Hannah Gadsby, a pessoa que a Netflix quer te apresentar
Hannah Gadsby estreou seu stand up comedy “Nanette” no dia 19 de junho de 2018. E desde então, vem sendo exaustivamente comentada e ovacionada e não é para menos, é claro. Ela nos traz uma hora e alguns minutos mais de pura emoção. Falta o ar, e sobra lágrimas e reflexão. A única comédia que me fez chorar, rir e os dois ao mesmo tempo.
Ela nos conta sua história, seus desafios, casos muito íntimos e delicados de agressões sofridas por ela, a descoberta da sua homossexualidade e a aceitação da mesma, a relação com a mãe e a família antes e depois de “sair do armário”, até os dias de hoje. Hannah nascida e criada na Tasmânia, uma ilha australiana, vem de uma pequena cidade chamada Smithton, onde ironicamente ser homossexual era considerado crime até 1997.
Formada em História da Arte, ela nos ajuda a enxergar como a arte nos levou por muitos anos a colocar a reputação dos artistas acima de suas respectivas humanidades, permitindo comportamentos abusivos e agressivos sem nunca puni-los de forma correta. Ou por medo, intimidação, hierarquia.
Ela cita nomes como Bill Cosby, Harvey Weinstein, Woody Allen para exemplificar. Homens poderosos que tiveram comportamentos totalmente inaceitáveis e conseguiram ainda sim, se manterem sob os holofotes.
Outro exemplo, que ela nos oferece é nos chamar para a reflexão sobre o porquê de Monica Lewinski ter sido alvo de tantas piadas ultrajantes e humilhantes e o mesmo não ter acontecido com Bill Clinton, pelo menos não na mesma proporção. Ela nos traz temas vitais e nos tira da superficialidade para tentarmos enxergar que o patriarcado desde muito tempo atrás até os dias de hoje, segue sendo implacável e esmagador com as mulheres e os homossexuais.
Como ela mesmo ressalta, as piadas são feitas de tensão para em seguidas serem desmanchadas com a chamada “punchline” e as risadas. Se aproveitando dessa tensão ela nos leva a mais um momento de reflexão profunda quando nos confidencia que o estilo de comédia de “autodepreciação” não faz mais sentido para ela enquanto ser humano:
“Porque, vocês entendem o que autodepreciação significa quando vem de alguém que já está à margem? Não é humildade. É humilhação. Eu me rebaixo para falar, para obter permissão para falar. E eu simplesmente não vou mais fazer isso, nem a mim nem a ninguém que se identifique comigo”, nos diz Hannah.
Ela nos deixa sem fôlego em vários momentos, não somente esse. Ela nos pede empatia, e nos avisa que nossa história é uma só história e que estamos totalmente conectados.
Você não termina de assistir a essa maravilhosa stand up sendo o mesmo ser humano que deu play, no início. Hannah é um ser humano que nos oferece todo o tipo de emoção durante o tempo que segura todo o público na palma de sua mão em um teatro imenso.
Cativante, verdadeira, forte. Ela se empodera, nos empodera e abre nossa mente para tudo o que está acontecendo, e tudo o que nós enquanto integrantes de uma sociedade doente estamos deixando acontecer. É preciso que estejamos atentos e atentas. Ela não é apenas uma hora de entretenimento, ela pode ser o acordar de muita gente. Não percam a oportunidade de fazer com que Hannah seja uma conhecida sua.
Vocês vão amar essa mulher, veja Hannah Gadsby na Netflix.
Imagem: Reprodução / Netflix