Precisamos falar sobre as vítimas de estupro em Aleppo

Seis anos de guerra. Não basta ter medo da morte, da violência, da dor de perder um filho, uma amiga ou um marido. Não basta ter que testemunhar sua população ser submetida a ataques de bombas enquanto passa fome. Não basta se preocupar com a falta de recursos médicos, correndo o risco de falecer sem nenhum tipo de assistência. Não, ainda assim não ficou horrível o suficiente. Ainda temos vítimas de estupro.
O conflito que cria vítimas de estupro
Ser mulher virou sinônimo de perigo. Será que a culpa é delas? Elas fizeram por onde para se tornarem vítimas de estupro? Veja, são meninas que costumam cobrir seus corpos e usar burca. Muitas são devotas de uma religião forte e seguem suas regras à risca, com toda a fé que têm. Mas, que fé que conseguirá tirá-las desse momento de sofrimento? É possível sair de cabeça erguida dessa barbaridade? Ah, não. Espera… elas não saem vivas dela.
São homens que entram em suas casas, e as estupram na frente de toda família. Depois que estão satisfeitos, elas não servem para mais nada. Então, são assassinadas.
O sofrimento e a perturbação interior de uma mulher que, além de temer pela própria vida, deve temer pela violação de seus corpos, é absurdo. O machismo chegou a um ponto em que os parentes dessas vítimas de estupro estão pedindo permissão às autoridades religiosas para poderem matar suas esposas antes que os soldados as estuprem. Chegamos a um ponto de que o abuso virou certeza, e muitas delas preferem morrer a serem submetidas a isso.
A carta, o apelo ao mundo. O desabafo.
Veja aqui a íntegra da carta de uma enfermeira, que não foi identificada, que mostra o desespero das mulheres com a possibilidade de caírem nas mãos destes “animais do exército sírio”, e se tornarem vítimas de estupro. Ela é a prova de que não é só a guerra que está matando as mulheres e suas famílias. O machismo também:
“Sou uma das mulheres em Aleppo que em breve serão violadas. Não há mais armas ou homens que possam ficar entre nós e os animais que estão prestes a vir, o chamado Exército do país. Eu não quero nada de você. Nem mesmo suas orações. Ainda sou capaz de falar e acho que as minhas orações são mais verdadeiras do que as suas. Tudo o que peço é que não assuma o lugar de Deus e me julgue quando eu me matar. Eu vou me matar e não me importo se você me condenar ao inferno! Estou cometendo suicídio porque não quero que meu corpo seja alguma fonte de prazer para aqueles que sequer ousavam mencionar o nome de Aleppo dias atrás. E quando você ler isso saiba que eu morri pura apesar de toda essa gente.”
Não dá pra ficar parada
Hoje não tem frase final de efeito, não tem reflexão empoderadora. Tem luto, tem tristeza, desespero. Tudo o que quero é rezar por essas mulheres e suas famílias, mandar energias positivas para que todas tenham bastante fé, força e coragem.
Quero pedir a todas que façamos uma corrente para lutar cada vez mais contra esse machismo que, além de ser mera corrente ideológica, tem a capacidade de matar. Vamos nos unir, em primeiro, para mandar força para essas vítimas de estupro, orar por elas. Depois, sigamos em frente, e lutemos ainda mais forte.
Vai ser necessário.
Imagem: Pinterest