Não se afobe, retomar sexualidade após sofrer violência sexual leva tempo
A violência sexual deixa traumas inimagináveis nas vidas das vítimas, é certo que não existe justiça possível de trazer paz e acabar com o danos emocionais desenvolvidos devido a violência.
Isso somente a terapia, o apoio dos entes queridos e o tempo poderão proporcionar, porém existe um logo caminho a percorrer. Como em diversas áreas da vida, a sexualidade é uma das afetadas pelo trauma, resultando em diversos sentimentos como insegurança, culpa, medos constantes que podem transformar o ato sexual mesmo consensual, em algo repulsivo, nojento e invasivo.
Violência sexual não é sobre sexo
Importante compreender que estupro não é sobre sexo, é sobre dominação, humilhação e poder, necessário sempre frisar que o estupro é um crime cometido por homens misóginos, que sentem prazer em causar dor e sofrimento ao gênero feminino, não tendo qualquer relação com a troca que é o ato sexual. No entanto, mesmo sabendo disso, sendo uma vitima de violência sexual talvez durante uma relação sexual consensual você possa experienciar alguns gatilhos, seja um cheiro, um toque, um gesto, ou todo o conjunto que forma o sexo consensual, você ainda não tem como saber, mas poderá estabelecer alguns limites.
Como lidar com o trauma e retomar a sua sexualidade
O primeiro e mais importante em sua vida após uma violência sexual, seja qual for, é buscar ajuda profissional. Talvez ela passe a ser algo constante em sua vida, e certamente te preparará para o momento em que você decidir retomar a sua vida sexual, mas esse momento deverá ser uma decisão unicamente sua, sem pressa, sem sentimentos de obrigação.
Outro passo que poderá ser de muita importância, é dialogar com mulheres que passaram pela mesma violência que você. Existem terapia em grupos com mulheres em órgãos que atendem vitimas de abuso sexual, o apoio mutuo e a troca que esses espaços tendem a possibilitar, te auxiliarão muito durante seu processo de recuperação. Ouvir as experiências, medos, inseguranças e também os relatos das mulheres sobre a retomada de suas vidas sexuais após a violência, te ajudara quando decidir que é a hora de retomar sua sexualidade.
Escolha um parceiro(a) em quem você possa confiar
O momento de transar novamente além de demandar muita segurança, conforto, confiança e certeza de sua parte, também necessitara que exista muita paciência, carinho, cuidado e compreensão por parte de seu (a) parceiro (a).
Ele ou ela precisara ser sensível à sua realidade, entanto, cabe somente a você a decisão de se abrir ou não com a pessoa escolhida por você. Sobre essa questão, sua decisão deve priorizar a forma em que você se sentirá mais confortável, talvez você erre em sua escolha de não contar, e as coisas desandem, mas é a sua história, e esta tudo bem se não rolar de imediato.
As questões de confiança passam pela segurança que você sente com a pessoa que escolheu para esse momento. Mesmo que sua escolha seja não contar ao parceiro(a) a sua história e a importância desse momento de retomada do sexo em sua vida, é importante que você seja quem delimitara como a relação sexual deverá ocorrer. Aliás seu corpo pertence a você, e a decisão de como e até que ponto outras pessoas podem tocá–lo é uma decisão única e exclusivamente sua em qualquer momento da sua vida, independente do assunto em questão aqui nesse texto.
Defina seus limites e vá sem pressa
Esse momento poderá ser um grande desafio, então não tenha pressa, priorize um espaço onde você se sentirá segura e confortável. Tenha ciência de que mesmo que esteja se sentindo confortável com a decisão de retomar sua sexualidade a dois, talvez ainda exista áreas do seu corpo em que você ainda não esteja preparada para receber toques. Então, seja clara com o(a) parceiro(a) sobre os limites do seu corpo, não precisa detalhar sua historia, e caso tenha decido não contar, defina seus limites mesmo assim, e caso decida parar, não hesite, pare, diga não.
Compreenda que você não tem nenhuma obrigação de interagir emocionalmente e sexualmente com ninguém, não importa o quanto a pessoa demostre te amar, desejar e apoiar, se sentir que não é o momento, é porque não é. Um(a) parceiro(o) que te respeita, e que respeita os corpos das outras pessoas, que entende o que é consentimento, irá te compreender e aceitar sua decisão sem questionar, do contrario, essa pessoa não é a pessoa certa para, nem para ninguém.
Não se prenda ao que não deu certo
Caso as coisas não tenham acontecido como você pretendia, saiba que a decisão de tentar já foi um passo e tanto. Você rompeu uma barreira enorme e, aprendeu mais sobre você, talvez ainda demore um tempo até você se sentir pronta novamente, ou confiar em alguém novamente, mas lembre-se de dar um passo de cada vez. Tente estabelecer um sistema de apoio, nele você pode incluir além da analista, pessoas em quem você confie, literaturas que trabalham o empoderamento feminino.
Serviços que especializado em atendimento a mulheres vítimas de violência:
Centros Especializado de Atendimento à Mulher: Os Centros de Referência de atendimento à mulher, são espaços de acolhimento e atendimento psicológico e social, trabalham o fortalecimento e empoderamento de mulheres vítimas de violência, e caso haja necessidade, realizam encaminhamentos jurídico e ambulatorial,
Serviços de Saúde Geral e Serviços de Saúde voltados para o atendimento dos casos de violência sexual e doméstica: Esse serviço conta com equipe multidisciplinares capacitados para atender mulheres vítimas de violência, inclusive presta auxílio para interrupção de gravidez prevista em lei.
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