Encontro imperfeito
Foi na última quarta-feira que recebi o texto da usuário Fábia sobre um encontro imperfeito. É claro que isso ocorreu comigo, mas para poupar os desvios de assunto, meu azar para encontros e tentativas em vão, inverti os papeis. Aproveitem!
Eu enviei mensagem pela primeira para o gato em 4 de março.
Desde lá, eu comentai algum story ou outro sempre tentando chamar sua curiosidade, ou atenção. Foram mais quinze vezes até em 21 de agosto enviar:
“Bom dia. Solteiro?”
Eu pensei que ele ia responder. Fique no vácuo, mas eu não tinha nada a perder. Segui, né? Sempre comentando seus stories. Mais oito vezes até em 19 de setembro tentar outra vez:
“Boa tarde. Como faz pra namorar você?”
E lá se vão meio ano de investimento em algumas publicações. Não liguei e continuei. Comentei mais quatro stories em dias separados.
Até que…
“Boa tarde. Solteiro?”
“Boa tarde, sim.”
Não aguentei com o que eu estava vendo. Curti aquela mensagem clicando duas vezes. Foi a primeira resposta. Não demorei para avaliar o melhor story que ele havia feito e comentei em cima:
“Como posso enviar meu currículo?”
Foi algo bem pensando sabe? Acho que consegui chamar a atenção a partir desse ponto mesmo. Eu havia enviado a mensagem às 16h41 de 28 de setembro, às 19h59 estava tomando café na cozinha e fui surpreendida.
“kkk”
Foi um riso. Ele riu?
E lá eu toda boba com o celular na mão rindo com aquele sorriso no canto da boca como uma Mona Lisa de Da Vinci. Pensei: vou esperar um tempo tempo, né? Aí eu envio uma mensagem já com alguma pretensão. Às 21h24 tive a ideia:
“kkk”
“Qual a sua altura?”
E deixei o celular em cima da mesa. Passeio a dar atenção aos trabalhos da UFPel. A noite estava um agradável e, depois de ter tomada café, banho e feito os exercícios da universidade ia deitar. Talvez ver alguma série ou filme na TV ou no Youtube. Ele respondeu:
“1,82”
Não sei o que aconteceu comigo porque não vi a mensagem na hora. Devo ter apagado quando assisti ao filme.
Se bem que só consigo lembrar meio filme, ultimamente tenho andado muito cansada e acho que já me habituei em desligar no meu de um programa ou série. Acordei às 02h47 e respondi:
“Oh! Ótimo. Tenho 1,72.”
Talvez eu esteja errada ter enviado aquela mensagem tão tarde assim. Tudo bem. Recupero em outro story que dê oportunidade. E deu! No dia seguinte, às 23h32 curti três e lancei a dúvida no ar:
“Você é muito ciumento?”
“Depende.” – Ele respondeu.
“Se tiver motivo sim.”
Cliquei duas vezes. Curti.
Olhei para aquele coração e acho que fiz interpretar de uma outra forma. Talvez não nos acertamos no primeiro passo. Esperanciei por um momento melhor. No outro dia, no meio do trabalho remoto, às 09h31, respondi:
“Boa resposta. Eu penso da mesma forma.”
Eu tava habituando-me com aquela ideia de começar, tomar a iniciativa. Era tudo novo.
“Tem hobbys? Coisas de que gosta de fazer no lazer?”
Uma pergunta mais atrativa talvez. Não sei como poderia tornar mais agradável a partir daquele ponto, mas ele respondeu. Não esperava outra resposta, sabe porquê?
“Academia. kkk”
Sim, das “trocentas” mensagens que curti dele, umas 75% ele estava malhando. E não seria indecente de minha parte se eu o descrevesse como gostaria. Por respeito a ti, Thales, vou passar essa. Eu segui o roteiro. É claro que não sou boa no assunto da academia.
“kkkk Eu também. Além de estudar e ler bastante.” E mandei aquela carinha risonha sorrindo de olho fechado.
“Tem tatuagem?”
Não sei o motivo dessa minha pergunta. Eu o acompanho todo dia e ele deve ter umas sete tatuagens. Eu não tenho. Fiquei com medo dele perguntar alguma coisa que eu não soubesse responder como deveria.
Para o meu azar, fiquei no vácuo. Não foi camarada. Não gostei dessa vez, mas tudo bem. São aprendizagens.
Deixei passar um tempo para sugerir desinteresse. Acabei curtindo dois stories em 04 de outubro. Nesse dia, eu treinei vôlei e a equipe me puxou.
Cheguei em casa já era noite, tomei banho, comi alguma coisa e toquei fogo no parquinho:
“Oi. Tá disponível quarta para gente marcar um cinema?”
Correu um frio na barriga.
Deixei a mensagem lá: boiando igual aquelas espaçonaves da NASA voando no espaço. Não senti remorsos dessa vez. Cansei de esperar iniciativas.
Cheguei a me preocupar pensando: será que não estou exigindo demais de mim mesmo.
Deixei passar dois dias. Curti mais um story. E…
“Boa noite. Como foi seu dia?”
Passou a noite, a manhã, foi me responder de tarde:
“Ai tá difícil essa semana. Minha mãe teve problemas para respirar e não estou conseguindo ficar em casa agora. Sou novo no trabalho e não está dando tempo para ir à academia. E não tô podendo trabalhar para cuidar dela. Tá foda.”
Aquela mensagem foi como banho de água fria para mim. Quem diria um cara tão atencioso, apegado à mãe, estava doando seu tempo para ela.
Comecei a entender os motivos das demoras na respostas e criei um mundo paralelo na cabeça que captava informações que não existiam. Não vou descrever aqui. Por ora, acredite, é só. Mas não aguentei.
“Nossa. Minhas esperanças de melhoras para ela. Força meu bem. Bora Ricardo.”
E enviei um coração e uma carinha jogando beijo.
“Tudo vai ficar bem.” Com o emoji das mãos em oração.
“Eu vou rezar por ele.”
E rezei. Não foi aquelas orações dos filmes, mas pedi ao Papai do Céu dar uma mão na situação nossa e na mãe dele. Até nessa hora, tentei aproveitar a oportunidade.
A noite ainda curti mais três stories dele e envie uma mensagem repetida.
“Quais são seus hobbies?”
Talvez tenha errado nesse sentido. O que eu poderia fazer? Queria mais informações. Para se gostar precisa.
Aí seguiu uma linha de curtidas.
Dia 13 de outubro curti dois stories.
Dia 17, mais quatro.
Dia 18 um e, dia 20, mais um.
Na noite do dia 20, experimentei perguntar selecionado a mensagem que trata da mãe dele.
“Como está o seu pai? Melhor?”
E curti ainda durante o dia dois stories. Ele respondeu:
“Haha E aí, como tá?”
Foi a primeira vez que ele começava uma curtida. Vou aproveitar o máximo.
“E aí?” Com aquele emoji de carinha sorridente.
“Tudo tranquilo? NH é bem pertinho de Canoas sabia?” Mais um emoji bisonho.
“A gente podia combinar um cinema, um jantar né?”
Eu acho que arrepiou esse momento:
“Pra gente se conhecer.” Com um coração.
Enfim, depois de digitar por 30 segundos que pareciam horas, meses, ele respondeu:
“Podemos mesmo.”
Não quis demorar. A gente não sabe quando temos oportunidade de novo.
“Tem compromisso próximo sábado?”
“Não. Poder ser. Hehe” Cabei curtindo o “pode ser”. Não sei se fiz mal. Continuei:
“hahaha Combinado.”
E fim. A partir daquele momento. Se eu mandasse gato de botas ele riria e mandaria um vídeo dele dançando de botas com uma gata. Já pensou? (Hahaha)
No dia seguinte, às 09h05:
“Bom dia.”
“Bom dia.” Cliquei duas vezes. Eu tenho que perder essa mania de fazer isso.
Passado o almoço, às 12h40, mandei:
“Tudo bem?”
Pensei que eu ia ficar no vácuo. Para amenizar o momento, curti um story e mandei:
“Já almoçou?”
“Bah, tô cheio de pepino pra resolver.”
Deixei o tempo passar pra jogar ao meu favor.
“Eitcha. Se precisa de ajuda.” E mandei o emoji piscando um olho. Poderia ter enviado outro.
“Só se for ajuda financeira. kkk.” Curti rindo a mensagem também.
“Me embananei nas contas esse mês porque tive que ajudar meu pai que operou. Agora tô sem o dinheiro do meu condomínio. E pra ajudar acho que vou ter que chamar um encanador e um eletricista para arrumar alguns canos e aparelhos aqui em casa. Tá complicado.” E mandei o emoji de “uau”.
“Bastante pepino.”
“Só namorando, casado.” Envie para a mensagem da ajuda financeira e mais o emoji rindo alto.
“Sim, desde esse tempo a gente se falando. Como ele tá?” Para a mensagem das contas.
“Bah, não tenho ninguém pra indicar.” Sobre o encanador e eletricista.
Mas eu não ia perder a oportunidade de sair com ele.
“Quer jantar sábado?”
Fiquei no vácuo. Mas poderia acreditar. Mas não deixei.
“Vamos comer pizza, sushi ou churrasco?” Enviei sobre um story pra ele.
“Gosto de todos.” Curti na hora.
“Opa. (com o emoji da língua de fora de delícia) Aceito a pizza, que acha? Pode ser pelas 20h? Vou demorar uns 30min até aí?
E nada.
“?” Mandei depois de selecionar o horário.
Nada.
Não perdi a concentração. No outro dia, às 08h15 enviei:
“Bom dia.”
Nada.
“Dormiu bem bebê?”
Nada outra vez. Vácuo forte.
“Dia bom bb?” Lá pelas 23h17.
Nada sobre nada, igual a não sou capaz de opinar. Uma tragédia pior que um susto de um gato vendo no computador.
No último sábado curti dois stories e lá se foi:
“Tudo bem?”
Mais um vácuo na carteira.
“Que horas a gente sai?”
Vento. Nada. Zero.
Domingo, às 04h43, triste, respondi com um minucioso:
“Ok.”
Prometi que não tentaria mais.
Lorota!
Segunda-feira, quatro curtidas de stories.
Terça-feira, mais duas. Quem eu estava enganando?
Foi quando na quinta-feira:
“E aí, fazendo o quê de bom?”
“E aí? Tava participando de um processo seletivo. Tô na segunda fase agora para Gerente no Bradesco. E você?
“Agora tô em casa. Ocupado o dia inteiro?”
Opa, ele falou o que eu queria ouvir.
“Não depois das 17h30.”
“Quer jantar hoje?” Levantei da cadeira na hora. Receber uma proposta assim.
“Aceito.” Pra quê pensar?
“Certo então.” E curti a mensagem dela.
A tarde acabei enviando…
“Que local tem em mente?”
Ele envio uma foto que não tenho como descrever aqui.
“Pode ser. É algo interessante. O que gosta? Massa, sushi, algo descontraído?”
“Sushi.” Com aquela carinha de tristinho sabe.
“É uma boa escolha.” E enviei o emoji piscando o olho.
Ia escolher o local ele alterou.
“Eles fizeram um lounge bem legal. Estava reconstruindo.”
“Hummm Parece ser muito bonito. Você tem bom gosto.” E envie agora separado da mensagem, em mensagem própria o emoji piscando o olho.
“kkkk Tu também. Qual tua altura?”
“kkk 1,72 E a tua?”
“1,82.” Curti na hora.
“Oh, gostei. Duas características que notei: elegante e muita energia. Confere?”
“Sim. kkk Acho que sim.”
“kkk Então, seguimos.”
No dia agendado, no momento marcado, na hora ‘h’…
Só enviei dois áudios de 45seg e 31seg respectivamente. Nada de mais. Fez-me tão bem.
Cadê ela?
E não respondia mais o Instagram.
Mandei meu número: nada.
“Acho que não vou liberar a tempo.”
Foi um golpe duro. Eu ficava 30min de distância, recusei jantar com meus pais, não participei de uma palestra em um curso e adiei um trabalho para a universidade. Essa doeu.
Eu fui igual.
O que ele fez? Bloqueou-me no Instagram. Não tinha remédio. Entrei na página de usuário e consegui o número comercial.
Mandei mensagens no WhatsApp. Ele respondeu uma hora e meia depois.
“Estou em casa.”
Enviei voto do local, do sushi, dos pratos.
“Pode mandar um Uber pra cá?”
“Uber?! Enviado.”
Sim, paguei um Uber pra trazer ele até mim. Estava segura para isso.
Quando ele entrou pela porta e sentou à cadeira na mesa em minha frente meu coração ficou quente e frio ao mesmo tempo. E aí? Bora coração!
A conversa durou uma hora. Comemos a sobremesa juntos.
Apresente-me à moda americana onde eu falo por cinco minutos, depois ele faz perguntar e eu respondo. Depois ele se apresentou, fiz perguntas.
Foi muito legal.
Acabado as refeições. A conta.
Doeu na alma aqueles R$391,73. Foi a refeição mais cara que eu paguei.
Ainda falta um beijo. Lancei minha sorte no carro.
Quando fomos até ele tentei segurar a mão dele, sem sorte: escorregou enquanto eu estava dirijindo e ele estava mexendo no celular.
Levei-o até seu apartamento. Despedimos-nos.
Nenhum beijo. Só nos aproximamos.
Aquilo não foi com o que pensei e desejei,.
Não rolou a química? Pra mim com certeza. Com aquele homem do meu lado tinha, sobrava e vendia química.
Parece que curti sozinha.