O estereótipo da mulher ideal na literatura erótica
Estamos cada vez mais falando de empoderamento feminino e amor próprio, mas ainda vemos estereótipos que já deveriam ser desconstruídos há muito tempo voltando como uma fantasia/ideal no imaginário feminino. Neste caso, o estereótipo da mulher ideal na literatura.
As mulheres lutaram muito para alcançar o seu lugar de fala e principalmente de expressão, como no caso do direito à escrita. Depois de tudo isso, o mercado editorial é voltado para os best-sellers, ou seja, os livros que têm o objetivo de entreter com histórias superficiais, sem gerar reflexão profunda, com destaque para os eróticos, onde as mulheres são as maiores consumidoras desse tipo de literatura.
Falar de sexo abertamente já é uma quebra de tabu e tanto, em muitos casos alvo de censura também, imagina as obras escritas por autoras. Com as mulheres ganhando espaços nos ambientes profissionais e na educação, além de outras áreas, já era de se esperar que a forma de se relacionar afetivamente/sexualmente também mudaria.
Para a evolução do mundo, as mulheres já aceitam os papéis que eram lhe impostos, da esposa, do lar, mãe, numa relação heteronormativa e monogâmica. Agora, elas escolhem o que querem ser e como vai ser, sem obrigação alguma. Mas por que a mulher é representada com tantos estereótipos ultrapassados?
O estereótipo da mulher ideal na literatura erótica
Parece que a imagem social feminina reforça a sua submissão ao homem, mesmo quando estamos debatendo tantas questões que nem sequer eram citadas como o acesso ao prazer.
Nisso, temos a trilogia Cinquenta Tons de Cinza, escrita por E. . James, que gira em torno de um homem atraente, rico, dominador e de uma mulher jovem, insegura, com baixa autoestima e inexperiente em relacionamentos. O ideal de romance passa por vários abusos, desde o psicológico, controle do que vestir, onde ir, com quem conversar, até a submissão das suas vontades sexuais para satisfazer o outro.
Na história, a mulher apaixonada que salva o homem perigoso de seus traumas, mas que é punida caso o desobedeça, e mesmo sofrendo diversos tipos de abuso perde a sua identidade em nome de um relacionamento.
Outro romance que ganhou destaque e virou filme foi o 365 DNI, baseado na trilogia erótica com o mesmo nome, da autora Blanka Lipinska, em que a personagem Laura Biel é sequestrada por Massimo, e tem um ano para se apaixonar por ele, os estereótipos de “macho alfa” (que já está bem fora de moda, não é mesmo?) se repetem, assim como a tortura psicológica, há também estupro e a Síndrome de Estocolmo.

Basta dar uma olhada na estante de livros eróticos para ver o quanto esse padrão se faz presente, menosprezando a mulher e elevando o ego masculino, quando não parte para a violência nas situações em que a vontade do homem é contrariada, o que não temos é a liberdade sexual feminina como assunto principal.
Ah mas é só ficção!
Esses livros estão mais próximos da realidade, pois conhecemos muitas mulheres que vivem relacionamentos abusivos, que se anulam para satisfazer seus parceiros.
Não somos um estereótipo da imagem de uma mulher ideal, somos muito mais do que isso, o lugar de princesa que precisa ser salva, já está vazio, nós nos salvamos sozinhas.
Os questionamentos sobre obras assim nos fazem refletir quais são as razões de não sermos representadas de forma realista, da mulher que conquista a sua própria independência, que tem o poder em suas mãos, que exerce a sexualidade para si mesma antes de tudo, livremente. O que queremos é um relacionamento saudável (casuais ou estáveis), onde duas pessoas se admiram e se respeitam, com prazer recíproco.
A nossa autoestima não depende da aprovação de padrões de como devemos ser. Se for para relatar um relacionamento abusivo que seja como uma forma de alerta, não para romantizar ou tornar positiva a violência que a mulher sofre todos os dias. E a nós cabe o caminho de se autoconhecer, romper com o abuso, com aquilo que nos impede de sermos autênticas e realizar nossos sonhos, acima de qualquer pessoa.
Imagem: Reprodução / Netflix