Transforme seu coração partido em arte
Há muitas formas de ter o coração partido e esse é um dos maiores, senão o maior, motivo que faz com que a vida não seja tão leve como desejamos. Ninguém vive em um mar de rosas e todos temos problemas – uns mais graves, outros mais fáceis de se encontrar uma solução -, mas somente quem passa por eles pode falar sobre sua gravidade, seu efeito no cotidiano e o quanto isso pode influenciar na sua autoestima.
Bem sabemos que ficarmos parados, olhando para os cacos, não resolve absolutamente nada. Mas o que podemos fazer?
Com esta frase inspiradora atribuída à Carrie Fisher, a eterna princesa Leia, que nos deixou em dezembro, Meryl Streep encerrou seu comovente discurso, ao receber sua merecida estatueta honorária no Globo de Ouro 2017. Sua fala foi comentada e aplaudida em todo o mundo e essa citação ficou na minha cabeça por dias como um chamado, uma provocação do bem, que talvez tenha muito a ensinar – já que Carrie sabia bem do que falava quando emitiu estas palavras de poder. Ela também tinha o hábito de transformar seus problemas em arte e usou a fama para chamar a atenção para questões de saúde mental, de maneira honesta e sem tabus.
O impacto que causou no mundo se estendeu muito além de um papel imortal e de extrema importância para a representatividade feminina em filmes de fantasia. Autora de oito livros autobiográficos, escreveu peças e monólogos e, como roteirista, adaptou uma de suas publicações, “Lembranças de Hollywood”, para o cinema em 1990, cuja personagem inspirada nela, foi vivida por Meryl, indicada ao Oscar daquele ano pela performance impecável.
Filha de pais famosos e com uma bela carreira pela frente, Carrie poderia simplesmente ocultar o que se passava em sua vida pessoal, mas fez o contrário, assumiu sua bipolaridade e, através de sua obra, conseguiu se aproximar dos fãs como poucos conseguiram, por sua franqueza e bom humor, compartilhando como aprendeu a lidar com suas dificuldades.
Mesmo partindo de forma inesperada, eternizou em seus filmes, escritos e história de vida, um exemplo de luta e coragem, fazendo da arte seu refúgio em uma jornada inspiradora para quem enfrenta problemas parecidos.
Você também pode transformar seu coração partido em arte!
APRENDENDO A LIDAR COM A DOR
São muitas as pessoas que carregam trajetórias de superação e elas estão em toda parte. A moça que estava na sua frente, na fila do caixa do supermercado, pode ser uma talentosa pintora, que começou a pintar para espantar a depressão; o rapaz que passou por você naquela esquina pode ser um herói, que venceu o câncer e hoje arranca sorrisos nos hospitais como membro do “doutores da alegria”; a garotinha que sentou ao seu lado no cinema, pode ser aquela que superou o bullying sofrido no colégio depois que começou a se dedicar ao balé de forma apaixonada.
Todos os dias cruzamos nossa história com as de outras pessoas sem saber de suas lutas – e é importante saber que não estamos sozinhos e que há motivos para acreditar.
SE NÃO VOCÊ, QUEM FARÁ?
O que me acontece ou fazem comigo, nem sempre posso impedir ou modificar, mas o que eu faço da minha dor é responsabilidade minha (como dissemos aqui). Posso e devo pedir ajuda se preciso for, mas a transformação vem de mim. Os cacos do meu coração partido não vão se juntar sozinhos – e é preciso que eu mesma dê o primeiro passo, que pode ser, simplesmente, colher inspirações.
Conheça a história da jornalista Natália Souza, criadora do blog Tua Vida em Mim. (Veja a publicação na íntegra em https://tuavidaemmim.wordpress.com/)
“Me dá uma notícia boa?
Setembro completa um ano da morte dele e nesse mês que seria para doer, decidi, antes mesmo dele chegar, que a gratidão pelo Gino ter vivido chegou primeiro. E é movida por ela que criei o blog e espalhei cartas por São Paulo. Nelas, peço que as pessoas dividam comigo uma coisa boa que tenha acontecido nos últimos tempos. Vale a descoberta de um novo sabor de sorvete, um convite de casamento, uma promoção no trabalho, uma experiência bacana. A ideia só se realiza coletivamente, mas tem um significado muito pessoal: ter muitos motivos para agradecer nesses trinta dias. E assim, coletivamente, de gratidão em gratidão, tenho certeza: uma nova primavera vai florir no meu peito.
Se você não encontrou um envelope colorido, mas está aqui, esse é o meu convite para você: escreva no seu Facebook e no Instagram uma notícia boa com as hashtags: #tuavidaemmim #umanoticiaboa e ela chegará até mim(…)”
O resultado dessa intervenção artística foi uma enxurrada de amorosas notícias e a experiência foi tão boa que, mesmo depois do encerramento do projeto, a jornalista anunciou num post de agradecimento que manterá o blog e a página no Facebook para que as pessoas possam continuar visitando sua história e para que sirva de inspiração para outros que também perderam pessoas que amam.
Este é apenas um dos milhares de exemplos que existem nesse mundão afora: pessoas que decidiram que a dor precisava passar de um jeito ou de outro e que escolheram uma forma bonita para que isso acontecesse.
Perceba que não é preciso ter algum talento nato, basta descobrir apreço por alguma atividade. O importante é que você esteja disposto a procurar o que faz o seu coração vibrar novamente (leia mais aqui). Aprender a tocar um instrumento, fazer artesanato ou, simplesmente, escrever o que sente. Pouco importa se suas anotações se tornarão livros, o que vale é ressignificar sentimentos e fazer algo que te faz bem.
Não são apenas viagens, comprar algo ou montar um negócio que podem te ajudar a sair dessa situação, mas uma ideia na cabeça e a esperança dentro do peito. É evidente que, em alguns casos, é preciso investir materialmente para se construir alguma coisa, mas aqui me refiro à construção que vem de dentro: perceber que você é capaz de realizar algo para seguir em frente.
Pode parecer tola e insensível a provocação “Junte os cacos e vá à luta!”, como se fosse fácil para quem passa por momentos difíceis dizer “vou me levantar e recomeçar”. Mas é exatamente por isso que acredito na transformação do ser humano por meio da arte, porque ela inspira, ensina, preenche e está em todo lugar.
Nossas habilidades, muitas vezes escondidas, podem ser a porta de entrada para uma vida nova. Talvez o que você precisa esteja naquela música que você, um dia, tirou no violão, naquele concurso de poesia que você não deu bola porque não se achava bom o suficiente, naquele prato que prepara com louvor ou nos desenhos que você nunca mostrou à ninguém (leia mais aqui).
Como disse Natália: “a gente sempre pode dar um novo significado à dor.” Encontre o seu talento olhando para si! Acalentando sua alma, descobrirá que seu coração partido tem conserto e que ele continua batendo por um motivo, e então será grata por ter insistido em andar pra frente.
“Que a Força esteja com você”