Armário-cápsula: uma proposta pra simplificar a sua vida
No meu texto em que pensei o futuro da moda e das roupas depois da pandemia “Minimalismo: uma tendência pós-Covid-19”, abordei brevemente o conceito de armário-cápsula. Acho que ele, apesar de ser uma invenção da década de setenta da lojista inglesa, Susie Faux, ou seja, não é uma novidade, tem tudo a ver com o momento pelo qual passamos. Estamos revendo ou, pelo menos, refletindo sobre a maneira como consumimos e produzimos, o modo como os países crescem sem respeitar a natureza e o próprio homem, que vem dando sinais de esgotamento.
Na moda, o sistema da fast-fashion (moda barata, de pouca qualidade com novidades toda semana) já vinha sendo repensado muito antes da Covid-19. Uma resposta foi o slow fashion. Mas outras iniciativas como lowsumerism, consumo consciente, compre do pequeno e locavorismo, entre outras, vieram também para incentivar um modo de viver mais desacelerado, de retorno à comunidade, de valorização da vida simples. Podem não terem nascido diretamente ligados à moda, mas também são sobre essa indústria que é a segunda mais poluente do mundo, só perdendo para a do petróleo.
Hoje, vou me aprofundar no armário-cápsula e explicar no que consiste esse conceito que promove um guarda-roupa enxuto com peças atemporais, que combinem entre si e que durem muito (mais qualidade, menos descarte). Se você curte a ideia ou se identificou com essa proposta minimalista, vem comigo pra saber mais.
Tudo sobre armário-cápsula
Feito pra uma estação
Em primeiro lugar, tenha em mente que o conceito foi criado para durar, sem alterações, por uma estação. Por exemplo, você monta o seu armário-cápsula pensando em como quer se vestir para o inverno. Mas se vestir pro inverno brasileiro é bem diferente do que pro europeu, local em que o conceito foi inventado, né.
Lá, há estações muita marcadas e por isso as peças precisam ser alteradas de acordo com cada estação. Aqui, no Brasil, não temos estações tão marcadas então não será preciso fazer modificações de peças por conta do frio intenso, por exemplo. As alterações podem ficar por conta do calor forte como acrescentar mais partes de cima, por exemplo.
Os benefícios: pra quem é?
Apesar de eu achar que o armário-cápsula não seria, a princípio, pra todo mundo, que existem perfis de pessoas pra ele como quem tem menos necessidade de variedade, eu acho o conceito interessante pra pensar uma vida com menos excessos.
Não dá pra negar que a proposta de ter a vida simplificada tanto pra decidir o que vestir quanto pra manter um guarda-roupa menor é sedutora. E não é só isso. Os benefícios também são o de ficar mais criativa já que há que se extrair o máximo do que se tem, se tornar uma consumidora menos impulsiva e mais ponderada economizando dinheiro e usar só aquilo que gosta muito e que reflete o seu estilo pessoal.
Outros casos de quem pode se beneficiar do armário-cápsula são as pessoas que têm um dress code profissional rígido e muito diferente do seu estilo pessoal e quem vai ter alguns meses atribulados pela frente e não quer pensar em roupa.
Quantas peças têm?
A palavra cápsula pode assustar se você acha que de um dia pro outro vai ter que viver com 20 peças. Mas te digo pra não ficar obcecada com números. Em geral, a proposta delimita entre 20 a 40 peças, incluindo sapatos e casacos, mas não contando lingerie, roupa de dormir, para atividades físicas, festa e acessórios. Você pode montar o seu aumentando esse número se achar mais adequado. Vá experimentando e vendo o que se adapta melhor ao seu estilo de vida.
Como começar?
A partir do seu armário principal, faça uma seleção bem criteriosa de peças funcionais, versáteis, práticas e que expressem o seu estilo. A ideia é que todas as peças possam ser usadas de muitas maneiras diferentes, inúmeras vezes e conversem entre si. Ao escolher, tenha em mente seu estilo de vida, perfil de estilo e necessidade de variedade.
Por exemplo: Quando for escolher as peças pense em versatilidade. Sendo assim, adianto que calça, saia e short/bermuda são mais versáteis do que vestido e macacão. Se você não é tão formal, prefira uma jaqueta a um blazer. Se você mora num lugar quente, melhor optar por mais blusas a suéteres.
Os básicos, aqueles essenciais que você não vive sem e repete sem cansar (falei mais sobre isso nesse texto), podem ser as peças iniciais que vão ser a base do seu armário-cápsula. São os itens que você usa com mais frequência e que por isso é interessante que tenham mais qualidade. Atente para caimento, estilo e tecido. É bom também que sejam de cores fáceis de combinar pra coordenar com os looks mais ousados.
Como montar um armário-capsula?
Depois de ter considerado as atividades para qual a cápsula deve estar preparada, crie um perfil de estilo reduzido, específico e detalhado. Você pode fazer uma lista dos elementos que quer que estejam na sua cápsula como tipo de peças, texturas, tecidos, modelagens e cores. Pense sempre que esses elementos devem coordenar entre si.
É importante salientar que peças neutras e lisas são mesmo mais fáceis de combinar, mas caso elas não sejam a base do seu estilo, você pode se entediar rápido da sua cápsula. Inclua também peças divertidas para dar bossa. Arrisque-se!

A partir daí, monte uma estrutura básica e estipule quantas peças você terá de cada categoria (jeans, blusas, tênis, etc.). Considere o que você suja mais e que precisa lavar com frequência para acrescentar mais quantidade dessas peças que, em geral, são as partes de cima. Também assegure que haja um bom equilíbrio entre cores neutras e fortes e peças básicas e especiais para ampliar suas possibilidades de combinações.
Exemplos:
- Partes de baixo: 6 (Jeans- 2/Pantalona-2/Saia- 2);
- Partes de cima: 20 (Blusas sem manga: 5/Blusas com manga: 5/Blusa com manga comprida: 3/ suéteres: 3/ Jaqueta: 1/Blazer: 2/Casaco: 1);
- Calçados: 4 (Sandália: 1/Sapato sem cadarço: 1/Bota: 1/Tênis: 1).
Detalhe mais as peças da estrutura básica como o tipo de modelagem da calça, a lavagem do jeans, a cor da blusa, o modelo de blazer, etc.
- Jeans: uma calça flare com lavagem escura e uma calça reta com lavagem média;
- Pantalona: uma preta e uma cinza/ Saia: uma midi, evasê musgo e uma reta, curta em couro preta;
- Blusas sem manga: 1 regata preta de cetim, 1 blusa de algodão branca, 1 blusa vinho em linho, 1 listrada p & b em malha e 1 marinho com botões em viscose.
Escolha uma paleta de cores
Ter uma paleta de cores ajuda muito para que as peças sejam coordenáveis entre si. Em um armário de tamanho normal, trabalha-se com seis a 12 cores. Mas como estamos falando de um armário-cápsula, recomendo que você escolha até nove cores que combinem entre si e reflitam seu estilo. Mas lembrando sempre que esse não é um número rígido. Tudo depende se você é uma pessoa mais colorida ou menos.
Se você for uma pessoa mais monocromática e minimalista, por exemplo, talvez não precise de mais do que seis cores, sendo uma funcionando como neutra, duas como principais e três como destaque. As principais representam a essência do seu estilo. São as suas preferidas e aquelas que você se vê usando com frequência. As de destaque adicionam variedade ao visual. Logo, é bom que elas combinem com as principais e com a neutra. Melhor será se as cores de destaque combinarem entre si também. A cor neutra vai dar apoio e compensar outras cores. Sempre a escolha depois que decidir pelas principais e as de destaque.
Agora é sua vez de arregaçar as mangas e escolher as peças que vão compor a sua cápsula. Lembre-se de não ser muito rígida. É sempre possível revisar e reavaliar a sua cápsula durante o caminho e fazer os ajustes necessários, acrescentando do seu armário principal ou retirando da cápsula peças que você esteja percebendo que não rende como pensou. O importante é extrair o máximo com o mínimo de peças e facilitar suas decisões na hora de se vestir.
Imagem: Unsplash