Quem tem medo da palavra ‘feminismo’?
Quando minha irmã engravidou de seu primeiro filho, meu primeiro sobrinho, mandei um artigo de Internet para ela, com diversos conselhos sobre como educar um menino, um menino feminista.
No artigo, os conselhos eram práticos, como “dê as mesmas responsabilidades para meninos e meninas” ou “não diga que isso ou aquilo é coisa de menino ou coisa de menina”. Ela me agradeceu e disse concordar com tudo, exceto com a palavra feminista.
Quem já leu Harry Potter deve ter ouvido falar em “você sabe quem”. Acontece que ninguém na trama chama o vilão, Voldemort, pelo nome. Dizem somente “você sabe quem”, ou “aquele que não deve ser nomeado”.
A palavra ‘feminismo’ ou mesmo declarar-se ‘feminista’ caiu na síndrome de Voldemort. Você pode até acreditar e concordar com tudo, mas declarar-se feminista causa um desconforto. Dizem, “não sou feminista, mas não aceito ganhar menos que um homem exercendo a mesma função”.
Quando foi que começamos a ter medo da palavra? Quando foi que a palavra começou a ser associada a radicalismos? E, mais importante, o que realmente significa ser feminista? O que é ser uma mulher feminista? O que é ser um homem feminista?
Apesar das diversas fake news que encontramos por aí, o conceito teórico do feminismo está sempre em evolução, como tudo que é feito e conceitualizado por nós, seres humanos. Desde a luta sufragista que começou no hemisfério norte, até as teorias de feminismo negro de bell hooks e Chimamanda Adiche, o conceito está em movimento.
Assim, cada vez mais, o movimento incorpora novas vozes e representatividade no que antes era uma luta focada nas demandas da elite branca europeia.
Mas afinal, o que é ser feminista?
Ser feminista, em poucas palavras, significa acreditar que mulheres e homens não tem o mesmo respeito e nem a mesma representatividade em áreas diversas e querer mudar isso. Significa acreditar que não deve haver esse tipo de desigualdade no mundo.
Não significa ser uma mulher que deixa de acreditar nas instituições que fazem parte de sua cultura, como casamento, maternidade, entre outras coisas. Não significa também acreditar que mulheres e homens sejam iguais, por que não são. Mas sim, acreditar que eles têm direitos iguais.
Ser feminista é quando mulheres ajudam mulheres a sair de relacionamentos abusivos; ter independência financeira através de valorização e contratação de outras mulheres; certificar-se de que há representatividade de vozes na política, na escola, nos cargos altos de empresas.
Significa repensar as suas escolhas cotidianas, como, por exemplo, comprar um livro. Já se perguntou quantas mulheres autoras você já leu, quantas já ganharam um prêmio nobel, quantas mulheres ocupam cadeira na Academia Brasileira de Letras? Inclusive, esse número é absurdamente baixo, apenas 3% de mulheres já foram contempladas com cadeiras na ABL e nenhuma delas era uma mulher negra.
Mais importante, ser feminista é não duvidar da capacidade de uma mulher de fazer qualquer tipo de serviço; respeitar suas escolhas pessoais como ter ou não ter filhos, estar ou não em um relacionamento, fazer ou não uma cirurgia de gênero, ser ou não parte de uma religião, apoiar um não um partido político.
Mulheres vem em diferentes tamanhos, cores, tipos de corpo, tipos de cabelo, de diferentes culturas, religiões e credos. Ser mulher não é isso ou aquilo, é uma linha, um contínuo. Cada mulher pode se encontrar em algum lugar desse contínuo.
Ser feminista é, antes de tudo, enxergar essa diversidade sem julgamento, acreditando e lutando para que uma mulher não mais tenha medo de andar sozinha na rua à noite. Ou que não tenha medo de usar uma mini-saia quando tiver vontade. É garantir que o mundo, um dia, vai ser um lugar onde uma mulher realmente terá o direito de ser aquilo que ela deseja ser.
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