O passado sexual da mulher numa relação a dois

Por vezes, e com uma tendência machista, os homens tem uma ideia de querer saber com quem a namorada, crush ou mulher já se relacionou sexualmente em suas vidas. Pasmem, há quem faça uma “listinha” entre os caras que ela já beijou, e os caras que ela já beijou e transou. E antes que você ache impossível acontecer numa relação a dois, isso é mais comum do que nós imaginamos, infelizmente. Não é à toa, que os índices de relacionamentos abusivos são alarmantes. E qual a lógica nisso? Nenhuma, vejamos…
Na cabeça do homem, a mulher é uma propriedade ou posse na qual ele chama de “minha”, que deve transar só quando está em um relacionamento sério. Transar no primeiro encontro, por exemplo, já deixa uma pulga atrás da orelha para um possível namoro; ter se envolvido sexualmente com vários homens no passado é ”motivo” para ser chamada de puta e comparada a outras mulheres com um passado diferente – seja por estas serem virgens, seja por estas terem tido apenas 1 ou 2 parceiros sexuais; ter se relacionado com algum garoto de programa, até por curiosidade e fetiche, mesmo estando solteira e bem resolvida, implica em ser alvo de chacotas da rapaziada. Isso ocorre devido as nossas terríveis raízes sócio-históricas do machismo, as quais pregam que o homem sempre deve estar à frente da mulher, ainda mais quando estamos falando de um passado sexual.
Como assim passado sexual?
Muito mais do que uma possessividade por parte da mentalidade machista, trata-se de uma não aceitação da mulher em seu jeito espontâneo de ser. Qual a dificuldade de compreender que, como qualquer ser humano na face da terra, assim também a mulher tem uma história de vida? Por que o homem pode ter transado com 4 mulheres e a mulher não pode ter transado com 6 caras? Que cabimento tem o homem em escolher uma mulher virgem, só para se conformar com a ideia de que ele será o primeiro parceiro sexual da vida dela?
E mesmo compreendendo que há um pregresso carnal na mulher, deve-se entender de que este passado sexual aconteceu em um momento distinto, em outra época, com uma pessoa diferente e em uma ocasião singular. Assim, falhamos não apenas no machismo e no ciúme bobo, mas também no anacronismo sexual. Como entender alguém que procura enxergar o passado com as lentes do presente? Chega a ser até desleal, não é? E é porque estamos falando de alguém que supostamente estamos “in love”…
O fato é que todos nós somos constituídos por futuro, presente e passado. Homens e mulheres, de forma igualitária. O futuro é incerto, o presente é uma dádiva e o passado é história, e por isso se chama passado. Desprezar o passado de uma mulher, portanto, é desvalorizar a sua trajetória; é ser insensível com sua feminilidade; é jogar fora parte de quem ela é agora. Sem o passado, jamais teríamos chegado ao presente, tampouco projetaríamos o futuro. Ainda mais quando se está em questão um passado sexual… Para além das experiências inusitadas e negativas, também sabemos que existiram as boas e prazerosas.
Não dê ouvidos ao discurso machista!
Você, mulher, não precisa mentir dizendo que foi ruim, quando na verdade foi bom; não precisa esconder que naquele tempo foi só um “fica”, se na realidade o sexo foi significativo para você; não precisa tentar apagar aquela experiência sexual, se ela trouxe bastante aprendizado para você na cama. Nós, homens, é que precisamos perceber que vocês possuem uma história, um passado.
De forma alguma você, mulher, deve cair nessa lábia machista, que condena a sua história. Ou sentir-se culpada e inferiorizada pelas suas experiências anteriores. Em contrapartida, aceite-se e valorize-se. Quem acolhe você, não tem motivos para se ofender ou ameaçar-se com o seu passado sexual. Até porque é uma questão extremamente particular, que só diz a respeito de você, mulher.
Ama-se, empodere-se! Ao contrário dos machistas, você precisa compreender e respeitar o seu passado sexual; muito além de um aglomerado de transas, você é uma mulher. E uma mulher com uma história. E se foi bom ou ruim é você quem vai dizer. Porém, de uma coisa fique certa: se você despreza o que você foi ontem, dificilmente reconhecerá o que você é hoje; da mesma forma que quem fustiga o que você fez no passado, não merece estar com você no presente.
Imagem: Reprodução / Qual Seu Número?