O sexo frágil, na verdade, é uma fortaleza
Imagine um homem. Ele está voltando de uma festa de madrugada, com mais dois amigos. Já beberam uma quantidade significativa de cerveja, injetando doses de álcool suficiente em seu organismo para alterar seus reflexos. E trocando as pernas, direcionam-se para suas respectivas residências.
Ao longo do caminho, eles conversam, riem e, um a um, vão sendo entregues em suas casas. Até que resta apenas um. Seu domicilio se localiza há 4 quadras do último amigo e ele, agora, segue sozinho. Em silêncio, vence o breve percurso, chega à frente da porta, abre, e dorme o sono dos justos tranquilamente, até o dia seguinte.
Agora, substitua os homens da situação, por mulheres. E responda sinceramente: elas seriam encaradas da mesma forma pela sociedade, em geral? (leia mais aqui)
Não sei qual foi sua resposta, mas eu imagino o que cada uma delas sentiria ao ser personagem dessa história. Em especial a que ficaria por último, para chegar até a sua residência. Seu porto seguro (ou ao menos deveria sê-lo).
A rua se mostraria infinitamente mais escura, os caminhos mais estreitos, essas breves 4 quadras pareceriam ser 4 quilômetros. Os ventos da madrugada gelariam até mesmo os seus ossos. Sua respiração se tornaria mais acelerada, juntamente com os seus passos. Os olhos, agora mais observadores, perceberiam qualquer vulto de homem que cruzasse seu caminho, despertando o modo de alerta, até mesmo a postura seria ajeitada.
Aquele medo (em alguns casos pânico mesmo) se instauraria em seu íntimo, fazendo com que “n” possibilidades passassem por sua cabeça. Depois de finalmente entrar em casa, os olhares ainda buscariam algo errado em seu interior. Diversas voltas fariam girar a fechadura, certificando-se de finalmente estar em segurança para.
Apenas depois de todo esse processo, ela iria poder deitar a cabeça no travesseiro, fechar os olhos e dormir. Mas mesmo passando por tudo isso, seguimos na vida, fazendo valer o nosso direito de ir e vir. Sendo uma fortaleza cada vez mais resistente. É assustadora a diferença, mas é por situações como essas, que diversas mulheres têm de passar em seu dia-a-dia, mesmo após um longo histórico de conquistas.
Não parece ser muito justo, não é? E alguns ainda insistem em afirmar que não existe desigualdade entre gêneros no país. Já que as mulheres conquistaram muitos direitos, como o voto, e ainda possuem uma lei específica para elas. Sim! Existem pessoas com esses pensamentos.
O fato é que somos fruto de uma sociedade patriarcal e machista, porém também somos mulheres que aprenderam (a duras penas) o valor de uma sociedade igualitária e que não somos um sexo frágil. Lutamos pelo reconhecimento diariamente. Guerreamos com argumentos de pessoas, sem noção nenhuma da vida, que acreditam até mesmo em uma vítima de estupro ser culpada pela violência que sofreu (leia mais aqui).
Tive a sorte de ser criada por uma mulher forte, que me ensinou o valor do diálogo, tolerância e respeito. Sejamos nós também propagadores dessa realidade de paz.
A igualdade não se estabelece apenas com a concessão de direitos e elaboração de leis, embora eles sejam essenciais para que ela se faça presente – e permaneça. É preciso que existam políticas públicas, educação de qualidade, enfim o despertar de consciência de toda uma nação, que propicie a igualdade e o respeito entre TODOS e TODAS.
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