Especial Dia do Profissional de TI: e as mulheres? Confira uma entrevista exclusiva com Valéria Baptista
Dia 19 de outubro se comemora o dia do profissional de TI. Área essa que hoje é composta (ainda) em grande sua maioria por profissionais homens!
Atualmente as mulheres compõem cerca de 20% do cenário do mercado de trabalho de tecnologia.
Ao se deparar com esses números, você pode se perguntar: afinal, por quê?

Muito se deve ao fato de nós mulheres sermos condicionadas a acreditar que não somos boas o suficiente para se estar na área de exatas. Mesmo que o cenário atual seja de mudança, as gerações anteriores cresceram ou um dia esbarraram na ‘cultura’ de que ‘lugar de mulher é na cozinha’, ou até mesmo foram desencorajadas de tentar seguir uma carreira ‘técnica demais’. Infelizmente, esse comportamento é fruto do machismo que é reproduzido em nossa sociedade.
Posso dizer com propriedade que até eu me tornar uma profissional da área técnica foram muitas vezes me questionando se eu estava fazendo a coisa certa, em todo o processo me questionei se era comum um homem passar pelo mesmo.
Apesar de tantos momentos duvidando de mim mesma, eu sou muito grata por toda a minha trajetória, e principalmente por todos aqueles que um dia acreditaram em mim. Acredito que quando compartilhamos nossa história inspiramos alguém (mesmo que indiretamente). Por isso decidi entrevistar mulheres que me inspiram MUITO no ramo de TI e compartilhar suas histórias com você que lê meus artigos por aqui.
Hoje a entrevista é com Valéria Baptista. Ela é incrível! Hoje atua como Azure Cloud Engineer em uma grande cia. de Tecnologia Da Informação, tem mais de 10 anos de carreira e é formada em Ciência da Computação e MBA em Cloud Computing, você pode ver seu perfil do LinkedIn aqui: Valéria Baptista | LinkedIn – mas antes de clicar, leia sua entrevista abaixo.
Nossa conversa foi muito boa e produtiva:
Como e quando você decidiu que queria trabalhar com TI?
Valéria: Meu primeiro emprego era em uma fábrica de plásticos, iniciava a jornada às 6:00 da manhã e trabalhei lá por quase 3 anos. Não tinha expectativa de nada e apesar de ser jovem não tinha muitas ambições. Depois de um acidente de trabalho percebi que aquela vida não era para mim e pensei em voltar os estudos, mas devido a poucas condições financeiras fui adiando esse projeto.
Foi quando descobri que uma escola da minha cidade tinha um projeto de cursos técnicos onde havia descontos para pessoas de baixa renda, fui lá e escolhi o curso Técnico em Informática. Eu amava computadores? Não! Apenas foi o que eu achei que seria mais a “minha cara” porque não gostei dos outros (risos).
Eu tive muitas dificuldades no início, não tinha computador em casa, tinha vergonha de dizer que não sabia quase nada do que os professores explicavam e ali já pensei em desistir, ainda bem que não o fiz.
Essa escolha mudou toda a minha vida.
E por que TI? Você pensou estudar/trabalhar com outra área?
Valéria: Quando criança e adolescente eu me sentia muito triste em relação aos outros por que sentia que não “tinha o dom pra nada”, nunca disse que queria fazer algo. Se eu gostava da professora de português, achava que seria professora de português também. Se era a professora de Geografia a mesma coisa. Quando terminei a escola percebi que não sabia o que queria fazer, e por não ter condições financeiras para iniciar uma faculdade começei a trabalhar. Eu costumo dizer que não tenho o dom para a tecnologia, eu escolhi a tecnologia e determinei que seria muito boa nisso independente da minha condição.
Você se lembra do que fez ‘seus olhos brilharem’ com a área?

Valéria: Para mim a TI foi uma tábua de salvação, foi o início da minha carreira de fato. Poder dizer que sabia fazer algo. No meu curso lembro de uma professora que contava que tinha vindo de uma vida humilde e passado muitas dificuldades, mas a profissão tinha proporcionado a ela mudar de vida. Ali eu pensei que eu poderia um dia fazer também grandes coisas, e, assim como ela um dia também poder contar a minha história.
Como foi sua jornada até aqui? E qual sua maior ‘dor’ nesse meio?
Valéria: As maiores dificuldades acredito que foram o descrédito de colegas de trabalho, falta de apoio e oportunidade. Ouvir muitas vezes que você não é capaz, que outra pessoa é melhor para o trabalho ou não tem perfil para uma tarefa ou cargo. Quando você escuta isso muitas vezes de pessoas negativas começa a acreditar que é verdade. Então você se anula, sendo que não é você o problema e sim o meio.
Qual o maior desafio que você enfrentou ou enfrenta até hoje?
Valéria: Provar que sou capaz, que sou a pessoa que vai resolver o problema e não quem vai passar o café. De certa forma posso fazer os dois (porque amo café) mas sou tecnicamente tão boa quanto meus colegas, tenho tanta capacidade quanto eles e posso provar isso.
Em muitas vezes nos autossabotamos, você já enfrentou a síndrome da impostora?
Valéria: Sim, enfrentei isso por muitos anos e infelizmente a minha carreira e eu apenas nos anulamos em todo o tempo que compactuei com isso. Acredito que as vezes entramos em uma rotina em que nos acostumamos com uma situação que acabamos por achar que é normal, as coisas são assim, que é assim com todo mundo e não vai mudar. É necessário darmos um basta, somente quando você perceber que é capaz, que tem capacidade de chegar aonde quiser e que a opinião de A, B ou C não importa que as coisas vão mudar de verdade.
A área da Tecnologia da Informação é majoritariamente dominada por homens, mas além disso é uma área que te desafia sempre, no meio do caminho você já quis desistir da sua profissão? E se sim, pode dar um conselho de como superar esses momentos para as meninas que estão lendo essa entrevista?
Valéria: Eu quis muitas vezes e uma vez eu desisti sim, cheguei no meu limite. Eu estava trabalhando a quase seis anos em uma empresa, nunca coloquei um dia de atestado, nunca tive problemas com ninguém e estava passando por um momento de doença na família. Estava com vários gastos extras por conta disso e nesse momento fui demitida. Tive que conviver com o luto e a perca financeira, nesse turbilhão de emoções eu desisti.
Passei a trabalhar com meu marido que era autônomo, mas estava infeliz, passou um tempo e pedi para voltar para essa mesma empresa e recebi a notícia que não havia vagas (eu sabia que havia). Mais uma vez pensei se deveria trabalhar com TI, estava triste, estagnada, tudo dando errado. Então eu resolvi que ia voltar sim, e iria provar para mim mesma e todas as pessoas que tinham me negado uma oportunidade que eles estavam errados a meu respeito.
Foi aí que a minha chave virou, voltei aos estudos, comecei a interagir com pessoas de diversas comunidades de tecnologia. Fiz muitas amizades, me desenvolvi como nunca antes tecnicamente e hoje sou referência no que faço e inclusive ministro palestras de autoajuda contando a minha trajetória de forma a encorajar outras pessoas que estão na mesma situação que eu estive a daram a volta por cima, pois é possível sim.
No final do dia, o que faz tudo valer a pena? Pra você.

Valéria: Reconhecimento. Das minhas atividades, do meu valor como profissional, como pessoa. Hoje eu sou a pessoa que ajuda os colegas, participo na comunidade, dos eventos e estou em constante evolução.
Tenha um objetivo de crescimento, e busque-o com toda a sua força. O universo agradece!
“Eu não sou quem eu gostaria de ser; eu não sou quem eu deveria ser. Mas graças a Deus eu não sou mais quem eu era!” Martin Luther King
Eu amo essa frase, pois ela me representa, estar em constante evolução e saber que somos hoje melhores do que ontem!
Agradecimento
Gostaria de agradecer imensamente a Valéria, por disponibilizar seu tempo para essa entrevista. É gratificante enquanto mulher em TI ter um exemplo como ela.
Espero que essa matéria tenha te motivado de alguma maneira!
Durante a semana haverá mais entrevistas especiais com mulheres da área de TI, aqui na minha coluna mesmo! Não perca.