O que podemos aprender com Betty, a feia
Se tem duas coisas que estão muito presentes na TV dos brasileiros é o futebol e as novelas. Sejam brasileiras ou não (tem até aquelas turcas), todo brasileiro já assistiu alguma e, se você nunca viu, que diabos andou fazendo? Tudo bem, eu te perdoo, mas você sabe o que todas elas, principalmente as dos anos 2000, têm em comum? Protagonistas bonitos.
Não importa a nacionalidade da novela, os protagonistas sempre estão no padrão europeu.
E é algo que representa pouco a sociedade brasileira. Claro que isso mudou muito de alguns anos para cá. Houve grande evolução e uma boa inclusão da nossa diversidade, ainda assim, o protagonismo é focado em pessoas belas. Por exemplo, estamos cansadas de ver aqueles filmes clichês onde a protagonista que previsivelmente é uma nerd considerada feia ou esquisita, mas que na realidade é uma garota bonita, só que com óculos e aparelho. Desde quando usar isso é sinônimo de feiura? Até para representarem uma “feia” usam mulheres lindas. Assim fica difícil levar a sério, né?
Por isso acredito que a novela colombiana “Betty, a feia”, que ganhou várias versões pelo mundo, (inclusive a mexicana, que foi reprisada duzentas mil vezes pela SBT) tenha feito um sucesso tão absurdo, pois pela primeira vez, as mulheres viam na TV uma protagonista em uma novela, que era realmente esquisita.
Uma protagonista que estava totalmente fora do padrão exigido pela sociedade, e pela primeira vez podíamos realmente nos sentir representadas por uma personagem que não era uma cópia da Barbie, mas sim, uma mulher real e comum, porém que tinha outras qualidades mais importantes que foram a chave para o seu sucesso.
Por mais que a Betty fosse uma mulher considerada feia, ela era uma mulher completamente inteligente e extremamente leal.
Na mesma proporção que ela afastava seus pretendentes pela sua aparência exótica, ela atraía boas pessoas pelo seu caráter e personalidade amável. E essa é uma das lições que podemos aprender com ela: a beleza pode atrair pessoas, mas é o seu caráter que vai fazer elas permanecerem. Não adianta parecermos com a Paola Oliveira, mas sermos rudes com as pessoas ou agir com superioridade. No fundo as pessoas só querem estar com outras que as fazem se sentir bem, e isso é um sentimento que a beleza não pode produzir.
Porém, precisamos aprender que nem sempre estar fora dos padrões significa necessariamente ser feio. Uma mulher fora do padrão europeu não é horrorosa, da mesma forma que uma fora do padrão africano também não é. A beleza é muito ampla e relativa. Há encanto em todas as raças ou biotipos, e no mundo há espaço para todas elas. Assim como uma rosa é linda, e um girassol também, mesmo não sendo da mesma espécie, ambas são maravilhosas, e podem fazer parte do mesmo arranjo e iluminar quem as vê.
No entanto, também não podemos ser hipócritas e dizer que a beleza não é relevante!
Esse é um mito parecido com o “que o dinheiro não é importante”. Claro que à primeira vista, a fachada é a primeira coisa que chama atenção, porque o primeiro sentido afetado quando conhecemos alguém é a visão. É quase impossível não dar aquela analisada básica. Mas o resto do tempo que a gente passa com alguém, determinará se ela é só bonita por fora, ou se também é por dentro. Pois uma moedinha de brinquedo, folheada a ouro, à primeira vista é linda, porém quem a conhece sabe que não tem valor. A aparência é a primeira a tocar os olhos, entretanto são os nossos valores que irão tocar a mente e o coração de alguém.
Voltando para Betty, a feia
Para quem assistiu, a cena mais esperada era o momento da transformação da Betty, onde o patinho feio se transforma em um belo cisne. E isso é o que acontece no final, ela se torna uma bela mulher. Porém o mais interessante de tudo, é que essa transformação começou por dentro, depois de ela liberar o perdão, e começar a se amar.
Essas mudanças internas resultaram na mudança externa. Existem pessoas lindas porém que carregam tantos sofrimentos e rancores, que apagam seu brilho, pois a tristeza deixa o rosto de qualquer um abatido, contudo a alegria, a paz e o amor iluminam o corpo. Quantas pessoas a gente não conhece, que não são consideradas bonitas, mas pela simpatia e bom humor, acabam se tornando pessoas maravilhosas? Essa é a verdadeira beleza, a que vem de dentro e se externa por todo corpo.
Porém se em todo caso, a gente ainda se sentir meio alienígena, é hora da transformação!
Se não estamos bem com nós mesmas, por que não mudar? A Betty fez isso, e nós também precisamos adotar mudanças, se necessário. Se não estamos felizes com nosso cabelo, por que não variar o penteado? Se não estamos felizes com nosso corpo, por que não procuramos melhorá-lo? Se nosso estilo já não nos agrada, por que não trocar? A vida é bem curta para ficarmos presas em um padrão. Temos sempre a opção de alterar. Porém, essas modificações tem que ser para o nosso bem-estar, nunca pelos outros. Se não está feliz consigo mesma: use os recursos que tem, e mude!
E acima de tudo que a nossa luta por transformação não seja só do lado de fora, mas por dentro.
Assim sendo, que possamos evoluir também como seres humanos, e sermos cada dia pessoas bondosas, humildes, alegres e que fazem a diferença não só pela aparência, mas pelos bons sentimentos que carregamos por dentro. Isso não nos tornará atrizes de novelas, porém com certeza seremos protagonistas de um mundo um pouquinho mais…belo!