Se vestir pra ficar em casa: a simplicidade difícil de entender
Poucas marcas e profissionais de moda estão entendendo as demandas do vestir das pessoas nesse momento de pandemia e de crise social, econômica, ecológica e humanitária.
Estamos assistindo alguns vexames públicos como a capa de maio da revista Vogue Brasil anunciando o ‘novo normal’ com a uber model Gisele Bundchen e a marca de roupas Osklen vendendo máscaras de proteção a R$ 147,00 numa espécie de ação social em que, em troca, doaria cestas básicas para a comunidade do Jacarezinho no Rio de Janeiro.
A revista Vogue, a mais poderosa e influente da área de moda, formadora de opinião e presente em muitos países, indica que o novo normal significa simplicidade, menos carão, mais essência e menos excessos.
Só que a top brasileira produzida, vestindo marcas internacionais como Chloé e Prada, fotografada na sua mansão na Costa Rica, em um ensaio feito em dezembro, que poderia ser publicado em qualquer época do ano menos durante uma pandemia, é tudo menos o retrato da simplicidade.
Já a Osklen percebeu que errou e retirou do seu e-commerce as máscaras. Uma marca rica que pratica preços exorbitantes não precisa desse tipo de ação para doar cestas básicas. Enquanto isso, há costureiras e marcas de moda pequenas vendendo esses equipamentos por, no máximo, R$ 20,00 para ter como sobreviver e não quebrar nessa pandemia.
Esses exemplos me fizeram refletir sobre a tal simplicidade anunciada pela Vogue, mas que ela mesma não sabe do que se trata. Não sabe porque a moda está acostumada com glamour, riqueza, luxo, dinheiro, viagens e nada disso combina com períodos de crise, mortes e doença. Nada disso combina com as demandas de vestir do momento: se vestir pra ficar em casa.
Se vestir pra ficar em casa
Quer algo mais simples do que roupa de ficar em casa? Só que como consultora de estilo, eu vejo que as pessoas têm muitas dificuldades para se vestir pra esse propósito.
De acordo com a psicanalista Pascale Navarri, em Moda e Inconsciente, “é a partir das roupas que vestimos que os que nos veem formam as suas primeiras impressões a nosso respeito. Trata-se de uma troca de olhares, troca em que está em jogo a necessidade mais ou menos absoluta e mais ou menos urgente, conforme a história de cada um, de ser notado, identificado, diferenciado e até mesmo admirado ou invejado”.
Só que em casa ou estamos sozinhas ou estamos com pessoas que já nos conhecem, que fazem parte do nosso cotidiano e daí, o desleixo toma conta da maior parte das nossas escolhas de vestuário. Perde-se a motivação do ‘arrase no look’ que nós, mulheres, conhecemos tão bem.
Simples and bela no conforto do lar
Olhe pro seu armário de novo e ressignifique suas roupas. Dê um novo olhar. Não setorize suas roupas em roupa de festa, roupa de trabalho, roupa de balada, de academia. Estamos todas em casa e você precisa de roupas. Não fique com pena de gastá-las. Roupa foi feita pra usar.
Pense em que peças dali tem características de roupa de ficar em casa. São confortáveis? Têm modelagem ampla, folgadinha? O comprimento permite que você se movimente livremente? O tecido estica e deixa o corpo respirar? A peça é fácil de colocar e retirar ou tem amarrações e muitos detalhes? Todos esses critérios são indicadores de conforto. Afinal, em casa é tudo o que queremos, né.
Imagem: Reprodução / Vogue Brasil