Fui diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline. E agora?

O Transtorno de Personalidade Borderline, também conhecido como Síndrome de Borderline, ganhou bastante notoriedade na mídia, sobretudo pelo fato de uma das participantes de um famoso reality show ser mencionada como portadora do transtorno.
No entanto, a exposição midiática da síndrome gerou uma série de questionamentos e, associado a eles, infelizmente, uma avalanche de preconceitos oriundos, em sua grande maioria, do desconhecimento em relação ao TPB.
Tendo isso em vista, e no intuito de esclarecer algumas questões e reverter certos estereótipos criados em torno do assunto, trago algumas contribuições acerca do tema, no intuito de que, caso você tenha sido diagnosticada ou possua alguém próximo que convive com o transtorno, possa lidar de uma forma mais empática e resiliente em relação ao assunto.
O que é o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB)?
O Transtorno de Personalidade Borderline é um transtorno psíquico considerado grave, tendo em vista que ocasiona problemas na forma como a pessoa lida com ela mesma e, também, nas suas relações interpessoais.
Embora haja uma enorme dificuldade de mapear os casos existentes, alguns estudos dão conta de que, no Brasil, cerca de 3%-5% da população possua o transtorno, sendo que 80% desse montante é composto por mulheres, isso levando em consideração o número de diagnósticos.
É comumente citada como sendo uma síndrome de características limítrofes, tendo em vista que, dentre outros motivos, quem possui TPB, encontra-se, mais frequentemente, no limite da sua instabilidade emocional.
Sintomas relacionados ao TPB
É impossível enumerar todos os sintomas associados ao TPB, dado o fato que a ocorrência sintomática varia de pessoa para pessoa, tanto em ocorrência, como em intensidade. Todavia, alguns sintomas costumam estar atrelados à síndrome com maior frequência. Dentre eles, podemos citar:
- Instabilidade emocional: quem possui TPB está constantemente em contato com o limite da sua capacidade de lidar com as emoções, isto é, apresenta variações de humor repentinas e, em alguns casos, de forma exacerbada, indo de situações de baixa autoestima à manifestações intensas de excitação, oscilando entre estados de calma e manifestações de agressividades agudas. Tais oscilações são uma das causas de muitos portadores da síndrome serem erroneamente diagnosticados com outro transtorno de personalidade, o Bipolar, cuja sintomática possui algumas características em comum;
- Insegurança nas relações afetivas: o portador de TPB, geralmente, possui muita dificuldade em lidar com a insegurança nas suas relações interpessoais, sobretudo no que se refere aos familiares, amigos e pessoas com quem possui laços afetivos, o que acaba ocasionando um sentimento de possibilidade de perda constante, ou seja, a sensação de que pode ser abandonada a qualquer momento. Diante desse temor, há um esforço enorme, por parte de quem possui TPB, para evitar que as pessoas com quem ela possui laços afetivos a abandonem, e muitos desses esforços, inclusive, ocasionam um apagamento do amor-próprio em detrimento do outro;
- Dificuldade ao lidar com a própria imagem: devido à insegurança, quem possui TPB tende a associar o abandono à sua própria imagem, isto é, ao seu corpo e às suas atitudes, o que acaba gerando, em alguns casos, mudanças radicais no corpo, no jeito de se vestir e no comportamento;
- Impulsividade: outro sintoma comumente presente nos portadores do TPB é a impulsividade, a qual está atrelada, em muitos caso, a comportamentos que põem em risco a sua integridade física e psíquica, assim como a de quem ela se envolve, tais como o consumo de drogas (lícitas e ilícitas); prática de sexo como meio de tamponar o medo de rejeição e abandono, mesmo que isso ocorra em situações de adultério e sem proteção; expondo pessoas à situações de risco como, por exemplo, ao dirigir e/ou manusear objetos.
Claro, os sintomas acima representam apenas uma parcela dos muitos que podem, ou não, acometer o portador de TPB, levando em consideração o fato de que quem possui TPB, não raro, também possui outras síndromes em paralelo.
Fatores de risco
Apesar do TPB não ser um tema muito recente nos ambientes teórico e clínico (os primeiros estudos citando o transtorno datam da década de 40), bem como dos esforços em entender suas possíveis origens, ainda não há consenso em torno do porquê da sua ocorrência.
Para alguns, se deve à questões traumáticas, tendo em vista que existe uma grande incidência em pessoas que vivenciaram, na infância, situações de abandono parental, abuso sexual, separação dos pais ou morte de alguém querido.
Para outros, a causa é de ordem genética, pois alguns estudos apontam para uma ocorrência maior de pessoas com TPB em famílias que já possuam outros portadores da síndrome.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico, como citei anteriormente, costuma ser complicado na maioria dos casos, tendo em vista que os sintomas do TPB também são comuns em outros transtornos, o que acaba gerando, muitas vezes, um diagnóstico equivocado ou tardio.
No entanto, há avanços teóricos e clínicos no estudo e no diagnóstico do TPB e, sem sombra de dúvidas, é de extrema importância que aqueles que apresentem parte ou todos os sintomas citados neste texto procurem um profissional qualificado para atender e diagnosticar corretamente se há este e/ou outros transtornos.
Os profissionais aptos a atender e diagnosticar transtornos de personalidade são o psicólogo e o psiquiatra.

O tratamento do TPB se dá, de uma forma geral, a partir da associação entre a psicoterapia, por meio de um profissional de psicologia ou psicanalista, e de medicamentos específicos para atenuar os sintomas, sendo essa função exclusiva de profissionais de psiquiatria.
O que fazer se você for diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline?
- A primeira coisa é manter a calma e entender que, assim como tantas outras síndromes, o TPB não é invalidante, nem degenerativo, e possui tratamento, o qual faz com que o portador viva uma vida minimamente afetada pelos sintomas;
- Desenvolva o hábito de estudar sobre o assunto. Isso fará com que você se torne uma pessoa mais esclarecida acerca da sua própria condição e possa lidar melhor com críticas, situação de estresse e outras desencadeadoras de sintomas;
- Seja clara sobre a sua condição com as pessoas do seu ciclo de convivência, bem como novos amigos(as) e parceiros(as) amorosos(as), de modo a esclarecer eventuais equívocos, evitar situações desencadeadoras de sintomas e fomentar a confiança de que você está num ambiente que entende a sua situação e te ajudará em qualquer questão, sobretudo no tratamento, onde a ajuda de pessoas próximas ao portador de TPB é de extrema importância;
- Identifique situações que podem ser benéficas a sua saúde mental e utilize-as a seu favor em situações de crise, assim como observe aquelas que possam ser prejudiciais e servem de estopim para sintomas, de modo a evitá-las;
- Evite práticas como o consumo de álcool e drogas ilícitas que possam pôr em risco o seu bem-estar e o de quem você gosta;
- Não abandone o tratamento, pois é ele, associado a outros fatores, que permitirá que você possa lidar melhor com o transtorno.
- Tire da sua mente que você é a única pessoa com TPB, afinal, além dos “meros mortais”, há personalidades da mídia que possui o transtorno, tais como Angelina Jolie, Jim Carrey, Woody Allen, Britney Spears, Kurt Cobain, Christina Ricci, Hugh Laurie, Monique Evans, Lindsay Lohan, Marilyn Monroe, Princesa Diana entre outros.
E se for alguém próximo?
- Busque informação com profissionais da área da saúde mental, de forma a esclarecer eventuais dúvidas, assim você poderá auxiliar no tratamento e no bem-estar dessa pessoa;
- Nunca, em hipótese alguma, encare ou sugira que alguém que possui TPB seja louco, pois, além de ser uma inverdade, pode agravar os sintomas e, em casos extremos, ocasionar situações de perigo à vida de quem tem TPB e daqueles que estão em seu laço afetivo;
- Em casos de crise sintomática, busque apoio dos serviços públicos ou privados, tais como o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), clínicas especializadas ou a própria rede pública e privada de saúde, e, nas situações que envolvam ameaça à integridade física tanto da pessoa com TPB, como de pessoas próximas a ela, considere ligar para órgãos como a polícia e/ou o corpo de bombeiros.
Depois de todas essas ponderações, ainda é imprescindível salientar que o TPB não é uma condição degenerativa, invalidade e que impede o convívio social, afetivo e sexual.
Com os devidos diagnóstico e tratamento, o portador de TPB pode viver uma vida minimamente afetada pelos sintomas. E o pior sintoma relacionado ao TPB é, sem dúvida, a ignorância em relação ao transtorno, pois gera situações de preconceito e desinformação, e esse é o sintoma que deve ter a maior atenção por parte de todos.
Então, se você foi diagnosticada com TPB ou possui alguém próximo que foi, não perca tempo e busque tratamento e informação. Lembre-se que, em todos os casos, quando você não é a própria cura, é alguém que faz parte dela.
Ah, vale lembra que este texto possui caráter meramente informativo, não substituindo, em hipótese alguma, o diagnóstico realizado por profissionais, tais como psiquiatras, psicólogos e psicanalistas.
Então, caso apresente mais de um dos sintomas acima mencionados e isso esteja causando dificuldades na forma como você lida consigo mesma e com as pessoas a sua volta, considere buscar apoio profissional.
Fontes:
- LOPES, Yan de Jesus. A psicopatologia do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) e suas características diagnósticas.
- NATIONAL INSTITUTE OF MENTAL HEALTH. Borderline Personality Disorder.
- R7. Veja as celebridades que sofrem com o transtorno de borderline.
- SANTOS, Guilherme Geha dos; NETO, Gustavo Adolfo Ramos Mello. Pacientes, problemas e fronteiras: psicanálise e quadros borderline.