Como dar adeus me libertou
Sabe, eu já tive que deixar ir. Não foi a minha escolha mais fácil, mas tenho certeza de que foi a melhor. A gente não pode ser gaiola, prender quem quer levantar voo. E tudo que fiz foi me desacorrentar, pois percebi que quem estava presa era eu. Eu me prendi em algo que nunca teve sustância, até o dia em que tive que destruir minhas próprias correntes. E quando isso aconteceu, aprendi na marra como dar adeus poderia me libertar também.
Os primeiros dias são os piores, confesso. A gente vai tentando dar os primeiros passos até que tudo fica pesado demais, soterrado dentro de nós. E, de repente, a gente vira tornado e sai carregando tudo ao redor, entulhando tanto a mala que, inesperadamente, explode. E aí as coisas saem pelos ares. Você pensa que tudo está acabado e que suas escolhas não poderiam ser piores, afinal, onde você estava com a cabeça? Mas, sabe quando o dia amanhece mais bonito, mesmo no meio de toda essa bola de desesperança?
Eu comecei a ver beleza onde não havia observado.
Então eu quis continuar vendo estrelas em uma noite simples de terça. Eu quis continuar sentindo a brisa bater e bagunçar meus fios, como se isso não fosse me fazer ficar horas desembaraçando tudo depois. Eu quis olhar no espelho e sorrir para meu sorriso. Quis continuar vendo flores no lugar dos espinhos. A verdade, no fundo, é que eu quis sair da fossa e continuar vivendo minha vida, apesar de ainda ter a ferida aberta na alma, eu quis ir atrás dos dias melhores.
Deixar ir não tem a ver apenas com a felicidade do outro, tem a ver com quem somos, com quem queremos ser e com a nossa própria felicidade. Não dá para ser feliz ao lado de alguém que não é feliz ao nosso lado. Não dá para continuar sorrindo ao lado de alguém que não sorri mais conosco. E tudo vai entalando dentro de nós, vai nos acorrentando aos poucos, nos prendendo em uma miragem, em algo que juramos existir só para não ter que deixar ir. Só para não ter que sentir o gostinho do fim. O gosto amargo do adeus que vai chegando de fininho, mas a gente faz questão de varrer para debaixo do tapete.
Só que, uma hora ou outra, as coisas saem do eixo, não é? O que varremos para debaixo do tapete vai transbordando e nos impossibilitando de esconder. Os dias vão pesando. O clima vai ficando frio, quase congelante. E nós permanecemos segurando firme nos cadeados em que nos prendemos, sem perceber que não faz bem para ninguém permanecer com as chaves escondidas quando o que mais precisamos é de abrir as portas. A gente não gosta de abrir portas para saídas, porque sempre nos vemos necessitando de chegadas, principalmente daquelas que vêm para ficar.
No entanto, às vezes é preciso dar adeus para ser livre também.
Dar adeus me ajudou a me libertar de mim mesma. Dar adeus me libertou de estar acorrentada a uma miragem só minha. Dar adeus mandou embora minhas ilusões, as que só eu tinha. Foi dando adeus que destruí os cadeados que me prendiam a uma cena diariamente, como se tudo fosse perfeito mas, no fundo, eu sabia que não era. E quando nós sabemos, precisamos quebrar as correntes. Deixar ir, mas, acima de tudo, ir também. Dar liberdade e ser livre. Dar adeus e seguir adiante, pois o que precisa de correntes para ficar, não traz amor, traz amargura.
Liberte-se de seus cadeados também.
Imagem: visualhunt
E o que vocês responderiam a essa pergunta aqui abaixo, feita por uma de nossas usuárias do Clube Superela?