Vamos falar de amor líquido, sim
Por que tiramos as mãos da massa da solidificação do amor?
Um dia alguém disse que as pessoas deixam de cuidar do que elas já pensam ter. O pior dessa frase é que ela é repleta de verdade, ainda mais quando encaixamos essa frase no contexto das relações interpessoais.
Muito se fala na suposta liquidez do amor, e que as paixões andam mais temporárias do que jamais se imaginou. E as pessoas encontram a culpa em tudo: na modernidade, na tecnologia, nas redes sociais, nos aplicativos de paquera, nas baladas, no amor livre, na poligamia, e até na breguice.
Menos nelas mesmas.
Quando falo do último culpado apontado por uma grande parcela da sociedade, a “breguice” do amor, penso, automaticamente, que o amor não tem estilo, que o estilo mais aproximadamente correto é o amor cultivado. Obviamente quando nos faz bem o suficiente mantermos o amor de uma determinada pessoa em nossa vida cotidiana.
Chamo atenção também para que observem que não me refiro aos relacionamentos amorosos onde a vida a dois passa a não dar mais tão certo, sem tentarmos supor aqui um motivo, e aí o que era um casamento se torna uma relação amorosa apenas de amizade. Nesses muitos casos o amor se transforma, mas ainda permanece sendo existente.
O que muitas vezes não observamos é que nós é quem permitimos que o amor se liquidifique por falta, ou vergonha, das pequenas mas importantíssimas sutilezas do dia a dia. E o que usamos como desculpas contra, poderíamos usar a favor do amor. Como?
Aquela mensagem inesperada dizendo que estava pensando na pessoa. Ou com um trecho de uma música que te faz lembrar a pessoa amada. O envio de uma foto do objeto que você viu na rua de um bichinho, ou personagem, que a pessoa gosta muito.
Uma frase carinhosa, mesmo sabendo que a pessoa está em horário de trabalho, mas que assim que tiver um tempinho, e puder olhar o celular, irá ler – isso se a pessoa não olhar e ler na hora por perceber que a mensagem vem de você.
Grude um poema na geladeira, mesmo que seja com aquele imã da farmácia da esquina. Ou deixe ao lado da cama sem a pessoa perceber.
São várias as formas de aquecer um coração que te gosta e cultivar esse sentimento tão bonito e atemporal. Inclusive dizendo “estou aqui, pode contar comigo”, “estamos juntos” e fazer valer na prática essas frases.
Que não continuemos batendo o amor no liquidificador da vida achando que assim iremos espalhá-lo pelo mundo, numa espécie de poesia assistencialista disfarçada de sei-lá-o-quê.
Mas que o cultivemos, pois dentre os inúmeros alimentos do coração, e da alma, ele ainda é o mais bonito e essencial.
Ingredientes temos, e o estoque só depende de nós.
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