Sobre a Feira literária de Paraty, Adelaide Ivánova e o Feminicídio
Se tem algo que eu gosto nessa vida se chama feira. Tem atividade mais agradável do que ir a uma feira, seja ela de qual segmento for? Não tem, não.
Comida, vestuário, produtos de beleza, feiras regionais e sim, feiras literárias com venda de livros ou encontros com escritores legais. Tem algo que agregue mais? E que seja mais maravilhoso? Tempo tão bem gasto e administrado. Tudo o que envolva literatura não é novidade que mora em meu coração. Por essa razão, a conversa que teremos hoje nesse texto é sobre a FLIP – Feira literária de Paraty. E mais especificamente falaremos sobre uma poeta e seu poema que entrou em minha alma e nela ficou.
Feira literária de Paraty, Adelaide Ivánova e o Feminicídio
Sobre a feira
O próprio nome já revela a sua localização geográfica. A FLIP que acontece desde 2003 às margens do rio Perequê-Açu em Paraty, em uma tenda montada especialmente para a festa.
Ela conta com figuras influentes da literatura que se encontram para debates que transitam pelos mais variados temas. As características que refletem a essência da FLIP são intimismo, informalidade e originalidade. Essas nuances são mantidas a cada edição da feira, que tem como o cenário, além das tendas, bate papos em roda, e toda essa forma despojada de praticar atividades importantes.
Seus personagens
Vale lembrar também que a cada ano a feira homenageia um nome da literatura brasileira a fim de incentivar o conhecimento acerca da mesma e sua valorização por nós, filhos da mesma terra. Esse ano o grande homanegeado foi Afonso Henriques de Lima Barreto, mais conhecido como Lima Barreto. Grande escritor e jornalista que publicou crônicas, romances, sátiras, contos e uma grande coleção de obras em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas. PERIÓDICOS são publicações físicas ou digitais sobre temas específicos.
Após a sua morte teve grande parte de sua obra reapresentada às pessoas e publicada graças ao esforço e cuidado de alguns pesquisadores, entre eles, Francisco de Assis Barbosa. Sendo Lima Barreto considerado um dos escritores mais importantes e influentes do Brasil.
A FLIP se desenvolveu graciosamente e contou com grandes nomes e participações. Eu tenho certeza que você ouviu falar, ou viu a foto da professora Diva, que nos presentou com o seu desabafo sobre as mazelas que sofreu em sua vida devido ao preconceito racial e também acerca das várias formas que a EDUCAÇÃO pode salvar vidas.
E também do ator, cineasta e escritor Lazaro Ramos. Ele deu um verdadeiro show em várias participações que teve. Uma delas foi na abertura da feira lendo trechos da biografia de Lima Barreto (Lima Barreto – Triste Visionário).
Foi uma feira política
Com vários temas atuais e polêmicos, foi um grito alto para quem precisava gritar. Um dos temas abordados foi o feminicídio, que é o crime de assassinato baseado em gênero, nesse caso o feminino. Ele tem como causa o machismo e a cultura machista pela qual somos criados.
Em uma das abordagens desse tema, tivemos a poeta e escritora Adelaide Ivánova com a leitura de seu poema “A foto está online“. Ela fala e descreve, ao som de sua voz, os mais diversos assassinatos assistidos, alimentados, fotografados e compartilhados em redes sociais e na tv aberta, mas nunca de forma efetiva, combatidos. Como o de Eliza Samudio e Eloá Cristina, por exemplo.
É como se após assistir ao vídeo com a interpretação do poema, ficasse um zumbido em seu ouvido que te impede de focar em qualquer outra coisa. É como se tivessem te dado um soco bem acertado no meio da sua fronte e você precisasse levantar e se recompor pra continuar a vida.
É fato que pouco é feito em combate ao feminicídio. A lei não pune de forma severa e, por conseguinte, não previne e/ou intimida. Parte da mídia, que poderia ser uma voz pesada em combate a essa terrível luta, prefere se calar. Nós, enquanto indivíduos, ou nos calamos, ou falamos e não somos ouvidos. Ou alimentamos, mesmo que de forma não intencional, por certos discursos ou atitudes. A justiça falha, parte da mídia falha, a sociedade falha.
Falhamos todos, infelizmente
Por essas razões, continuamos tendo notícias como as que temos todos os dias. Sangue e mais sangue. Uma hemorragia que, ao que parece, está longe de ser contida. Nessa leitura nos deparamos com uma verdade bem indigesta.
Eu gosto sempre de trazer à tona personalidades que valham a pena ser conhecidas, e dessa vez eu trago Adelaide Ivánova, uma escritora, fotógrafa e poeta de Recife, e seu poema “a foto está online”:
Vale ressaltar que a edição de 2017 da Feira literária de Paraty contou com a curadoria de Joselia Aguiar, que carinhosamente e cuidadosamente junto à equipe de organização e cuidou dos detalhes do evento.
Foi marcante, lindo e necessário. Deliciem-se.
Imagem: Walter Craveiro – fotos públicas/El País
E o que vocês responderiam a essa pergunta aqui abaixo, feita por uma de nossas usuárias do Clube Superela?