Você é o amor que acabou com meu caos
A primeira vez que demos as mãos, a vontade que me deu foi de te puxar e fugir daquela festa lotada que a gente estava. Mas, na verdade, eu olhava estática pras nossas mãos coladas sem acreditar que estávamos realmente assim. E senti uns arrepios, os mesmos arrepios que senti quando estávamos dentro do carro indo pra essa tal festa e você beijou meu rosto. Foi um arrepio semelhante ao que eu senti quando você me convidou pra dançar um arrasta pé no fim de um trampo que eu estava trabalhando horas antes de irmos pra’quela tal festa.
Você, pra mim, é isso: constantes bons arrepios.
Nunca me trouxe flores, nem caixa de chocolates, até mesmo porque nem gosto de doces. Nem nunca encheu o quarto de pétalas de rosas vermelhas com uma colcha branca na cama e velas pelo quarto, nunca colou um papel escrito “te amo!” em um balão em formato de coração. Também nunca fez um jantar romântico pra mim. Nunca tomamos uma taça de vinho. Nunca me escreveu um poema. Nada de surpresas, nada. Nenhuma surpresinha dessas que muitas mulheres adoram, outras dizem achar clichê demais, mas que, talvez, lá no fundo sinta um calorzinho no coração caso receba. Talvez, até eu. Tá, tá bom, até eu…
Mas tiveram inúmeras pequenas coisas, pequenas aos olhos dos gananciosos corações alheios que me confirmavam todos os dias o porquê de eu querer estar contigo. Entendi bem a vontade do Cazuza de querer a sorte de um amor tranquilo, a diferença entre nós dois era que ele tinha vontade, e eu, tinha essa sorte.
Você nunca quis ser meu anjo protetor, o super herói que salva a mocinha dos vilões e a beija de cabeça pra baixo sem revelar a real identidade, porque dizem que tudo que é escondido é gostoso. Sempre demonstrou admiração em ter-me ao lado, tanto quando eu estava com os cabelos amarrados de qualquer jeito, largada no sofá com uma blusa tua, como quando eu queria ficar toda arrumada e maquiada pra passar o domingo assistindo filmes no Netflix com você, até mesmo quando você chegava perto de mim e só percebia que eu estava a chorar baixinho porque eu me balançava tentando conter o soluço.
Sua cara de abestalhado me olhando como um admirador de arte olhando pra uma obra numa galeria chique. A leveza das suas mãos cheias de carinho passeando pelas minhas coxas e pernas enquanto dizia que as achava lindas. Sua preocupação com a minha reação com o nosso primeiro banho de chuva, e depois o sorriso de alegria quando parecíamos duas crianças encenando Dançando na Chuva. O não gostar do meu cigarro, nem eu do seu, mas sempre acabar fumando um do outro quando o de um de nós acabasse. Saber que eu não gosto de azeitonas e que prefiro cervejas geladas à vinhos secos, brancos ou rascantes. E que troco fácil um brigadeiro por uma pizza. Você me reafirmou, sem saber, a real importância da grandiosidade do simples, mas verdadeiro.
Me lembro que quando eu era criança ficava encantada nas raras vezes em que assistia o nascer do sol, toda a luz me iluminava a alma. E é assim que me sinto quando te vejo, quando tu sorri pra mim, um sorriso que geralmente vem acompanhado de “sua boba” e aí eu sei que esse sorriso é, realmente, só pra mim. Como quando a gente completa as piadas sem graça um do outro.
É como suar de dançar na pista da vida, ou a euforia de um cachorro no primeiro banho de mar – tudo bem que não sou um cachorro, mas pelo modo como os vejo correndo nas praias parecendo sorrir, imagino que seja uma sensação tão boa quanto a que sinto quanto me percebo contigo. Aquela vontade de sairmos loucos por aí, viajar e, ao mesmo tempo, poder sair eu, só, louca por aí e ter teu áudio com tom de risada ao receber minha foto fazendo graça já meio bêbada em algum bar pé-de-chinelo da cidade. Querer te chamar pra sair, não o fazer e depois acabar te encontrando por acaso no mesmo lugar que eu estava chegando, rir da surpresa que a vida nos fez e agradecer a ela, nos beijando.
E o tempo pôs o amor nessa conta, ou nesse conto. Eu fui me permitindo te amar, você permitiu ser amado também. Rimos. Beijamos. Nos unimos. Nos entrelaçamos. No chão da sala, no sofá, no banheiro, na cama e na vida – que, por sua vez, ficou refletindo ainda mais felicidade. Sem nem um micro desespero, o mergulho. E na aurora do cotidiano, muitas vezes acinzentado, senti que o sol parece brilhar só para nós dois. Que o trem não parte sem nós dois termos embarcado. Somos um carnaval em que a festa permanece o ano inteiro.
Meu corpo não tem mais múltiplos perfumes, houve algo parecido com rejeição a corpos estranhos… Alguns dizem ser da imunidade, eu penso ser da paixão, que permanece intacta mesmo depois de as folhas do calendário terem virados inúmeras vezes. Costumava viajar sem salva vidas, como Esteban em Tango Novo, e você entrou nesse barco comigo. E assim eu encontrei um caminho seguro sem querer, e me surpreendo com a vista no teu cais, que é maravilhosa, sabia, Baby?!
Você é o amor que acabou com meu caos
Você, pra mim, é isso: flores que alegram as janelas da minha casa, às vezes bagunçada, mas sempre tranquila e aconchegante. Minha casa, é minha alma. Minhas janelas são meus olhos. E você, Baby, as flores que me enfeitam de felicidade me fazendo exalar alegria pelo meu corpo esguio, e apaixonado…
Por mim. Por você. Por nós. Pela vida. E pelas flores que me enfeitam em meio ao caos.
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