O amor maduro leva pra frente
O amor maduro faz duas pessoas caminharem juntas na mesma direção.
Nós vivemos em uma era de amores líquidos de relacionamentos superficiais que começam e terminam na velocidade da luz e – assim como ela – brilham e se apagam com a mesma intensidade.
São os amores líquidos, como Zygmunt Bauman (1925 – 2017) tanto ressaltava em seus livros, que escorrem feito água pelos dedos de quem tenta a todo custo agarrá-lo. E isso acontece quando as diferenças começam a surgir, seja por falta de tempo, características, desejos e sonhos diferentes ou até mesmo pela falta de dedicação e empenho das duas partes.
E se existe o livre arbítrio, todos nós temos a escolha de não levar uma situação que não está nos fazendo bem adiante, ao invés de optar por potencializar o defeito do outro ou os problemas que toda relação tem.
O que mais vejo por aí são pessoas reclamando dos seus relacionamentos tanto os do passado quanto os atuais ou comparando ambos – quando não comparam o último relacionamento ao atual. Principalmente dos defeitos do outro, comparando ao relacionamento de fulane ou do artista X, ou da blogueira Y.
É muito comum ouvir por aí: “Eu amo fulane, mas…” e é justamente essa conjunção adversativa que parece inofensiva, mas que incomoda e acaba se tornando um empecilho para o amor fluir como deveria ser.
O problema é que enquanto nos concentramos na grama do vizinho, esquecemos-nos de regar a nossa própria grama e assim nada de sólido pode florescer ali.
Existem diferenças naturais em todo o relacionamento que servem de aprendizado, mas que devem ser utilizadas para o crescimento de ambos. Também existem situações em que aquela pessoa com quem a convivência é difícil (e isso vale para todos os tipos de relacionamentos) e desperta o nosso pior lado enquanto outras despertam o nosso melhor e potencializam as nossas qualidades.
Deve-se estar preparado para lidar com as duas faces de uma mesma moeda. E isso nos leva a perceber que também temos o nosso lado sombra que nos leva a pensar que quem não está preparado para conhecer o nosso pior, também não merece o nosso melhor.
Mas você sabe realmente o que é melhor pra você para o outro?
Às vezes, só conseguimos reconhecer o que é bom em nossas vidas conhecendo o lado ruim das relações, seja por meio de experiências ou situações. Infelizmente, tais experiências podem envolver abusos psicológicos, é o tal do relacionamento abusivo.
Como no trecho de uma canção de Letrux que diz: “Até o amor ser bom ele é tão ruim”. É isso que nos faz refletir sobre as nossas experiências passadas e como elas são responsáveis por moldar quem somos hoje, afinal, foram elas que nos trouxeram até aqui.
Muitas vezes destino – ou essa força maior que nos guia – nos prega peças onde coloca em nossas vidas relacionamentos destrutivos. Daqueles que enganam, provocam, iludem, mentem e traem a nossa confiança para que no fim possamos reconhecer e saber dar valor quando finalmente encontrarmos um amor que realmente valha a pena.
Quando amamos uma pessoa a amamos por inteiro – e não apenas as suas partes boas. Não existe ‘mas’ no amor e eventualmente iremos encontrar um amor real. Do tipo mais puro e simples que é construído em bases sólidas através de muito respeito e confiança mútuos.
Mas para isso precisamos de muita maturidade e autoconhecimento para que possamos primeiramente reconhecer as nossas próprias qualidades e defeitos. Sermos melhores pessoas para nós mesmas para só então oferecer a nossa melhor versão a outrem.
O amor maduro leva para frente e faz duas pessoas realmente dispostas e empenhadas a fazerem o relacionamento dar certo caminharem juntas na mesma direção. Sem que nenhuma das partes se sinta presa ou sufocada e sim, que ambas sintam que fazem parte uma da outra e sejam livres para se expressarem e serem quem são verdadeiramente.
E quando nos deparamos com esse amor próprio podemos então nos entregar a um relacionamento que não precisa de promessas e muito menos provar nada para ninguém. Principalmente para aquelas pessoas que estão fora da realidade do casal, pois o próprio relacionamento se basta.
É completamente diferente daquela paixão destrutiva que é vivida à exaustão baseada em jogos de poder que acabam correndo em círculos sem sair do lugar e não levando a lugar nenhum. Afinal, o amor deve ser essencialmente leve e fundamentado em uma troca baseada na reciprocidade e aceitação.
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