O amor pode não ser a chave de ouro
E a gente descobre, juntamente com vários momentos que nos trazem a incerteza de tudo, que o amor pode ser até o fruto mais belo do nosso jardim, porém não é tudo. Não é o único que faz com que tudo floresça. A gente descobre, com um tempo, com dores e pontapés, que o amor não é a chave de ouro. O amor é uma das chaves. E só por ser uma das chaves, torna-se fundamental. E, depois que a gente desvenda o segredo do amor não ser suficiente, tenta encontrar o que é que o compõe. Afinal, quais chaves restam?
O amor é composto. Ele vai crescendo na medida com que seus outros componentes se juntam a ele. O amor é uma coisa engraçada, porque lidera toda a nossa razão, muitas vezes, mas também nos faz nos perdermos nela. E aí a gente sai chutando o balde. Desistindo. E, de repente, sem nem perceber, a gente esbarra com mais uma das chaves: a paciência. Ela nutre aquilo que a gente acha que não tem mais jeito, mesmo que momentaneamente. Porque a gente se deixa levar rápido demais, às vezes sem sequer tentar uma segunda vez. A paciência faz com que a gente perceba que o amor ainda mora ali e que, mesmo que ele seja belo e coisa e tal, nós somos falhos. E, claro, o amor também pode falhar.
O amor é mistério. Aquilo que a gente sabe que existe, mas não entende o motivo. Aquilo que a gente sente, mas não vê. A gente tenta esconder e, quando menos espera, acaba revelando. Se descobrindo, mostrando sua nudez do coração. E aí a gente acaba esbarrando com mais uma das chaves: a descoberta. Uma coisa que nós podemos não ser é concretude, porque somos mesmo é mudança, repentina ou não, mudamos sempre. E com isso encontramos novas coisas para descobrir e o amor possibilita isso sempre que a gente permite.
O amor é uma corda bamba. Já andou em uma? Até para quem nunca o fez, pode imaginar a sensação. E então a gente decide andar de mãos dadas nessa corda. A gente gosta de desafios. É bamba, é? Ótimo, vou enfrentar. E a gente enfrenta junto com aquele ser que ama. E é aí que a gente acaba esbarrando em mais uma chave: a confiança. A gente precisa aprender a confiar no outro com quem decidiu dividir nossa corda bamba. E, por mais difícil que seja, a gente tem que dar a esse amor a chance de confiar de volta. E então descobrindo que o amor não sobrevive sem a confiança, assim como a confiança é uma prova de que o amor é forte.
E por falar em confiança, sabia que o amor é fiel?
Pois é. E é aí que a gente pensa “ah, mas fulano me amava e me traiu”. Eu disse que o amor é fiel, não que as pessoas são. Acreditem, se é amor, vai haver noites intermináveis de arrependimento e tortura. Se é amor, haverá uma série de palavras entaladas na garganta e o travesseiro ficará pesado de tantos pensamentos de como concertar as coisas. E aí entra outra chave: a fidelidade. Ela demora para abrir as portas do nosso coração, mas depois que abre, para que a percamos, basta apenas um segundo. E, como bem sabemos, recuperá-la é ainda pior.
O amor é admiração. Já viu alguém que não admira aquilo que diz amar? Se há amor, há admiração. Temos olhos que buscam o que é belo, buscam o que nos identifica, o que nos deixa aconchegantes ou surpresos de sentimentos bons. Então a gente joga esse olhar para o amor e ele faz toda uma festa, sabe? E não é tudo, porque, com a admiração, a receita é infalível, mas não pode faltar o que podemos chamar de mais uma das chaves: o respeito. É fato, quando a gente admira, respeita. E o respeito é mútuo. É grande, não falha como quem diz besteiras fora de hora. Se há amor, há admiração e se há isso tudo, há respeito em todos os sentidos.
O amor é amigo, sabia?
Ele vai sempre estar lá, mesmo que a gente nem chame. Não esse tipo de amigo estilo âncora. Ele é mais estilo borboleta, desse que te deixa sair do casulo, bater suas asas e voar para onde quiser, que ele, ou irá junto, ou estará aqui esperando você pousar novamente em seu jardim. E então nos deparamos com outra chave: o companheirismo. Porque, há quem pense que o companheirismo é estar grudado sempre, mas a verdade é que só é preciso se fazer presente não apenas nas horas boas, como nas ruins também. E quando digo presente, não digo de corpo e alma apenas, mas dando seu apoio de onde quer que esteja.
E, sabem o que mais? O amor é tudo isso, mas, sabe, a gente custa encontrar todas as chaves e ainda desvendar a importância de cada uma delas. Por isso precisamos da chave que pode ser considerada uma das mais importantes: a persistência. Porque, sabe, para amar é preciso persistir.
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