Como um ensaio fotográfico me transformou
Se sentir empoderada, linda, digna de amor e apreço é imprescindível para ter uma autoestima saudável. Porém, muitas mulheres, infelizmente, não conseguem se enxergar dessa forma. E eu fui uma delas.
O conceito que formamos de nós mesmas não surge de forma aleatória: é uma construção social. Fomos moldadas desde a infância a achar bonito e desejável tudo aquilo que se aproxima de um padrão pré-estabelecido por um mercado capitalista – que lucra com nossas inseguranças – e pela mídia. Um padrão que engloba poucos e é extremamente doentio. Que dentre outras coisas segrega, causa destruição da autoimagem, transtornos alimentares e infelicidade.
Durante quase toda a minha vida, fui uma pessoa completamente insatisfeita com a aparência física. Rosto, corpo, cabelo, altura, tipo de pele, tamanho do pé. Até o formato das unhas me desagradava. Há três anos, conheci o feminismo e iniciei um processo de resgate do meu amor próprio, que havia sido perdido na infância.
A terapia também foi – e está sendo até hoje – uma aliada indispensável no meu desenvolvimento. E de lá pra cá, melhorei consideravelmente. Tenho muito a aprender sobre os meus verdadeiros valores, limites, personalidade e autorrespeito, mas posso afirmar que progredi bastante desde que passei a lutar pelos direitos das mulheres e pela equidade de gênero.
PARTICIPE: Não estou me sentindo bem com meu corpo!
PARTICIPE: Corpo, insegurança e medo!
De todos os meus complexos, o que mais afetou foi estar acima do peso, desde criança. Os apelidos na escolinha que evoluíram para outras formas de segregação – como o celibato involuntário, na adolescência e fase adulta – me prejudicaram muito. Aos vinte e sete anos, depressiva, na faixa da superobesidade e com a saúde por um fio (diabetes tipo 2, hipertensão, desequilíbrio metabólico, gordura no fígado e princípio de cardiopatia), decidi emagrecer. Não para me tornar uma Barbie ou ter um corpo de modelo do São Paulo Fashion Week – meu biotipo tá mais pra mulher fruta e eu ADORO corpos curvilíneos – mas para recuperar a mobilidade, aumentar a expectativa e a qualidade de vida.
A Cirurgia Bariátrica, popularmente conhecida como Gastroplastia ou Redução de Estômago, foi a opção mais aconselhável, considerando o meu IMC e estado geral de saúde. E para marcar o início da nova fase, resolvi me presentear.
Vocês já viram algumas daquelas fotos de “antes e depois” de pessoas que eliminaram muitos quilos, com ou sem cirurgia? Aquele fundo opaco, uma tristeza no rosto, olhar de gente morta, postura cabisbaixa e roupas nada joviais? Por que não fazer diferente, celebrar o poder da mudança e ressaltar a minha beleza hoje? Que tal valorizar as conquistas – como a faculdade, a descoberta do primeiro amor e da paixão pela escrita, os amigos e tudo o que vivi durante quase três décadas sendo GORDA? Porque convenhamos, em cento e cinquenta e sete quilos não cabe nenhum diminutivo, muito menos eufemismos. Gordinha é o caralho.
Os clicks foram realizados em vários pontos turísticos de Belo Horizonte pela Carolina Barros: jornalista, feminista, apresentadora, fotógrafa – está se especializando em ensaios empoderadores para mulheres, ministra workshops por todo o Brasil e é a empreendedora da Fazedora de Vídeos. Uma pessoa com um astral incrível e corajosa.
Em seu canal ela dá dicas de produção de vídeos, empreendedorismo e empoderamento da mulher. Uma das minhas maiores referências em comunicação e produção de conteúdo da internet.
A produção e o making off ficou por conta da Helen Castro, criadora do coletivo A(r)mando o Black e uma das idealizadoras do Domínio Pessoal, um blog sobre maternidade, cinema, saúde, turismo, eventos e temas afins, voltados para mulheres lésbicas.
Além disso, ela é feminista negra, militante e cabeleireira especializada em fios crespos e cacheados, e posta muitas coisas bacanas na sua página Diva’s Express. Realiza atividades de ocupação em escolas públicas, com o objetivo de fortalecer e resgatar a autoestima de crianças e adolescentes negras em situação de vulnerabilidade social, através do reconhecimento e valorização da estética capilar.
Mais do que enfatizar a beleza existente nesse corpo atual, que carrega traços únicos e não é nem um pouco padronizado, aprendi a não desviar o olhar da minha imagem. Durante as fotos, ficou claro que a protagonista é a modelo. A Carol dizia: “essa é você, tá vendo? É assim que as pessoas te enxergam. Repara como a sua visão é diferente da dos outros. Você precisa acostumar a se olhar sem estranhamento”.
Sempre fui fotogênica e fazia registros incríveis. Entretanto, nunca fui o foco dos closes quando apertava o botão da câmera pra tirar, por exemplo, uma selfie. Havia uma preocupação enorme com a cor de fundo, a luz, em captar parte da arquitetura e claro, minimizar alguns traços que possuo e via como graves defeitos, como o pescoço curto e largo e os olhos pequenos.
Quando observei as fotos tomei um choque, pois não estou acostumada a me ver de fora. Ou seja, criava uma ilusão confortável da Aline ideal, em vez de responsabilizar pela Aline real que eu deveria cuidar com amor. E isso contribuiu significativamente para que eu deixasse meu peso chegar a um grau quase irreversível.
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Não tenho espelhos de corpo inteiro. Consigo fazer quase tudo sem olhar pro meu rosto (maquiar, arrumar o cabelo, etc). Me abandonei completamente por longos anos, e tenho consciência de que as mudanças e o autoconhecimento se tornaram mais relevantes a partir do momento em que a autovalorização passou a ser prioridade zero pra mim.
Se eu pudesse dar um conselho para toda e qualquer mulher, seria o seguinte: nunca fuja de si. Uma hora você fatalmente vai precisar fazer o caminho de volta e ele pode estar mais obscuro. Mas se você chegou nesse estágio, não desista: ainda que doa e lhe arranque lágrimas, nada é mais libertador que se reencontrar.
Imagem: Carolina Barros