mesmas e gostarmos disso.
O processo pra gente enxergar nossa própria beleza, e não me refiro exclusivamente à beleza física [eis aqui um espaço pra você imaginar uma placa vermelha com luzes piscando com um aviso “beleza física é relativa”], mas nossa beleza como um todo, pode ser muito lento, quase imperceptível. Trará dores, cansaço, e muitas outras coisas, mas é lindo, é libertador (leia mais aqui).
Somos, muitas vezes, impulsionadas ao auto ódio – principalmente mulheres negras e gordas. Eu, como mulher negra, apesar da pele mais clara, cresci ouvindo essas ladainhas de que o meu nariz era horrível, que meu beiço era de mula. Tenho os cabelos de uma cor que flutua entre louro escuro e castanho claro. Nasci, e até uma certa idade, fui uma criança de pele bem clara, intitulada como parda, ou amarela, com os cabelos lourinhos e ondulados.
Conforme fui crescendo, ouvia coisas do tipo “quando era pequena era tão bonitinha, agora parece uma macaquinha”, no lugar de “macaquinha” também já usaram muito “neguinha” em tom pejorativo, obviamente.
Criticavam muito também a minha personalidade, diziam que eu era muito nervosinha. E eu comecei a implodir esse meu jeito, até passar a ser chamada de “sonsa. Me tornei uma criança tímida, tinha receio de me expressar, de me impor nos ambientes, longe da minha própria essência. E assim fui crescendo. Meio omissa, meio inibida, engessada, amedrontada (leia mais aqui).
Mas hoje eu sou bem diferente. Eu sou eu, ainda em construção e reconstrução, sempre em mudança, que prefiro chamar de “evolução”, de mim mesma para eu mesma. Não sei quando isso começou, talvez eu saiba inconscientemente. Só sei que isso só me faz bem.
Só que comecei a perceber que isso não estava fazendo bem somente pra mim mesma, mas também pras pessoas que convivem comigo, que estão comigo no meu cotidiano. Porque é uma sensação muito boa a de você se sentir bem consigo mesma. É ótimo se olhar no espelho e dizer “Caraca! Meus olhos são lindos demais.” “Não vejo a hora de tirar esse aparelho, mas mesmo com ele, meu sorriso é foda!”. Além disso, é muito bom você ser você em personalidade, ouvir alguém dizendo que você ri alto demais e responder “Sim, eu rio alto demais mesmo, eu sou assim.”, onde quer que esteja.
Tenho uma amiga no trabalho, que eu adoro e admiro absurdamente, e que vejo até um pouco de mim nela, por ter um jeito meio estranho de demonstrar afeto. Pois é, nem sempre serei carinhosa, mas a Lana dificilmente será, acredite. Dia desses, Lana me disse que precisava me dizer algo. E meio sem jeito me disse que adorava meu humor, que eu alegro as pessoas, e que gostava muito do meu jeito. Na hora eu fiquei constrangida e sem saber o que dizer – e lisonjeada, óbvio. Mas aquilo confortou muito meu coração. Não pelos elogios, mas porque Lana disse que gosta da minha essência, daquilo que eu sou.
Temos que nos aceitar. Você é daquelas que, assim como eu, se estiver com vontade de dançar, não importa se está num ponto de ônibus ou esperando o sinal fechar pra atravessar a rua, você vai dançar? Então dancemos, isso é tão legal. Mas, se ao contrário disso, você é daquelas que adora vestido até o meio da canela em tom pastel e sempre escolhe o banco do canto e nunca faz nada que chame atenção pra você? Se você é assim, continue sendo. Não mude porque alguém criticou o seu jeito de ser.
“Seja você mesmo que seja estranho. Seja você mesmo que seja bizarro…” Já dizia Pitty alguns anos atrás. Quem gosta da gente, gosta de nós do jeito que somos, mas o mais fundamental disso, é a essência de nós realmente amarmos de quem nós somos.
Imagem: Pinterest