Coisas que aprendi tendo transtorno de ansiedade generalizada
Hoje eu vou falar sobre algumas coisas que aprendi tendo transtorno de ansiedade generalizada.
Antes de tudo, eu vou tentar resumir um pouco a minha história com a ansiedade, e explicar o porquê do título desse texto.
Bom, eu tenho ansiedade desde sempre (problemas psicológicos é ‘herança’ na minha família), tecnicamente era um nível de ansiedade ‘normal’ daqueles de ficar ansiosa pra uma prova, ou pra algum passeio específico da escola.
Não era algo que me impedia de viver.
Mas em maio de 2015 quando eu tinha 17 anos tudo mudou. Eu estava indo para a escola depois de um dia muito longo de estudos e trabalho na empresa que eu fazia Formare (programa de formação profissional desenvolvido pela Fundação Iochpe em parceria com empresas de médio e grande portes). Quando um homem com algum tipo de objeto pontiagudo me jogou no chão pedindo meu celular, me lembro de gritar por socorro mas ninguém me ouviu, eu entreguei meu celular junto com fone e sai desesperada buscando por ajuda.
Nesse dia minha vida mudou para sempre, eu desenvolvi estresse pós-traumático uma doença crônica onde a vitima possui dificuldade de se recuperar após uma cena/acontecimento assustador.
“O transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) é um distúrbio de ansiedade que se manifesta em decorrência de o portador ter sofridos experiências de atos violentos ou de situações traumáticas.”
Drauzio Varella
O fato é que a TEPT aumentou meu nível de ansiedade num grau extremo onde eu tenho crises constantes de pânico e medo por qualquer coisa, e pode ser qualquer coisa mesmo, de ir à padaria a fazer uma apresentação no trabalho.
É só eu ficar tensa, que fico me martirizando ou até com medo de dar tudo errado (tecnicamente na minha mente já deu errado).
Eu faço tratamento psiquiátrico e psicológico desde 2018, sim eu demorei 3 longos anos para buscar ajuda (eu tinha muita vergonha e medo de falar sobre o assunto) e eu vou explicar o porquê mais abaixo nesse texto.
De todas as coisas que vivi nessa longa luta de anos contra a ansiedade eu separei algumas coisas importantes que eu gostaria de compartilhar com alguém que provavelmente esteja lutando contra esse mal também.
Antes de começar gostaria de ressaltar que nada vale mais que um profissional da área, procure sempre ajuda médica!
O que aprendi com o transtorno de ansiedade generalizada
1. Você só tem você
Esse é o mais doloroso. Na sua crise de ansiedade as 3 da manhã quando você estiver com os olhos cheios de lágrimas a única pessoa que estará ao seu lado será você mesma. A única pessoa que vai entender suas dores e o porquê dói vai ser você mesma, por isso eu aconselho se acostumar com sua própria companhia.
Eu não digo isso de maldade, mas no geral só a gente sabe o que a gente sente. Você pode ser super popular e ter vários amigos e agora estar pensando “nossa que amargurada” de mim, mas a verdade é que numa crise, quando o desespero bate, a única que está sentindo é você!
Quando a respiração fica ofegante e o único pensamento que vem a sua mente é: ‘meu Deus eu vou morrer!’ Só você vai estar sentindo, então aprender que você não pode se acostumar com a ideia de ter sempre alguém do lado é essencial para se acostumar com o seu próprio apoio e tentar se acalmar e “se colocar no colo” nesse momento vai ser importante.
Então seja gentil consigo mesmo sabendo “se agradecer” e se auto entender.

Lembrando novamente que: NADA SUBSTITUI UM PROFISSIONAL, então em casos de crise de transtorno de ansiedade generalizada procure um pronto-socorro e para tratamento um psicólogo + psiquiatra, ok?
2. Nem todo mundo vai te entender
Um dos meus maiores erros quando eu tinha 17 anos e parei de ir nas festinhas de “adolescente” da minha cidade porque eu estava com fortes crises de pânico com medo de sair de casa eu aprendi duas coisas importantes sobre isso:
- Primeiro era cobrar empatia das minhas amigas da época, eu achava que elas tinham que me entender, mas conforme os anos passaram eu entendi que nem eu entendia o que estava acontecendo na minha mente, como eu poderia cobrar empatia de alguém?
- E segundo, se eu não sabia lidar, elas muito menos. e quando eu amadureci, isso não mudou. As pessoas num geral não sabem lidar com pessoas que possuem problemas psicológicos, talvez porque uma parte ache que seja frescura, e outra porque tem medo de falar sobre o assunto. Não sei, ainda sigo em busca da resposta para essas questões.
Logo, eu conclui baseado em minhas experiências que as pessoas não sabem o que está acontecendo em nosso interior, sendo assim não posso cobrar empatia de ninguém.
Mas isso não quer dizer que você que sofre com doenças psicológicas tenha que “forçar” relações com as pessoas, é muito importante conversar abertamente sobre seus sentimentos com as pessoas que se importam com você! Essas que valem a pena.
Prepare as pessoas mais próximas do que fazer quando você estiver passando por algum dia ruim, ou difícil, até mesmo semanas, quem estiver disposto a aprender serão as pessoas que vale a pena manter por perto. E de novo, não force nada que tenha que ser natural.
As pessoas que não entenderem (como as minhas amigas da época) não são pessoas que merecem ficar sua vida. Por isso, é tão importante aprender a contar apenas com você mesma.

3. Falar é importante
Quando eu era mais nova eu tinha muito medo de falar da minha luta contra a ansiedade abertamente (ainda é difícil), mas eu entendi com o tempo que É MUITO NECESSÁRIO!
No nosso país, e acredito que não seja uma exclusividade do Brasil, ainda é um tabu GI-GAN-TES-CO falar sobre esse assunto.
Mas se você sofre disso, levante sua bandeira! Ninguém é fraco por falar sobre isso, e pedir ajuda, pelo contrário, pedir ajuda é um ato enorme de coragem!
Eu demorei muito pra buscar ajuda, a sociedade sempre tenta fazer você acreditar que doenças psicológicas são uma frescura, e eu tentava tampar minhas dores com coisas supérfluas.
Até que em 2017 eu quase perdi o emprego com uma crise de ansiedade dentro da empresa que eu trabalhava, meu gestor da época me pediu para que eu buscasse ajuda psicológica, tecnicamente foi uma “chamada do bem” e hoje eu agradeço por isso, me fez entender a importância e a mudança da terapia na minha vida, eu com certeza sou outra pessoa!

4. É importante ter fé
Você que está lendo esse texto, eu não sei se você tem religião, ou se acredita em algo maior. Mas no meu caso, foi importante ter algo em que acreditar, algo para me segurar.
Eu acredito em Deus, e eu não posso deixar de mencionar como o Seu amor me salvou.
Estou abrindo meu coração nesse momento, e eu já pensei diversas vezes em desistir de tudo, minha mente cria várias limitações no meu dia a dia, e eu constantemente luto contra mim mesma, a fé me ajuda a enxergar além do horizonte e me alimenta com esperanças por um amanhã melhor.
Todavia, você não precisa seguir algo maior ou seguir religiões para ter fé.
Fé é acreditar! E acreditar que tudo vai ficar bem, é imprescindível.

5. Isso não te define como pessoa
Você não pode deixar a ansiedade te definir, e o que você “pode” ou não fazer.
Tente se arriscar nas coisas mais simples possíveis, e quando você perceber vai estar vencendo grandes desafios!
Eu por exemplo, tinha um bloqueio de andar a noite sozinha por conta da PSTD, comecei a estudar inglês a noite, FOI UM BAITA DESAFIO, nos primeiros dias alguém ia comigo, depois comecei a ir sozinha, até conseguir me virar.
Não digo que hoje eu vou para onde eu bem entendo, e também não estou dizendo que você deve sair por aí sem nenhum tipo de cautela, mas que o planejamento pode te ajudar a encontrar saídas para alguns medos.
O importante aqui é pensar que essa doença não te define, você ainda é dona de si!

Dica extra:
Eu sempre uso o GIF abaixo para me ajudar na respiração quando as coisas ficam difíceis:

Gostaria de concluir esse texto sobre transtorno de ansiedade generalizada, com um pedido para você está lendo eu sei que as coisas não andam fáceis e tudo o que anda acontecendo é desafiador pra todos nós, mas você está fazendo um ótimo trabalho, pense em todos os seus dias ruins, você já sobreviveu a 100% deles, então não se perca nessa estrada.
Você é forte demais. Eu acredito em você!
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