Codependência x Interdependência: por que saber diferenciá-las pode salvar um relacionamento?
Se eu te contar que só fui descobrir o que era Codependência agora, em 2021, cê acredita? Tudo isso, claro, graças a muitas videoconferências e áudios aleatórios que, por sinal, ilustram bem esse momento doido em que estamos vivendo. Mas ok: o que essa palavra tão rebuscada diz sobre relacionamentos? E, melhor ainda: o que que nós, meras mortais, temos a ver com ela?
Bem, é preciso partirmos do começo, né não? Quero que você faça um exercício comigo. Feche os olhos e reflita sobre o que um relacionamento significa procê. O que será que difere ele de qualquer outra amizade que a gente tem por aí? Será que é o sexo? A intimidade? O companheirismo?
Eu pensei muito nisso durante todos esses anos, e principalmente depois que me casei. Durante uma sessão de terapia, inclusive, minha psicóloga “lançou a braba”: “O que casamento significa para você, Luísa?”. A resposta, é claro, não é simples. Quando comecei meus namoricos, achava que namoro era um atestado de maturidade. “Uuuuh, olhe para mim. Larguei minhas bonecas e comecei a beijar na boca, lalalalala.”. Mal eu sabia que ESSA era a representação mais fiel POSSÍVEL de um pensamento imaturo e romanceado até a última vírgula.
Aí virei adulta, né. A vida me fez passar de mão em mão e, graças à Deusa, experienciar várias formas de relacionamento até achar o meu fiel escudeiro (a.k.a maridão). E aí, no meio desse processo, percebi que um conto de fadas com protagonistas interdependentes, perfeitos um para o outro, poderia se tornar codependente num piscar de olhos. E aí, sair desse lugar pode ser complicado. Só que ó, vamos por partes.
Qual é a diferença entre Interdependência e Codependência?

Muita gente gosta de associar um namoro/casamento à “junção de almas”. É como se dois corpos, a partir daquele acordo de fidelidade, passassem a ser um só. Porém, a gente sabe que pensar assim é meio “doentio”. Afinal, um relacionamento saudável não é aquele em que você e/ou a outra pessoa cedem as próprias identidades a uma completamente nova. O massa é contar com o apoio do outro sem deixar de respeitar sua singularidade.
Então, quando estamos em um relacionamento interdependente, há uma troca mútua de apoio emocional, intimidade e confiança. A gente sabe que pode contar com o(a) companheiro(a) e, mais legal que isso: quer crescer, viver e trocar experiências com ela. Isso, com o perdão do termo, mulherada, é DO CARALHO.
Já os casais codependentes, por outro lado, buscam validar sua autoestima e senso de valores/autoconfiança por meio do outro. Em outras palavras, a pessoa usa o(a) seu(sua) parceiro(a) como uma muleta para qualquer uma de suas questões mal desenvolvidas. Isso, por si só, é problemático demais, bicho. Afinal, procurar sua identidade no outro, projetar-se nele e, pior ainda, viver a sua vida completamente em função dele é extremamente preocupante.
E é assim que o seu relacionamento pode ir por água abaixo.
A interdependência é caracterizada por indivíduos autônomos que, para cuidarem e nutrirem o relacionamento, não precisam sacrificar ou comprometer seu próprio senso de identidade. É aquele velho esquema: “você não PRECISA estar com fulano ou ciclano para ser feliz, ter sucesso na vida, ou ser uma boa pessoa. Você só escolheu ESTAR COM ELA enquanto descobre como conseguir tudo isso”.
Já na dinâmica codependente, em que você acredita que sua felicidade (e qualquer outra coisa boa nessa vida) depende da felicidade do OUTRO, aí complica tudo. O relacionamento, como já era de se esperar, se torna tóxico e marcado por padrões como vitimismo, possessividade, baixa autoestima, e por aí vai.
Então, como evitar que um relacionamento interdependente passe a ser codependente?

O primeiro passo é assumir a sua individualidade, e respeitar a do outro. Isso quer dizer: cuidar de si mesma, tirar um tempo para sair com as amigas e fazer as coisas que gosta. Entenda: seu(sua) parceiro(a) não é o seu braço, nem um recém-nascido que precisa receber atenção de 10 em 10 minutos. Não sinta culpa, em hipótese alguma, por querer um momento privado, ou realizar um projeto por conta própria. E dica de ouro: se a outra pessoa iniciar um discurso que, de alguma forma, lhe faça se sentir culpada por não estar com ela em todos os momentos do dia, esse é um alerta vermelho de relacionamento abusivo, hein? Cuidado.
Depois, é preciso entender que nem sempre o que se espera das outras pessoas, é o que você terá. E mais importante: isso não as obriga de tomar o mesmo tipo de postura. Um exemplo: o(a) crush tá doente. Você se desdobra inteira, atrasa todas as tarefas pessoais, cancela o happy hour com os amigos e pega 2 horas de trânsito pra chegar na casa dele(a). Aí, você gosta os tubos de dinheiro, faz sopa, leva filme, faz massagem, lava as roupas, limpa tudo e só vai dormir de madrugada.
No mês seguinte, quem passa mal é você. A pessoa se importa com sua saúde, liga para saber como você está, passa na sua casa depois do trabalho, leva uma comidinha gostosa e depois vai embora. O que passa pela sua cabeça, com certeza, deve ser: “COMO ASSIM GENTE. EU TÔ RESOLVENDO TRETA DE TRABALHO ATRASADA ATÉ HOJE PORQUE FIZ DAS TRIPAS CORAÇÃO PARA CUIDAR DE FULANO(A), E SÓ RECEBO UMA VISITINHA DE 2 HORAS?”.
Cê percebe a diferença aí?
Um outro exemplo, só para fechar com chave de ouro: você, depois que começou a namorar, sempre deu preferência ao(à) crush. Então, tudo que diz respeito ao lazer de vocês está em primeiro lugar. E ah: NEM PENSAR em viajar só com as amigas. Afinal, tudo fica muito melhor quando ele(a) está perto. AAAAAí, já sabe, né? Na primeira oportunidade, ele(a) avisa que vai para um churrasco da turma em que a presença dos conjugados(as) é barrada. E aí cê fica: “Mas gente, eu faço tudo por essa pessoa, e ela aceita sair sem mim? Mas que caralho.”.
E o que seria o certo, então?
Basicamente? Estar presente, apoiar as jornadas da outra pessoa sem querer fazer parte delas e, principalmente: pensar em si mesma. Mulher, entenda uma coisa, por favor: sua felicidade não depende do amor de outra pessoa, nem do dinheiro dela, nem de nada além de VOCÊ MESMA. E você, antes de companheira, é mulher, amiga, filha, funcionária, vizinha, whatever. Você tinha uma vida antes de conhecer essa pessoa, E VAI CONTINUAR TENDO.
Amor próprio em primeiro lugar para, depois, desenvolver uma interdependência com o(a) crush, combinado?
E SE CUIDA, PORRA.