O que é violência obstétrica? Descubra como não ser vítima
Você sabe o que é violência obstétrica? Já ouviu falar do tema ou conhece alguma mulher que já foi vítima dele? Para quem não conhece o termo, violência obstétrica é qualquer tipo de agressão verbal, física ou psicológica contra a mulher – antes, durante e/ou depois do parto.
Esse tipo de violência, que acontece com 1 a cada 4 mulheres no Brasil, pode ser caracterizada pela recusa do atendimento, intervenções durante o parto sem a concordância da gestante, procedimentos médicos sem necessidade etc.

Ainda hoje, a mulher sofre diferentes tipos de violência. Porém, a obstétrica com certeza está entre as piores. Afinal, o parto é um momento de extrema fragilidade. Os resultados disso podem ser traumas e, claro, a retirada de um sentimento de empoderamento que lhe é de direito.
Muitas mulheres ainda sonham em serem mães e idealizam o momento do parto. Outras não planejaram a gravidez. Mesmo assim, todas querem ter um momento especial para conhecerem seu filho. Por isso, a informação é a melhor alternativa para que você também não seja vítima de violência obstétrica.
Tipos de violência obstétrica
Violência física:
- Privação da ingestão de líquidos e alimentos antes do parto;
- Excesso de exame de toque;
- Ruptura artificial da bolsa para acelerar o parto;
- Impor uma posição para que a mulher tenha seu filho;
- Não aplicar nenhum tipo de anestésico quando solicitado;
- Imposição da cesariana sem real necessidade;
- Episiotomia, que também conhecida como “ponto do marido”, feita em qualquer parto;
- Uso desnecessário do fórceps;
- Demorar para levar a mulher para o quarto depois do parto e não apresentar justificativa;
- Privar a mulher de poder ficar com seu filho em sua primeira hora de vida. Essa privação impede que acontece o contato pele a pele e o início da amamentação.
Atenção para esse tipo de violência física: manobra de Kristeller, que é contraindicada pelo Ministério da Saúde, continua sendo aplicada em hospitais. Essa ação consiste na aplicação de pressão sobre a barriga da mulher para acelerar o trabalho de parto. Além de ser extremamente dolorosa, ainda não existem evidências que comprovem o seu benefício. Logo, ela pode causar risco para a mãe e o bebê.
Violência verbal e psicológica
Por vivermos em sociedade machista, muitas frases depreciativas ainda são faladas nos centros cirúrgicos. Elas são manifestadas nas seguintes situações:
- Comentários constrangedores sobre o corpo da mulher, sobre a sua situação, etc;
- Conversas entre os membros da equipe médica para humilhar a mulher;
- Comentários para inferiorizar a mulher por conta da sua religião, orientação sexual, condição econômica, número de filhos, etc;
Atenção para essa violência psicológica: proibição de acompanhante durante o parto. Em partos normais, ela quase não acontece. Porém, em cesárias, ela acaba sendo bem comum. Mesmo assim, não permita que isso aconteça com você!
De acordo com a Lei Federal nº 11.108, todos os serviços de saúde são obrigados a permitir que a gestante tenha a presença de um acompanhante durante todo seu trabalho de parto, parto e pós-parto.
Casos de violência obstétrica
Jessica Toregiani e Rebeca Magliaro fazem parte dessa estatística de violência obstétrica.
Atualmente, Jessica trabalha como doula e educadora perinatal.
Porém, antes de embarcar nessa profissão, ela foi vítima de violência obstétrica. Em sua primeira gestação, o desejo era ter um parto natural. Por isso, começou a ler muito sobre o assunto e chegou à conclusão de que não precisaria de uma doula.
Durante uma consulta de rotina, ela foi informada de que estava com a barriga um pouco baixa. O hospital era de convênio e ela estava na 35ª semana de gestação. Após a realização de um ultrassom de emergência, o diagnóstico foi de baixa de líquido amniótico, apesar de a bolsa ainda não ter se rompido. Com isso, a indicação foi de internação.
No entanto, a médica responsável por esse processo não olhou para Jéssica, nem sequer por um momento, como uma paciente prestes a se tornar mãe. Todo o atendimento, na verdade, foi completamente sem empatia.
No dia seguinte, após a reposição com soro e a refação do ultrassom, não havia mais a indicação de perda de líquido. Porém, em outro exame (de diástole – cordão umbilical), apareceu uma alteração. O médico de plantão, ao invés de solicitar um novo teste para confirmar tal suspeita, indicou uma cesariana de emergência.
Quando entrei na sala do centro cirúrgico, fiz toda a preparação sozinha. Estava em um momento de vulnerabilidade e não aceitava o que estava acontecendo. Não deixaram eu ficar com os meus óculos. Por um descuido do anestesista, tive uma reação à medicação. Fiquei com uma sensação de queda de pressão e, depois que alguém alertou o profissional, ele fez um ajuste.
Antes da cesariana, Jessica perguntou se eles poderiam induzir o parto.
Contudo, a resposta foi que o protocolo do hospital não permitia, já que ela ainda estava com 35 semanas. Por conta dessa cirurgia, que ela acredita que tenha sido totalmente desnecessária, seu filho precisou ficar na UTI.
O fato de ela ter recebido alta e ele continuar lá foi extremamente traumático. Além disso, a doula ainda passou pelo luto do parto não vivido e ficou com a sensação de ter caído no “golpe da cesárea”.
No tempo em que Pedro ficou internado, Jessica não pôde ter o contato pele a pele com ele. Essa falta de vínculo, claro, dificultou o início da amamentação. Ela também não pôde amamentar enquanto ele estava no UTI, especialmente por causa do estresse da cirurgia. E, diga-se de passagem, não teve apoio da equipe médica para aprender a fazê-lo.
Em nenhum momento vi empatia, de um ser humano para outro. Senti que estava em uma linha de produção, que o médico se colocou em uma posição muito superior. Esse trauma só foi curado quando eu pari a minha segunda filha, de forma totalmente humanizada e com uma equipe que me respeitou e me olhou como ser humano.
Rebeca também queria ter um parto normal na sua primeira gestação.
Porém, esse desejo se tornou um pesadelo que virou realidade. Quando ela estava com 40 semanas, foi para o hospital. Chegando lá, já estava com 4 dedos de dilatação. Após caminhar por alguns momentos, chegou a 6 dedos. A bolsa rompeu após aproximadamente 4h de internação e ela ainda não tinha a dilatação completa. Mesmo assim…. foi levada para a sala de parto.
Desde que entrou no local, a violência obstétrica começou: o parto foi induzido com ocitocina. Usaram a manobra de Kristeller para acelerar o processo. Fizeram a episiotomia depois do nascimento, sem avisá-la. Consequência: seu filho nasceu parado, roxo e muito cansado. Para piorar, ainda deixaram restos placentários. Isso foi descoberto pela própria fisioterapeuta, 1 mês depois do parto, porque teve hemorragia e infecção uterina.
Por conta disso, ela teve dificuldade para amamentar o filho e, ele, para ganhar peso. Como seu parto aconteceu durante a pandemia, Rebeca ainda precisou enfrentar todas essas violências obstétricas sozinha. Após o parto, ela só pôde ficar alguns instantes com o filho. Ele só voltou para os seus braços depois de 3h.
Depois do parto, estava muito triste e cansada. O João Felipe ficou com torcicolo congênito e assimetria craniana e ainda estamos tratando essas sequelas do parto. O hospital não falou nada sobre a situação, na verdade eu percebi por conta dos sinais e sintomas. Eu tinha vontade de ter 2 filhos, agora tenho pavor!
Se você já sofreu algum tipo de violência obstétrica, denuncie.

Disque 180 e faça a sua denúncia nesse canal exclusivo para mulheres. Você também pode fazer a sua queixa no site do Ministério Público Federal. Conheça mais sobre esse assunto no site. E se quiser fazer uma denúncia contra o profissional, procure o CRM/COREN da sua região.
E se você passar por alguma situação de violência durante o parto, faça a sua denúncia no mesmo dia na Ouvidoria do Hospital.
Conheça mais sobre o tema maternidade em outra matéria da Superela “Vida da tentante: A experiência do aborto espontâneo”.
Imagem de capa: via acritica.com