Dia do Orgasmo: mais da metade das mulheres ainda não gozam

Especialista afirma que ansiedade é um dos fatores que atrapalham a vida sexual das mulheres. No 31 de julho é comemorado o Dia do Orgasmo. A criação da data se deu em 1999 e partiu da iniciativa de um grupo de sex shops britânicas com o objetivo de aumentar suas vendas e incentivar um diálogo aberto sobre sexo.
Porém, ainda hoje, muitas mulheres têm dificuldade de atingir o ápice nas relações sexuais e uma conversa franca e aberta sobre assunto, muitas vezes, está fora de cogitação.
O resultado é que elas se sentem inadequadas e assumem sozinhas as angústias e questões desse universo, quando o caminho deve ser o oposto.
Um estudo do departamento de Transtornos Sexuais Dolorosos Femininos da USP (Universidade de São Paulo) mostrou que 55% das mulheres brasileiras não têm orgasmos durante o sexo.
A pesquisa da instituição Prazerela, de 2018, apresentou números ainda mais graves: 74% das mulheres gozam com a masturbação, mas apenas 36% atingem o ápice com os(as) parceiros(as).
Para a psicóloga e sexóloga Elisangela Pereira isso ainda é consequência de uma sociedade castradora, principalmente quando se refere à sexualidade feminina.
“Eu vejo que o que mais atrapalha as mulheres a terem o orgasmo é a questão da repressão sexual. A gente está em 2020, mas muitas mulheres têm dificuldade de falar sobre sexo, de se entregar na cama”, afirma.
A relação que a humanidade tem com o orgasmo feminino se alterou ao longo dos tempos, entretanto, o foco sempre acabava recaindo sobre a necessidade de impedir as mulheres de sentirem prazer. E é sobre isso que vamos abordar no texto do Dia do Orgasmo.
O orgasmo feminino na história

Relatos da Grécia Antiga já evidenciavam a necessidade de reprimir as mulheres sexualmente.
No caso de adultério por parte da esposa, por exemplo, entendia-se que a mulher havia “excesso de libido” e, por isso, era obrigada a ficar descalça durante o inverno. Uma das explicações para isso é que se acreditava que o frio diminuía o desejo sexual.
Alguns séculos a frente, na época dos Vitorianos (1838 – 1901), a influência da Grécia Antiga continuava perceptível. Assim, o médico Pierre Briquet retoma o conceito de “histeria”, originado do termo grego “hysterika“, que significa útero.
Para o profissional, a histeria seria uma doença característica das mulheres, na qual os sintomas seriam desejo sexual potencializado e lubrificação vaginal. Dessa forma, a simples excitação feminina era interpretada como uma patologia, uma condição que deveria ser tratada.
No século XX, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, bebe dessa fonte, elaborando ainda mais o conceito de histeria ao adicionar ocorrências como falta de autocontrole e pânico.
Entretanto, ainda no final do século XIX, era preciso achar um tratamento para a dita doença. É nesse contexto, mais precisamente em 1891, que surge o vibrador.
Visto como uma ferramenta médica, o primeiro dispositivo funcionava a vapor e servia para massagear as mulheres em suas regiões íntimas com intuito de curá-las da histeria por meio do orgasmo.
Com o passar dos anos, o vibrador parou de ser visto como parte de um tratamento médico e invadiu vitrines de lojas eróticas. A mudança tornou o dispositivo um objetivo privado, mas considerado digno de vergonha por muitas mulheres.
No que se refere à histeria, os avanços demoraram um pouco mais. Somente em 1952 o termo é retirado dos livros de medicina e há o consenso na Associação Americana de Psiquiatria de que a “doença”, na verdade, se trata da condição natural da excitação feminina.

Mas o abandono da noção de “histeria” não foi suficiente para incentivar as mulheres a lidarem com sua sexualidade de maneira mais espontânea.
Atualmente, apenas 43% das entrevistadas conversam abertamente sobre sexo com seus parceiros, segundo a pesquisa da Prazerela, .
Uma realidade que, além de atrapalhar a construção de uma relação saudável, contribui para perpetuar estereótipos antigos como obstáculos no caminho do orgasmo feminino.
É Dia do Orgasmo, mas as mulheres ainda não gozam
Ainda há uma forte repressão sexual às mulheres. Não é raro, por exemplo, presenciar comentários negativos sobre aquelas que falam abertamente acerca do tema, uma vez que isso é entendido como um direito reservado apenas ao homem.
O contexto torna mais difícil para uma mulher buscar informações sobre sua vida sexual, explorar seu corpo e ter um diálogo franco com o parceiro.
Essa pode ser uma das razões que faz com que a lógica falocêntrica reine quando se trata de sexo, reiterando a crença de que a penetração é a principal forma de se ter prazer.
Entretanto, conforme levantado pela Prazerela, a penetração está em quarto lugar no quesito de sexo mais prazeroso, atrás de sexo oral, estimulação do clítoris pelo parceiro e da masturbação.
Isso quer dizer que, muitas vezes, pela falta de diálogo, os homens se concentram no penetrar da vagina, pensando que essa é a melhor forma de levar a mulher ao orgasmo, o que não é verdade.

Mas, além da falta de comunicação entre os parceiros, existe outro fator que atrapalha a vida sexual das mulheres: a ansiedade. Para Elisangela Pereira, a mente das pessoas está ainda mais acelerada, se comparado há alguns anos.
Essa agitação pode ser consequência do estresse da rotina, mas também da própria dificuldade de se ter o orgasmo. “É uma ansiedade gigante em ‘preciso ter’, que faz com que essa mente fique desfocada e, automaticamente, o corpo também”, afirma.
O que acontece muitas vezes, então, é a formação de um ciclo nocivo, que compromete muito o prazer da mulher. A mente preocupada em finalmente atingir o orgasmo tende a não ficar presente no no aqui e agora – ou seja, na relação em si.
Isso é um problema, já que durante o sexo é de suma importância que a atenção se volte para o que a pessoa está sentindo. “Você tem que estar imerso nessas sensações para conseguir relaxar e, então, conseguir gozar”, completa Elisangela.
Portanto, há uma maior dificuldade de se chegar ao orgasmo, o que gera grande frustração. A frustração, por sua vez, pode aumentar ainda mais a ansiedade para atingir o ápice, formando, assim, a espiral do problema.
Auxílio da terapia sexual e do mercado erótico
Uma orientação para as mulheres com dificuldade de chegarem ao orgasmo é buscarem apoio profissional. Inicialmente, indica-se uma consulta a um ginecologista a fim de averiguar se há algum desequilíbrio orgânico ou fisiológico que pode justificar a dificuldade.
Após esse procedimento, o próximo passo é procurar um especialista em sexualidade humana. “Nessas consultas, vamos tentar identificar o porquê dessa questão e realizar um processo de descondicionamento desses pensamentos”, explica a sexóloga.
Elisangela afirma que muitas clientes que procuram sua ajuda ainda têm receio de explorarem os próprios corpos. Qualquer experiência relacionada ao manuseio das partes íntimas vem cercada de culpa e até mesmo nojo.
“É uma relação muito inadequada dessa mulher com seus genitais, com seu sexo mesmo. Como essa mulher vai conseguir ter orgasmo se ela mal consegue se tocar?”, questiona.
O suporte profissional irá auxiliar na desconstrução dessa ideia, além de influenciar as mulheres a se descobrirem mais, inicialmente sozinhas. Entretanto, também será possível observar melhorias na vida sexual com o parceiro.
O tratamento muitas vezes consiste na possibilidade de falar sobre sexo, de uma maneira natural e casual. Além disso, busca-se descobrir formas e técnicas para que a pessoa consiga se concentrar na relação sexual e não se distraia com pensamentos ansiosos durante o ato.
O mercado erótico e a comercialização de produtos diversos – de vibradores a plug anal – também têm contribuído para naturalizar o orgasmo feminino, seja pela promoção de uma relação saudável com a própria sexualidade ou por incentivar um diálogo mais aberto sobre sexo.
Uma pesquisa realizada por uma universidade canadense comprovou que mulheres que utilizam vibradores tendem a ter relações heterossexuais mais saudáveis do que as que não usam o aparelho.
As justificativas para isso, de acordo com o estudo, variam entre maior conhecimento das suas preferências e facilidade em falar sobre o assunto com o parceiro.
Por isso, como explica Elisangela, o benefício de brinquedos eróticos não pode vir sem uma maior compreensão da mulher sobre a sua própria sexualidade.
“Conhecendo o corpo, já ultrapassadas algumas barreiras, ela vai conseguir usar produtos eróticos com facilidade, podendo desfrutar do prazer, de uma forma leve e sem culpa – como deveria ser”, afirma a sexóloga.
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