O valor de uma carta escrita à mão
Uma carta contém em si o próprio amor que escapuliu pelas pontas dos dedos e pingou palavras no papel. Uma carta tem a força das palavras que não são ditas, que não saem pela boca, mas pelas mãos que tocam o outro.
Receber uma carta é como ser beijado no coração ainda úmido e palpitante. Porque uma carta é feita pelas mãos que buscaram o papel e seguraram a caneta. Ela carrega resíduos do corpo do outro, foi tocada pelo outro, escrita pelo outro, dobrada pelo outro, endereçada e selada. Uma carta traz consigo o hálito e a respiração do outro. Traz o seu calor, que esteve ali enquanto escrevia.
A carta é como uma fita e cada um segura uma ponta. O remetente do lado de cá, o destinatário do lado de lá e, entre eles, a fita mágica macia de cetim cereja, como um cordão umbilical, alimentando, oferecendo oxigênio, ajudando a viver. A carta é quase um pensamento, um pedacinho de vida dobrado e envelopado, como se coubesse, como se bastasse. A gente quer abraçar, quer cheirar e beijar o papel. Lemos a primeira vez, depois, lemos de novo, e de novo, e quantas vezes o tempo deixar.
Uma carta é um convite para sorrir, para se jogar no sofá e sonhar com olhos abertos, olhando o branco do teto. Ficar com boca aberta de bobo, a língua esquecida, os músculos paralisados e largados e a imaginação fazendo voos rodopios, diminuindo a distância e chegando mais perto. Os pés perdem os sapatos, a roupa quer sair do corpo e a gente quer parar tudo para poder amar o amor da carta mais um pouquinho só.
Tem sabor. Dá calor e vontade de nadar em mar de ondas de espuma, redondas. Dá vontade de alagar o chão, de se pendurar na árvore, de escrever na perna, de bater altos papos e contar tudo pras flores do jardim. Uma carta fortalece laços, aprofunda amizades, surpreende. Ninguém mais espera que uma carta vá chegar pelos Correios. Pelos Correios, hoje, só chegam contas, multas, propagandas, notificações. Uma carta escrita à mão? Improvável.
A carta é quase um abraço que te embrulha nos laços dos braços de quem a escreveu. Te enlaça, e nesse abraço você se enrosca, se enrola, se esquenta. Tuas mãos seguram um pedaço de alguém que veio dentro do envelope para te acolher e recolher num ninho de carinho.
Quem escreve uma carta, acalenta o outro e faz do tempo um não-tempo de eterno infinito das coisas mais gostosas e maiores que a gente. Uma alma se conforta e a outra se acalma e a gente visita o Universo sem sair do lugar. Um e-mail, instantâneo e virtual, não sabe substituir a espera de uma carta e a expectativa gostosa que ela gera enquanto não vem.
Escreva uma carta. Mande beijos doces, beijos de mel e toda sorte de estrelas do céu. Envie uma flor e um beija-flor pra encher alguém de beijinho, deixá-lo bem docinho, com voz de caramelo e mãos de marshmallow. Escreva um bilhete com papel de coração e beijo de batom pra alegrar, de manhã, um singelo café com pão. Envie seu sorriso mais bonito, com lábios de açúcar derretido e um cheirinho no pescoço, que é pra fazer saber que do lado de cá o dia já começou e você pensou com carinho em mais alguém.
Mande no seu papel com desenhos de flor o beijo que você quer dar, a vontade de olhar nos olhos, a saudade apertada lá de longe até aqui. Depois que começar, é só continuar. Você também pode participar do projeto ‘Escreve Uma Carta Pra Mim?’, que nasceu de um desejo profundo de diminuir distâncias, reacender trocas, fazer nascer pequenas e queridas intimidades, criar pontes entre mim e meus leitores. Então, se um dia você quiser me escrever, manda uma carta pra mim.
Prometo te enviar meu beijo num papel girassol pra fazer brotar um sorriso na tua boca e com mel. Um beijo de papel que vou te dar pra olhar nos teus olhos e ver a estrela que não para de brilhar azul diamante. Mandarei lá de longe pra chegar na tua pele a marca da minha boca vermelha de cereja e vinho e você lembrar de mim até o próximo beijo.
Mandarei ir até você, matar meu desejo de chegar pertinho levar meu carinho sabor atenção.
Se você quer começar, mas não sabe para quem escrever, envie uma carta pra mim. Mande para: Tina Zani – A/C Unicamp – Cx Postal 6112 – CEP 13083-970 – Campinas/SP – Brasil
Tô esperando. ♥♥♥
Imagem: Tina Zani