Não romantize a Mulher Maravilha! Sobrecarga não é superpoder
É fato que a Mulher Maravilha, heroína criada pela Marvel desperta um certo orgulho e afirmação do poderio e do engajamento feminino. Ocorre que o termo tem sido usado para designar mulheres que são obrigadas a desempenharem inúmeros papéis. Tendo que conciliar família, filhos, vida profissional em jornadas exaustivas, vindo a adquirir diversas doenças e síndromes como pânico, insônia, ansiedade e consequentemente depressão.
Como todo ser humano, a mulher, com uma sobrecarga vinda de todos os lados, acaba tendo que escolher e claro, acaba deixando seus sonhos, sua carreira de lado, para dedicar-se de maneira praticamente integral, à família.
Para as mulheres que ainda assim decidem ir em busca de seus sonhos, são julgadas como insensíveis, que não ligam para a família, precisam desenvolver técnicas de estudo e trabalho. Não há mais tempo para se desmanchar no sofá e assistir aquela série, ou aquele livro tão desejado; fazer as unhas e arrumar os cabelos se resume em estarem limpos.
Cozinhar, passar, lavar, limpar, cuidar, educar, acompanhar, pagar contas, se aperfeiçoar, estudar, se cuidar, se arrumar… essa é a rotina de milhões de mulheres.
Por que a mulher é tão sobrecarregada de tarefas?
Pelo simples fato de a sociedade não atribuir absolutamente nenhuma responsabilidade aos homens.
Tornou-se exaustivo ouvir e ver as pessoas aplaudirem o homem que lava a louça, que cozinha, que cuida dos filhos. Para a maioria ele está “ajudando” sua companheira. Como se tais fardos fossem apenas de responsabilidade dela.
Para a mulher conseguir alcançar o cargo tão almejado em sua profissão, ela precisa ser muito melhor, não só na capacidade profissional como em sua resiliência. A mulher não ocupa cargos menores ou menos remunerados porque é menos competente, a mulher que ocupa qualquer cargo precisa competir injustamente com homens que nem ao menos arrumam sua cama ou que lavam suas roupas.
Um homem que entra às 7h no trabalho, se acordar às 6h, consegue tomar seu banho, seu café, vestir sua roupa passada e ainda falar um tchau para toda a família. A mulher que entra às 7h no trabalho precisa acordar às 5h para passar suas roupas, se arrumar, arrumar as crianças, alimentar-se, alimentar seus filhos, cuidar da rotina deles, verificar se está tudo ok com as roupas do marido e o café da manhã, e posteriormente partir para uma rotina de trabalho. O máximo que podem ouvir da sociedade é: “Nossa, ela é uma Mulher Maravilha!”
Não, essa mulher não é a Mulher Maravilha dos cinemas que combate o mal. Essa mulher é a mulher sobrecarregada do nosso século, não por falta de competência ou administração, mas sim por falta de sensibilidade dos homens para perceberem que é urgente que assumem realmente seu papel não só profissional, mas familiar.
E mesmo assim, após um divórcio, as pessoas ainda comentam: “Nossa, o rapaz trabalhou a vida inteira e agora ela ainda quer parte do que é dele?!”
Entendam de uma vez: a mulher tem sido constantemente massacrada por suas tarefas e sendo a única responsável pelos seus filhos. É fácil se dedicar 100% à carreira, chegando em casa com o almoço e jantar prontos, com os filhos educados, banhados e alimentados, com a compra feita, com parte das contas pagas. É fácil de se construir algo quando o alicerce já está pronto.
Não queremos ser Mulher Maravilha, isso é para os super heróis. Queremos ser mulheres. Que amam muito suas famílias e até seus companheiros, porém também sonham, também querem crescer em sua profissão, também existem.
Imagem: NY Times