Não construa contos de fadas em relacionamentos tóxicos
Nosso primeiro contato com histórias de amor são as dos contos de fadas. Quem nunca ouviu a Cinderela, Branca de Neve, Bela Adormecida, Bela, Ariel? Pois bem. É por meio desses contos que nós estimulamos nossa imaginação e passamos a acreditar que, um dia, viveremos um conto de fadas como nos filmes da Disney, não é mesmo?
No conto, a mulher sempre é indefesa, passiva. Ao invés de lutar pela sua liberdade e sonhos, está na busca incessante pelo parceiro ideal. O personagem feminino tem, como escolha feliz, o beijo de amor, o casamento.
A falta da completude fez das princesas da Disney personagens sem identidade, apáticas e submissas. Porém, não podemos esquecer que essas histórias foram escritas no período da caça às bruxas e do patriarcado. Ou você acredita mesmo que, naquele tempo, a mulher poderia expressar sua opinião? Ou melhor, você acha que a Chapeuzinho Vermelho foi devorada pelo lobo só por andar sozinha na floresta?
Por acreditar em contos de fadas, muitas mulheres sofrem relacionamentos tóxicos.
Todos eles com abuso psicológico, físico e emocional. E tudo porque creem que o amor a tudo suporta, a tudo sofre. Cresci ouvindo e amando a história da Bela e a Fera. Para mim, o que tornava bonito era como a Bela transformava a Fera em um homem melhor. Fora isso, cresci em um ambiente familiar onde meu próprio pai tinha lapsos de agressividade e ignorância, com amigas que romantizam relacionamentos fracassados.
Aos 26 anos, tive um relacionamento tóxico. Para mim, naquela época, ele era digno de filme de contos de princesas. Porém, ele não tinha um relacionamento bom com a mãe e perdeu seu pai aos 7 anos. Vivia em pé de guerra com tudo e todos e, aos poucos, foi me afastando da família, dos amigos, do trabalho e dos estudos.
Fui perdendo o brilho e me perdi de mim mesma. Vivia em função dele, pois acreditava que podia mudá-lo. Afinal, se a Bela conseguiu domar a Fera, eu acreditava que poderia mudá-lo também, não é? Mas, com o tempo, percebi que ninguém muda ninguém. E, mais importante, que todos nós temos o poder de escolher o que somos,
queremos e fazemos, e que os abusos e dificuldades afetivas ocorreram por não ter enxergado o parceiro e a sua história como realmente é.
Chega de falsos contos de fadas, chega de violência!
Por fim, algumas dicas são importantes e servem como alerta para outras mulheres. Então lá vai: não construa contos de fadas em histórias que você sofre abuso verbal, psicológico ou físico. Não romantize instabilidades e tensões constantes. Se você está em um relacionamento em que seu parceiro(a) é intenso em excesso, tornando-se algo obsessivo.
Tudo tem que ser do jeito que ele quer e com traços narcisistas? Não insista neste relacionamento! Se ele sempre afirma que vai mudar, amiga, ele não é a Fera. Você não vai mudá-lo. É necessário perceber os padrões repetitivos e destrutivos. Relacionamento não é um jogo de xadrez em que a fraqueza do outro é avaliada.
Onde não há respeito, não há amor. Busque ajuda, certo?
O silêncio nunca vai ser a melhor resposta nesta situação, sua voz é importante não só para você, mas para outras mulheres também.
Por se tratar de um tema muito complexo e polêmico – tanto para quem vive quanto para quem convive, procure ajude de um profissional especializado para identificar a sair desta situação, mas qualquer violência doméstica, ligue 180 para a Central de Atendimento à Mulher. Juntas, somos mais fortes.