Quando nos sentimos em um beco sem saída

Olá, como vai?

Quase posso sentir daqui seu engolir seco das lágrimas. É que não dá pra sair por aí mostrando que o interior anda despedaçado, não é? Afinal, quem entenderia? Não dá pra contar, certo? E, no fundo, a gente não consegue saber se quer mesmo que alguém entenda. Melhor não. Talvez fique claro demais nossas loucuras. Quase sinto sua nudez, juro. E ainda sei que, agora, acabou de soltar o ar que estava preso dentro de você sem que soubesse. E agora ainda está se perguntando como é que eu sei essas merdas todas sobre você. “Será que ela lê meus pensamentos?” Você está dizendo de forma secreta demais para ser ouvida.

Acontece que as minhas lágrimas correm também. Que as minhas máscaras de todo dia estão de esgotando e eu nem percebo, como você. Estou ficando rala. Na transparência pura. No caos. E, agora, preciso te dizer que eu também sofro e choro e quero sumir e desistir. E me pergunto se eu seria burra demais se o fizesse. Se parasse e pronto. Tentar já virou assombração e eu tenho medo de assombrações. Aliás, mantenho distância de tudo, pois criei, em épocas longas, medo de absolutamente todos. Assim como você, eu sei.

Posso ouvir daqui sua voz rouca, como se o tempo a tivesse envelhecido bruscamente. Mas sei que é de tanto pedir socorro, de tanto tentar falar, tentar encontrar os melhores dias que tanto falam. Ora, eu sei. Sei muito bem. Porque ando tentando deixar de sorrir de lado também. É que chega uma hora que a gente simplesmente deixa pra lá. Assume o desinteresse. Não quer mais saber. Liga o foda-se. O controle já era e a gente só fica na lama. Na merda. Então que a vida forneça o resto do fim, por favor. Então que a vida seja finalidade, pra mim, para os objetivos que nunca concretizei. Pensou assim também? Porra, eu sei.

A gente até cruza os dedos. Pensa em uma nova direção, mas não dá a partida. Ficamos parados. Como em um beco sem saída. Como as raízes, fincadas na terra. Fincamos em qualquer lugar do mundo, pois nada mais importa. Agora é mais difícil fingir não é? Tá ficando claro demais que a sua vida ficou nos espinhos e que há cortes demais pra brotar risos. Tá ficando claro demais que a vida não tá sendo legal pra haver diversão, nem que seja por alguns instantes. Tá claro, vejo. Sinto.

É porque chega uma hora que a gente entra em piloto automático e não percebe. Mas o piloto automático precisa de energia também. Enquanto você ainda tem, ele vai funcionar. E aí você congela. Ele para. A vida torna a ser o gelo que sempre foi por dentro. Parece que tudo ficou frio demais de repente, mas as pessoas não imaginam que o frio sempre esteve aí dentro. Sempre, cara. E é ruim ouvir de alguém que você anda triste, enquanto você tem vivido assim, só que ninguém viu. Ninguém percebeu. Ou até percebeu, mas era difícil demais pra assumir e tentar ajudar. Acredite, algumas pessoas sentem medo de chegar muito perto e com apenas um toque, te destruir de vez. Ora, ninguém quer ver destruição e muito menos sentir-se culpado por uma.

Você agora se pergunta por que eu escrevo essas coisas. Eu também não sei. Vai ver é o interior que fala mais alto que tudo. Vai ver é a voz da alma que sempre assume controle. Vai ver é o coração pedindo arrego e entregando as rédeas. No fundo, é apenas a voz interna brotando e implorando visibilidade. Ora, cale-se. Digo a ela. Mas nunca para. Você sente isso? Não dá pra descrever, não é?

Apenas entenda que eu também sinto suas dores, mesmo não sendo pelos mesmos motivos, e não julgo suas forças que estão no fim. Mas digo, após anos de experiência em sorrir em vão e descobrir que a gente finge sem querer, que a gente precisa aproveitar a vida. E não é só porque muitos gostariam de tê-la e não podem, mas porque é a única coisa que podemos fazer por nós. Salvar-nos. Não entregar os pontos. Buscar a luz, mesmo que em pequenas frestas pra começar. Precisamos, parceira, levantar do caos. Levantar pra vida. Por um riso sincero. Por um abraço esperado. Um sussurro honesto. Um olhar. Uma súplica.

Comece. Apenas comece. Dê partida. Saia do beco sem saída. Se encontre. Se permita. Vai. Anda. A hora tá passando. E o frio só aumenta, o destrua. Não de destrua. Invista. Enfrente. Comece por dentro. A mudança é interna. Precisa de alguém e esse alguém é você.

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