Abandone o piloto automático
Sentada em um bistrô francês charmosérrimo em Copacabana, um dia após o thanksgiving, percebo que é a primeira vez que consigo parar sem fazer absolutamente nada em MESES.
Que ano! Quando todos pensávamos que em quarentena íamos ter tempo ocioso de sobra, para todos com quem converso, foi o ano que mais se trabalhou, quase que sem descanso. Depois de dez livros publicados, aquele descanso era mais que merecido.
Os dias da semana se entranharam nos finais de semana, os offices invadiram os homes, e todos andamos trabalhando mais horas que o antigo – não mais existente – normal.
Aguardo por meus ovos benedict e minha cerveja gelada, louca não apenas para matar minha sede e fome, mas também para tirar minha máscara sobre o pretexto de comer #pandemiaFeelings.
No som ambiente, jazz natalino. Atrás de mim uma árvore de natal e ao meu lado um balcão com tartelete de morango e pães feito a mão com fermentação selvagem. Todos de máscaras, muito álcool em gel, e um certo medo uns dos outros.
Já desejo ardentemente a sobremesa, mas o meu pedido chegou.
As pessoas na fila do caixa me olham curiosas… “Quem é aquela louca solitária que deixa a cerveja esquentar e a comida esfriar e segue escrevendo freneticamente no cobre mesa de papel pardo?”
Não me importo nem um pouco. E ouso dizer que até gosto, pois amo quem sou e cada detalhe desta minha performance nada teatral, mas digna de um filme.
Gema mole, pão firme, e entre uma garfada e outra uma pausa para escrever.
Escrever. Sim escrever. É o que escolho fazer quando não tenho nada para fazer, e sem saber porquê as rimas surgem sem querer. Observar as pessoas, ouvir os sons ambientes e os sussurros das conversas da mesa ao lado. Talheres no prato, agudos de copos, uma leve gargalhada, ou mesmo uma moto acelerada que passa na rua.
Bem-Aventurados Deuses que me deixaram esquecer o carregador do celular em casa. Agora tenho tempo para ser simplesmente essa escritora-filósofa, a pensar sobre a dicotomia desta geração.
Quero só viver a experiência do presente, mas não resisto ao último suspiro da bateria do celular para fotografar o momento. Quero postar, quero compartilhar a inspiração que me motiva, mas decido que aquela “live” é só minha.
O charme melancólico de ser “carioca da zona sul” me dominou, e mais que pensar nos contrastes sociais tão ressaltados pela pandemia, quero pensar apenas em mim e como desejo abandonar o piloto automático.
O acaso de uma sucessão de acontecimentos deste meu rolê aleatório me trouxeram aqui nesta sexta-feira e apaixonada por esse fragmento de tempo, grata estou.
Mas… Por que eu só fiz essa pausa por mero acaso, se tanto dela preciso.
Pausa também é música.
Enquanto degusto essa verdade e salivo pelo tartelete de morango, assino um contrato comigo mesma (ainda que essa letra quadrada pela falta de prática de escrever à mão) para reassumir o controle das minhas escolhas, e abandonar de vez toda essa correria insana.
Sou eu quem manda.
Essa caligrafia é minha.
E você? Vai despertar desta letargia e enfim reassumir o controle que é só seu? Ou vai seguir nesta anestesia do coletivo senso comum?
Um novo ano já está chegando, e agora que este novo normal já se instalou, convido você a refletir um pouco sobre a sua jornada.
Vamos juntas?
Com carinho desta sonhadora descarada,
Alexandra Vidal