Caso Robinho: até onde vai a impunidade dos homens?

O jogador Robinho, durante os últimos dias, foi o alvo de bastante polêmica. Ocorre que o atleta, em 2017, foi sentenciado a 9 anos de prisão sob o código penal ‘609 bis’, que abrange casos de violência sexual em grupo.
Aparentemente, o rapaz participou de um “estupro coletivo” de uma jovem albanesa na boate Sio Café (Milão – Itália), em 2003. A moça, extremamente embriagada, foi levada até o camarim do estabelecimento (ocupado, naquele dia, pelo músico Jairo Chagas, que estava se apresentando no local) e, lá, foi violentada por Robinho e mais cinco homens.
Mas aí você me pergunta: “Gente, isso não foi em 2017? Por que diabos o Superela está discutindo esse assunto em pleno 2020?”. Bem… porque:
A) Robinho, até a data dessa publicação, está respondendo ao processo em liberdade;
B) Porque, mesmo após a sentença, o Santos Futebol Clube fechou, dia 10/10/2020, um contrato com o jogador (salário simbólico de R$ 1.500,00 + bônus de R$ 300 mil após dez jogos + R$ 300 mil após 15 jogos, sendo este valor pago ao fim do vínculo que, por sua vez, poderia ainda ser renovado por mais 1 ano e 7 meses);
C) A polícia italiana, além de grampear o telefone do jogador, colocou uma escuta em seu carro e, dessa forma, conseguiu captar alguns diálogos entre ele e os outros envolvidos no crime. A transcrição desses áudios, assim como os conteúdos da sentença, foram divulgados no dia 16/10/2020 (sexta-feira passada).
Sobre Robinho e a impunidade…
Nos áudios interceptados (na moral, nem vou colocar as transcrições aqui porque podem elas ser gatilhos para muitas de nossas leitoras), Robinho diz coisas terríveis. Ele comenta, basicamente, que estava tranquilo com relação a isso tudo e que, de toda a circunstância, achava até “graça”.
A moça, de acordo com ele, estava completamente bêbada e, portanto, nem se lembrava do que havia acontecido. O jogador, durante o diálogo com o amigo, reitera que não teve relações com a mulher. Porém, quando questionado (porque, pasmem, o amigo viu ele introduzindo o pênis na boca da vítima), ele disse que isso “não era transar”.
Para fechar tudo com chave de ouro, em entrevista para o portal UOL, Robinho criticou o movimento Feminista por fazer um “alvoroço” em cima dessa contratação dele pelo Santos (que já foi cancelada, por sinal), e de todo o caso em si.
Tem muita coisa errada aí, não é mesmo?
Vamos juntar as peças desse quebra-cabeças que é a impunidade dos homens no Brasil? Me explica, primeiro, como que um clube de futebol contrata um atleta condenado por violência sexual em grupo? O caso, lembre-se, ainda está correndo na justiça (já que ele, obviamente, recorreu à decisão e responde tudo em liberdade).
Sabe o que isso me lembra? De circunstâncias como a de Mari Ferrer, que teve seu abusador absolvido, a do goleiro Bruno que, ainda respondendo pelo crime contra Eliza Samúdio, voltou aos campos e de muitos outros casos em que a violência sexual não impediram, em nada, a continuidade dos atos do agressor.
É CLARO, pessoal, que todo ser humano merece o direito de defesa e, uma vez condenado, o de retornar à sociedade após cumprir sua pena. Não é disso que estou falando por aqui. O que me assusta é como as grandes organizações e autoridades, todas guiadas pelo capitalismo, se assim posso dizer, fecham os olhos quando lidam com os abusadores (principalmente os ricos e poderosos).
Aparentemente, não importa se a pessoa ainda possui pendências com a justiça. E muito menos se ela já até mesmo foi acusada e sentenciada pelo ato. Se ela é valiosa para o sistema (e, cá para nós, não há COMO negar que Robinho é um baita jogador), não tem problema. Espera-se que tudo se resolva da melhor forma possível e, se não resolver, sempre existem aquelas cordinhas para serem puxadas daqui e dalí.
E isso não é desculpa para o linchamento virtual: não precisa atacar o Robinho
Eu sempre repito isso por aqui: NUNCA fui a favor do linchamento moral. Afinal, não cabe a mim julgar o destino do jogador. Porém, cabe aos clubes e outras empresas entenderem o peso de suas decisões. Afinal, não é só de homens que se faz uma torcida. E não é só de homens que se forma uma sociedade.
Sinceramente? O que Robinho fez, ou deixou de fazer, é problema dele. De coração, eu espero que essa moça se sinta amparada pelo governo italiano e que sinta que a justiça foi feita. Do outro lado, após todas as transcrições, depoimentos e outras provas, espero que o jogador pague pelos seus atos.
Seja por “machismo estrutural”, ou sei lá qualquer outra viagem que tenha acontecido, ele realmente acha que não teve culpa durante o processo porque, de acordo com sua defesa, não participou “ativamente” do ato. E isso, gente, acontece com MUITAS OUTRAS PESSOAS por aí.
Acontece que, até certo ponto, a vida do outro é da nossa conta, sim
Ditados como “em brigada de marido e mulher, não se mete a colher” precisam cair por terra. Se você, moço que está me lendo, já testemunhou alguma espécie de abuso, é preciso denunciá-lo. Do contrário, você é cúmplice sim. O mesmo vale para as minas.
No mais, meu único desejo para isso tudo é que sejam tomadas todas as providências de forma correta e justa a todos os envolvidos. Enquanto isso, fico aqui, enquanto mulher, levantando-me da cama todos os dias com aquele medo intrínseco não só de sofrer algum ataque/assédio, mas também se não ser levada a sério quando denunciá-lo.
É fogo.
Imagem de capa: via @robinho