Doença do silicone: explante mamário é moda ou necessidade?
O Brasil está em segundo lugar no ranking mundial de cirurgias plásticas, o que mostra que esse tipo de procedimento tem se popularizado cada vez mais, sendo procurado por milhares de mulheres como uma solução para quem busca mais autoestima e felicidade, além da aceitação do próprio corpo.
No último ano você pode ter percebido que várias blogueiras, artistas famosas e influenciadoras publicaram fotos com suas próteses mamárias nas mãos e muito felizes com o resultado. Mas não por colocarem uma prótese de silicone e sim por retirá-las e isso ocorreu por conta do surgimento de alguns casos conhecidos como a Doença do Silicone.
Esse é um assunto polêmico para algumas pessoas. Existem homens e mulheres que não acreditam que a doença com diversos sintomas físicos é real ou acham que as influenciadoras e artistas estão tirando as próteses pelo hype. Então, nos perguntamos: será mesmo “modinha” essa história de explante? É o que vamos entender melhor nas próximas linhas.

O que dizem os especialistas sobre a Doença do Silicone
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a Doença do Silicone é caracterizada por alguns sintomas sistêmicos relacionados ao implante mamário. A doença ainda não é reconhecida no meio científico e a ainda não possui nenhuma conclusão com relação direta do Breast Implant Illness (BII) com sintomas relatados pelas pacientes.
Para o médico e cirurgião plástico Bruno Luigi, que é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, falando um pouco dos riscos como qualquer outra cirurgia estão envolvidos alguns riscos e chances de complicação sejam elas precoces ou tardias, por isso tudo é esclarecido tanto na consulta quando em um contrato onde estarão todos os cuidados e riscos do procedimento.
Alguns deles são casos de urgência e emergência ou complicações como acumulo de líquido (seroma) ou quando existe o seroma tardio, que ocorre após mamoplastias com próteses de silicone tem como causa principal um trauma na região da mama. O que a instituição reconhece cientificamente é Síndrome Ásia que seria Síndrome Autoimune Inflamatória que consiste no desenvolvimento de uma doença autoimune onde o indivíduo geneticamente predisposto a gerar essa inflamação como resposta a um adjuvante que não necessariamente é a prótese de silicone.
“Pode ocorrer por conta de outras próteses como, por exemplo, as próteses metálicas de quadril e até mesmo certos preenchedores faciais como PMMA também podem induzir a esse tipo de resposta inflamatória”, esclarece.
Por isso é fundamental o acompanhamento de um reumatologista para avaliação a fim de descartar a possibilidade de outras doenças como Lúpus, Esclerodermia e a Fibromialgia, por exemplo.
O início de um sonho
Marina Ferreira, de 28 anos, mostra que a realidade pode ser bem diferente. Quando a jovem decidiu realizar a cirurgia de implante de silicone teve o apoio da família, mas não pensou nas consequências que isso poderia me trazer no futuro. Ela conta ainda que no início a família não apoiou 100%: “Minha mãe tentou me colocar na terapia por achar que o que eu precisava era me aceitar do jeito que eu sou, mas a gente às vezes não ouve quem sabe o que é melhor pra gente, né?”, relembra.
No dia da cirurgia, os pais da jovem estavam lá para dar toda a força e apoio mesmo não concordando com a decisão da filha. “Eu estava cega e nada iria me fazer mudar de ideia em relação ao aumento dos seios, e assim fiz”, complementa.
Em um post em uma rede social, ela divulgou um relato muito pessoal onde conta a sua história como um pedido de ajuda: “Eu entendo o julgamento, por muito tempo custei a acreditar e aceitar, e por muitos anos eu não tive nenhum sintoma”, relata.
Entramos em contato com ela para saber um pouco mais e ela contou que colocou silicone a oito anos atrás com apenas 20 anos de idade. “Eu era uma moça muito insegura que odiava o tamanho dos seios e achava que ficaria mais feminina se colocasse silicone”, complementa. Ela conta que morria de vergonha de usar biquíni e chegava a usar dois sutiãs de uma vez porque eu tinha vergonha do próprio corpo.
Deu tudo errado: o pesadelo

Marina relata ainda que por muito tempo estava feliz com as novas próteses, mas o pesadelo começou nos últimos dois anos quando ela começou a sentir vários sintomas como fadiga crônica, olhos secos, dor nos músculos, perda de memória (o mais forte, conforme o seu relato), vertigem, depressão. “Os cirurgiões plásticos geralmente não te falam todas as coisas ruins e a quantidade imensa riscos que as próteses podem te trazer”, destaca.
Depois de fazer vários exames e consultar diversos médicos para entender a causa de tantos sintomas e receber devolutivas de que ela era uma pessoa completamente saudável, a jovem começou a estudar sobre a Doença do Silicone na internet, pesquisando páginas sobre o assunto e descobriu que existem vários relatos de mulheres sofrendo com o mesmo problema. “Tenho a sensação de estar morrendo aos poucos e levei um tempo pra aceitar de que eu posso ter essa doença”, relata.

Famosas que apoiam a causa
Algumas famosas como Amanda Djehdian, que ficou famosa entre o grande público ao participar do ‘BBB 15’, influenciadora digital Evelyn Regly também realizaram o procedimento recentemente e defendem a sua realização nas redes sociais.
Para o médico especialista, Bruno Luigi, esse tema de fato tem uma relevância muito importante tanto no Brasil quanto no mundo, mas ainda faltam dados para que se comprove cientificamente e, ainda de acordo com ele, é importante lembrar que a prótese de silicone já vem sendo utilizada há mais de 60 anos em todo o mundo e é um dos dispositivos médicos mais utilizados e estudados no mundo.
Ele destaca que muitas vezes, antes de se tentar a retirada da prótese, pode-se tentar outros tratamentos alternativos com medicamentos e anti-inflamatórios dependendo muito de cada caso. “De fato, é fundamental que exista toda uma investigação minuciosa que deve ser feita e cada paciente deve ser avaliado individualmente para que seja feita a retirada apenas em último caso”, orienta.
“A paciente deve estar ciente das complicações e limitações estéticas do resultado bem como dos possíveis efeitos como a não melhora dos sintomas sistêmicos”
Dr. Bruno Luigi, cirurgião plástico.
Pode-se considerar também entre os principais riscos, a existência de um linfoma de grandes células que é um câncer muito raro, mas mesmo com as probabilidades sendo mínimas, hoje já existem testes para identificar o mais rápido possível, onde existe realmente a necessidade de retirada das próteses que posteriormente serão encaminhadas para análise. “Outros casos de complicações são hematomas (acumulo de sangue) queloides, cicatrizes hipertróficas, entre outras”, ressalta.
Entretanto, quando a paciente já possui as próteses e deseja realizar o explante deve ter sua queixa minuciosamente analisada, pois suas queixas podem não estar relacionadas a prótese em si, pois isso ainda não está comprovado ainda cientificamente. “Por isso, a paciente deve estar ciente das complicações e limitações estéticas do resultado bem como dos possíveis efeitos como a não melhora dos sintomas sistêmicos”, complementa o especialista.
O futuro de Marina
A jovem mora atualmente na Nova Zelândia e está determinada a realizar o procedimento, mas por ainda não ser residente, não consegue voltar para o Brasil por conta das fronteiras fechadas e pede apoio para conseguir o valor suficiente para a cirurgia de explantes (retirada das próteses) no local onde reside. “Agora eu vejo que minha saúde é mais importante, estou aprendendo a me aceitar do jeito que eu sou, afinal, quem falou que seios pequenos não te deixam feminina?”, ressalta. Se você quiser ajuda-la nessa jornada basta acessar a página que ela criou para arrecadar doações. Para finalizar, Marina ressalta que não é contra cirurgia plástica e fazer o que você quiser pra se sentir bem, mas é contra toda a falta de informação por parte da indústria da beleza. “Acho importantíssimo saber de todos os riscos antes de tomar uma decisão tão séria“, alerta.
“Quem falou que seios pequenos não te deixam feminina?”
Marina Ferreira, 28 anos.
Se quiser saber mais sobre a Doença do Silicone consulte um médico especialista.