Acabou o amor? Relacionamentos da era do Tinder
Em tempos de Tinder, parece que o interesse por alguém acaba na mesma velocidade em que surge um novo crush. O conceito de amor está mesmo se dissolvendo. Mas será que acabou o amor?
Quando o sociólogo Zygmunt Bauman criou o termo ‘amor líquido’, o Tinder ainda nem existia. Mas ele já tinha antecipado o que estava por vir, desde o surgimento do Facebook.
Mas o que é amor líquido? Um sentimento que escorre pelos dedos.
Bauman diz que é um “amor até segundo aviso”. Segundo ele, vivemos um momento da História em que nada é feito para durar. Os tempos são líquidos. Tudo muda muito rapidamente. É a era da incerteza.
Acabou o amor…
O amor líquido gera uma zona de conforto – afinal você não precisa se comprometer com ninguém e, supostamente, faz o que quiser. A fim de dar um empurrãozinho nas pessoas acomodadas e fazer seus corações baterem um pouco mais forte, fiz um vídeo com uma provocação. Assista:
Somos bens de consumo
Em uma sociedade pautada pelo consumo, os relacionamentos são tão descartáveis quanto os eletrônicos ou as blusinhas. Mantemos as relações enquanto trazer satisfação. Mas quando aparece outra que oferece ainda mais prazer, logo a gente substitui. Parece que tentamos suprir qualidade com quantidade (o que de fato, não funciona).
Muitas vezes, descartamos o outro porque criamos expectativas muito altas – outro sintoma dos nossos tempos. Ou então por medo da rejeição e do fracasso. Dá impressão de que é mais fácil romper do que lidar com a frustração.
Como tudo gira em torno do indivíduo, os laços entre as pessoas estão ficando frouxos. Nada é estável e tudo está em constante mudança. Estamos cada vez mais ansiosos.
Nesse cenário, Bauman diz que um dos maiores atrativos do Facebook (e também do Tinder e todos os apps de relacionamento) é a facilidade de romper com as relações em um clique.
Hoje os apps de relacionamento já são a principal forma de ter encontros amorosos. E a tendência é que o flerte ao vivo seja cada vez mais raro. Já percebeu que a comunicação online é mais fluida e as pessoas são mais abertas no virtual do que cara a cara? Para os introvertidos, o Tinder foi uma invenção incrível.
O aplicativo realmente resolveu muitos problemas da vida moderna. A falta de tempo, principalmente. E agora a gente não depende mais de estar em determinado local para conhecer pessoas. Não precisamos esbarrar com alguém ao acaso para ter um encontro amoroso. É muito mais prático. Mas muito mais efêmero.

Antes era melhor?
Eu particularmente não acredito que as pessoas fossem mais felizes antes, quando o casamento era um mero modelo econômico, e você ficava preso a uma relação para o resto da vida. Afinal, as pessoas mudam e a liberdade é um dos valores mais importantes que homem pode ter.
Mas de fato está faltando um equilíbrio entre assumir compromissos para a vida e se conectar de verdade com a pessoa que você acaba de conhecer.
E lembrar que a vida não é só uma sucessão de momentos agradáveis. Momentos ruins são inevitáveis, e até esperados – eles nos fazem aprender. É tudo parte da vida e temos que aprender a lidar com todos os aspectos dela.
Imagem: Pexels