A invisibilidade do cuidado em saúde de mulheres lésbicas
Olá, pessoal! Você já parou para pensar sobre a saúde de mulheres lésbicas, seus anseios, demandas, vivências, práticas? Então, desde que me debrucei em estudar saúde integral da população LGBTTQIA+, confesso que o fato de não ter estudos consolidados no Brasil e no mundo sobre saúde de mulheres lésbicas, ocasionou um estranhamento e inquietações.
O Ministério da Saúde em 1º de dezembro de 2011, instruiu a Política Nacional de Saúde Integral LGBT, desde a implementação até hoje, muitas situações, opiniões e pensamentos ainda continuam enraizadas no sistema de saúde, profissionais, universidades e nas mulheres lésbicas.
Comecei a trabalhar no Serviço de Assistência Especializada de DST/Aids do centro de São Paulo, entre atendimentos e percepções, observei um baixíssimo número de mulheres lésbicas realizando testagem para HIV, sífilis, gonorreia, candidíase, hepatites B e C ou procurando consultas para ginecologista. Com isso, entre minhas andanças como profissional de saúde comecei a conversar com algumas amigas lésbicas, outros profissionais de saúde, usuárias dos serviços de saúde e estudantes de cursos da saúde.
A realidade da saúde de mulheres lésbicas
Entre as relações sexuais e amorosas de mulheres lésbicas, o fato de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) é encarado como algo distante, sendo relacionado apenas para relações heterossexuais e penetração vaginal.
Segundo alguns profissionais da saúde, existe um desconhecimento por parte de mulheres lésbicas quanto à necessidade do uso de camisinha em brinquedos sexuais, quando é compartilhado com a parceira e isso favorece a vulnerabilidade frente as IST´s. Existem poucas tecnologias para a prevenção de IST para mulheres lésbicas, o que potencializa ainda mais a vulnerabilidade, pois existe falta de interesse em pesquisas e investimentos para demandas deste público.
Segundo Araújo (2019) são identificados alguns tabus em relação ao exame preventivo para o câncer do colo do útero, principalmente em relação a estereótipos de gênero, como aquelas que são mais masculinas, pois têm sexo sem penetração. Dessa forma, têm receio com relação ao preventivo, devido ao especulo. Porém, profissionais de saúde não são preparados para estas particularidades.
Confesso que nas primeiras indagações realizadas nas entrevistas semiestruturadas, fiquei perplexo com a falta de sensibilidade e conhecimento sobre demandas da saúde de mulheres lésbicas, que relataram alguns incômodos durante atendimentos, principalmente com relação às consultas com ginecologistas.
A política do Ministério da Saúde recomenda uma abordagem através do registro da orientação sexual e identidade de gênero em todos os documentos do Sistema Único de Saúde (SUS), mas isso não é respeitado por alguns (muitos) profissionais da saúde, o que corrobora para perguntas que não são pertinentes para o público em questão. O que pode ser identificado na seguinte fala de uma usuária do serviço de saúde do SUS:
“Ir a uma consulta ginecológica, infelizmente não costuma ser nada agradável, pois é muito comum ver que o profissional está desconfortável com o atendimento de mulheres lésbicas. É comum mulheres lésbicas não dizerem sua sexualidade na consulta, principalmente quando uma das primeiras perguntas recebidas é: qual o método contraceptivo você usa.”
O ambiente dos cursos da área da saúde, ainda continuam em passos lentos, quando o assunto é saúde da mulher lésbica, você profissional da saúde estudou na graduação sobre o assunto? Fica o questionamento!
O que proporciona ainda mais a invisibilidade do cuidado em saúde, por parte de profissionais da saúde, como médicos e enfermeiros, que pode ser identificada na seguinte resposta:
“É comum mulheres nessas condições seguirem a consulta respondendo perguntas direcionadas a mulheres heterossexuais, isso se dá pela falta de acolhimento e até mesmo por vergonha e medo de receber um atendimento desrespeitoso.”
Este primeiro esboços sobre a saúde de mulheres lésbicas, foi para gerar um questionamento que não é só meu. Uma discussão que precisa ser gerada no âmbito acadêmico, trabalho e sociedade. O que podemos fazer para mudar este quadro? A educação permanente é a solução? O que leva a esta problemática? Espero contribuir para esta discussão ainda mais.
Até mais!
Imagem: Unsplash